sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (19)

Na penumbra o olhar passeia sobre a pele cor de jambo do colo. Admira o cálido brilho da jovem epiderme, sem outros atavios que o próprio viço a enfeitar-lhe o corpo.
Enquanto em silêncio a contempla na sua louçania, carinhoso se demora em mirá-la. A terna, atenta visão tem, por força das circunstâncias, de distribuir-se no espaço, mas tal não o impede de abandonar-se com deleite àquela particular visita aos encantos da mulher amada.
Em breves, amorosas, embevecidas incursões os seus olhos mergulham nas delicadas, quase insinuadas formas cujo aprendizado é para ele agradável e incessante sucessão de surpresas.
Sente, subreptício, o sedutor calor da excitação a percorrer-lhe o peito. Inquieto, temeroso de imprevistas consequências, busca desviar as olhadas.
Será um esforço vão, pois as quase surripiadas vistas têm atrações que mexem com ele, e o arrastam para debruçar-se em outras sempre mais fortes e cativantes.
Então o acomete o desejo não só de envolvê-la em abraços apaixonados, mas também de acariciá-la com a tentativa meiguice dos despertares.
Com sorriso que beira o tristonho, ele logra conter-se. As contingências da vida o forçam a tomar a estrada na noitinha de domingo, deixando para trás o recanto escolhido para as primeiras experiências da mútua entrega do casal. Carece de ter cuidado nas curvas do caminho. Naquela volta ao Rio tal prudência não é metafórica, embora, em certos momentos lhe seja humanamente impossível abafar e ignorar a felicidade que ali está a seu lado, e, quase imperceptivelmente, ressona tangida pelos inefáveis, inesquecíveis ímpetos de maldormidas noites de uma lua-de-mel antecipada.

* *

Nenhum comentário: