Um bom Partido (09)
A trattoria fica na área mais antiga da Barra. Há ainda mesas vagas, mas pelo número de fregueses ela sente que não seria por muito. À primeira vista, gosta do ambiente, alegre e um pouco barulhento. Tampouco o espaço se lhe afigura demasiado grande. Detesta restaurantes com enormes espaços, com aquele jeito cavernoso que anula qualquer tipo de animação e convivialidade.
Logo vê que Álvaro é figura conhecida não só pelos garçons, senão por um gordo algo confiado, que vem ao encontro do casal com a efusão que se associa aos italianos.
“ Ora, quem se vede... Que piacere em ter Você de novo aqui conosco...”, disse, enquanto os seus olhos admiravam a companhia.
“ Obrigado, Giuseppe”, balbucia, meio acanhado. “ Será que nos arranja uma boa mesa ?”
“ Ma, prego, não tem dúvida...”, responde, sem desviar a atenção da moça.
Álvaro não dá maior importância à atitude de Giuseppe, sobretudo porque aprecia a postura de Eudóxia, a quem as maneiras exuberantes do dono não afetam.
Encaminham os dois para mesa de canto. A escolha satisfaz a ambos, por sentá-los juntos em um sofá esquinado.
A luz lhes parece acolhedora. Sem a penumbra das boates, nem a iluminação agressiva de certos restaurantes, ao casalzinho o ambiente não poderia ser mais convidativo.
Depois de alguma insistência, ela acede a uma taça de chianti rosso, de que o garçom fala maravilhas. Acostumados com a cozinha italiana, dividem a entrada e a pasta al pesto.
O que mais da noitada os encanta, porém, não foi o burburinho das outras mesas, os pratos servidos com a proverbial abundância, e a leveza do chianti. Tudo isso depois recordariam como acessórios das primeiras discretas carícias, com que suavemente transformariam a própria relação.
A noite, com os seus véus e modos sedosos cuida de pô-los à vontade, trazendo-lhes a inefável sensação do encontro por fim realizado, sem mais dúvidas nem hesitações. Apenas lhes resta o desejo partilhado na indiferença do alarido que mal chega a penetrar naquele mundinho que pelas próprias artes tinham sabido construir.
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010
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Um comentário:
Muito bom. Texto encadeado numa linguagem natural e sedutotra que prende a atenção e suscita a curiosidade pelo desenrolar da história.
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