É difícil assistir ao debate entre os quatro candidatos ao governo do Rio de Janeiro e não confranger-se com a decadência do Estado.
Sua incômoda presença não dispunha de pulpito, mas estava por toda a parte. Não só no comportamento dos candidatos: contra Sérgio Cabral (PMDB), o governador em exercício, e folgado líder nas pesquisas de opinião, três desafiantes que, ao invés de privilegiar as propostas, optam pelos ataques àquele que ameaça ganhar no primeiro turno.
São três os adversários: Fernando Gabeira (PV), que por ora parece sombra de quem quase derrotou Eduardo Paes, e dois nanicos, Fernando Pelegrino (PR), que substituíu o ficha-suja Anthony Garotinho, e Jefferson Moura (PSOL).
Será necessária muita fortaleza de ânimo para continuar acreditando nas perspectivas do Rio, e a fortiori, após o espetáculo proporcionado pelos senhores candidatos no debate da Bandeirantes.
Depois de ouvir o discurso do governador e as acusações dos seus adversários, como poderá o espectador evitar uma impressão de lassitude, quase depressão, diante do cenário desenhado perante ele ?
Ouve-se a exposição de Cabral e nela se reconhece algum progresso no estado – as UPPs e as UPAs assomam como inegáveis avanços. No entanto, não se pode reprimir a perplexidade diante de o que candidato Pelegrino chamou as não-respostas do Governador. Chegou este, inclusive, a servir-se de direitos de resposta, dados com liberalidade pela Band, sem contudo responder ao âmago da increpação, que é o gritante conflito de interesses de sua esposa, advogada do Metrô e da Supervia.
Outros ataques que calaram fundo foram os relativos ao nível da educação – o fato de o Estado estar em penúltimo no índice de aproveitamento, apesar de ter o segundo PIB do Brasil -, ao meio ambiente, com os desabamentos na Ilha Grande em Angra dos Reis, e aos salários dos professores (o cabo eleitoral de Cabral ganha quase o dobro de um mestre-escola).
Também vieram à baila os vídeos do jovem que emula o índio Juruna, com o seu gravador. Leandro dos Santos de Paula, segundo a Folha, não tem ideia da repercussão das gravações na internet. Chamado de “otário” e “sacana” pelo governador, e ouvindo de Lula que tênis é “esporte da burguesia”, como o seu distante modelo o favelado Leandro expõe uma face oculta do poder. Em verdade, o comentário presidencial e os epítetos de Cabral não costumam frequentar as anódinas tomadas da publicidade oficial. Daí, a não-resposta do governador ao candidato Peregrino, quanto às próprias observações, que ficam no ar, irrespondíveis e sobretudo incômodas.
Talvez o único momento em que o favorito e líder nas pesquisas Sérgio Cabral saíu do sério se deve a seu principal contendor, Fernando Gabeira. Confrontado pelo candidato do PV por seu decreto que teria implicações nos desabamentos do primeiro do ano em Angra dos Reis, além de sua estranha ausência do cenário da catástrofe nesse primeiro dia, Cabral não trepidou em acoimar a Gabeira “que estava fazendo turismo, passeando na Ilha Grande, e passou por lá para dar uma faturadinha”.
Se a situação do Rio se nos mostra, em todas as suas disparidades e contrastes, talvez o próprio fosso entre o governador, que postula a reeleição, e os seus ora faltos de voto contendores, haja contribuído e não pouco para que o debate fosse menos de ideias do que de acusações, muitas delas muito próximas de bate-bocas e de altercações de insultos. Quiçá Gabeira tenha sido o único a intentar preservar alguma civilidade no embate, mas decerto não bastou para escorraçar a baixaria da refrega.
O que estaria quiçá como um retrato veraz e não retocado da realidade carioca.
( Fontes: O Globo e Folha de S.Paulo )
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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