segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (10)

Depois de deixá-la em casa, parqueia o carro na garagem com a dificuldade reservada aos retardatários. A noitada lhe enchera as medidas. Tanta coisa mudara de repente e a seu favor, que chegava a ter medo da felicidade que sente.
Passa da meia-noite. Está cansado. Só pensa em vestir o pijama e se jogar na cama.
Ao abrir a porta do apartamento, se surpreende com a luz acesa na sala. Sentada em frente da televisão, a filha Raquel.
Ouvira decerto a chave girar na fechadura. Por isso, com ar sonolento, se volta para ele.
“ Pai ! como demorou !”
“ Minha filha, que bobagem ficar até essa hora de pé...”
“ Tava preocupada, pai.”
“ Pois tou em casa, são e salvo...”
Procura conter-se, por mais que o patrulhamento filial o irrite.
Sem dizer palavra, Raquel o olha fixamente.
“ Bem, se você quer continuar a assistir o programa, nada em contra. Eu vou me deitar.”
Dito isto, faz um aceno de adeuzinho de boa noite e se dirige para o corredor.
“ Ficou com ela até essa hora, não foi ?”
Álvaro ignora a frase da filha. Muito tarde para cair na esparrela.
Em poucos passos, entra no quarto, e fecha a porta com cuidado. Como se não quisesse denotar o aborrecimento que experimenta.
No amplo leito conjugal, irá rolar insone por um tempo imprecisado.A ponto de levantar-se afinal para tomar comprimido de um tarja preta.
*
Acordou atrasado por causa do remédio. Do banheiro, ouve a campaínha tocar. Não tarda muito e escuta as vozes de Zélia e Eudóxia.
A um tempo, fica surpreso e enternecido. Não contava com tanta pontualidade, mas reconhece o esforço da moça em respeitar o combinado. Não pode, por outro lado, deixar de impressionar-se com aquele sinal de correção, sobretudo após o que acontecera entre os dois.
*

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