O primeiro debate para os candidatos a Presidente da República, organizado tradicionalmente pela Rede Bandeirantes, teve como moderador Ricardo Boechat. Participaram José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol).
Se o primeiro embate dos candidatos ao primeiro turno da eleição presidencial, em três de outubro p.f., admite comentário genérico, pode-se dizer que entre mortos e feridos salvaram-se todos. Não houve gafes maiores nem escorregadelas, nem claros vencedores e/ou perdedores na refrega.
O candidato José Serra, valendo-se de sua notória maior experiência no exercício – afinal já participara dos debates de 1º e 2º turnos do pleito de 2002, quando terçara armas com Lula (nos dois) e com Ciro Gomes e Garotinho – começou melhor do que Dilma, mas esta se recuperou nos blocos seguintes, ficando mais calma e segura.
Dada a sua posição nas pesquisas, tanto Serra, quanto Dilma preferiram colocar suas perguntas para o adversário direto. Quanto aos outros dois participantes, Marina e ainda mais o nanico Plinio Sampaio não mereceram a mesma atenção, havendo este último reclamado mais de uma vez por estar sendo discriminado.
Em matéria de oratória, a que surgiu mais articulada, foi a Senadora Marina Silva.Sem a preocupação precípua de atacar – apesar de singularizar na sua crítica a gestão pública da saúde – Marina foi a um tempo escorreita, eloquente e convincente nas suas postulações.
Já Serra e Dilma seguiram orientações necessariamente diversas. Se Dilma repisasse as comparações entre os mandatos de Fernando Henrique Cardoso – denominado como o governo anterior – e o atual (só citou nominalmente o Presidente Lula no terceiro bloco), Serra bateu nas teclas da infraestrutura (situação dos portos, aeroportos e rodovias, em decorrência da falta de investimentos) e na da saúde.
Nessa parte, em resposta a pergunta de Dilma sobre a criação de catorze milhões de empregos com carteira assinada pelo atual governo, Serra recorreu a uma imagem – não se deveria ficar olhando pelo retrovisor – e apontando habilmente o que no seu entender exigia intervenção urgente (a situação dos portos, aeroportos e estradas no país), colocou a bola na cancha da adversária.
Dilma venceria o nervosismo inicial – quando chegou a dizer que o Samu – Serviço de atendimento médico de urgência – era para atender a crianças – e mostraria segurança e domínio dos dados e números nas discussões posteriores. Só motiva algum ceticismo a sua assertiva de que a dívida pública esteja controlada, diante dos últimos incrementos da dívida bruta em relação ao PIB por força das ‘capitalizações’ do BNDES.
Quanto ao candidato Plínio de Arruda Sampaio, antigo militante do PT na ala próxima à Igreja Católica, e que poderia ser visto como o representante dos candidatos nanicos, como nada tem a perder, fez valer a própria experiência, e distribuíu notas negativas para os demais candidatos – “estou vendo aí mais convergência do que divergência” ( a respeito de pergunta e resposta entre Marina e Serra) , “estou sendo discriminado”, a propósito de não merecer atenções quer dos candidatos, quer dos jornalistas encarregados de interrogar os candidatos, e qualificando como “um horror”, o progresso feito por Lula na reforma agrária.
Dentre os dois principais candidatos, se não há claros vencedores no primeiro duelo, seria oportuno ressaltar alguns detalhes, que não terão escapado ao público assistente – que estaria nos três pontos da escala do Ibope: o mantra de Dilma no refrão do cotejo entre FHC e Lula, a negação frontal de acusações como a da desatenção do Ministério da Educação com as APAEs, e a relação de dados e estatisticas, no estilo tecno-burocrático.
Quanto a Serra, as menções à trajetória pessoal, a partir da presidência da UNE, passando pelos anos de exílio, e a sequência de cargos exercidos na administração municipal, estadual e federal, assim como no Congresso; as imagens que encapsulam conceitos (não usar o ‘retrovisor’) e a hábil referência ao conselho dado por sua filha para que sorria mais, com que respondeu ao chiste de gosto duvidoso de Plínio de ser ele hipocondríaco por ocupar-se demasiado de saúde.
Os futuros debates servirão ou não para montar no grande público o quebra-cabeça de o que realmente representa cada candidato. Dilma Rousseff, pelas vias oficiais e por aqueles que tudo fazem para galgar os estribos dos supostos vencedores, tem sido apresentada como a inexorável vitoriosa nos comícios de 2010. À medida que a campanha avança, aumenta tal febre, fundada em ser a candidata da algibeira do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, dos seus píncaros de popularidade, não teria escrúpulos, nas palavras de um jornalista, de tudo fazer para tornar o seu triunfo realidade.
São muitos na verdade os homens do Presidente e os trunfos de sua criatura que, com proficiência e sabedoria política, Lula soube banhar nas respectivas luzes. Só resta estabelecer se o contendor, desavantajado por não ter a seu favor a máquina oficial e todos os seus agregados, logrará trazer para o palco as próprias qualidades e fé de ofício. Neste capítulo, a história nos ensina que em contendas entre os poderosos de turno e os desafiantes, nem sempre a força bruta da situação prevalece.
(Fonte: O Globo)
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
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Um comentário:
Não assisti por completo mas grande parte do primeiro debate. O que presenciei foi o candidato serra batendo demais na tecla na saúde parecendo não ter outros argumentos. O tratorzinho da Dilma me pareceu muito segura e muito bem preparada. A Marina me surpreendeu positivamente apesar de muitas vezes se mostrar por demasiado conciliadora. O candidato do PSOL, apesar de sua história, me pareceu, muitas vezes, ridículo.
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