segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Uma nova Face para as manifestações ?


                            
         A liberdade tende a ser vista como perigosa e mesmo subversiva pelos regimes autoritários.  Desejada pelos povos reprimidos por ditaduras e tiranias,  sua existência é cerceada pelos regimes discricionários, que consideram vital para a  sua própria agregação a aplicação sistemática da força ou da intimidação, que consiste em uma espécie de antecâmera dos regimes autoritários, que recorrem à ameaça como um sistema que pensa possível evitar os aspectos negativos dos regimes de força servindo-se apenas do recurso ao fantasma da violência.
            A China ao receber a antiga colônia britânica de Hong Kong, desde muito habituada à democracia,  concordou em conceder a Hong Kong o privilégio dos dois sentidos, em que a ordem pudesse conviver com a  liberdade.  A presente série de manifestações dos habitantes de Hong Kong é uma demonstração, sem dúvida penosa, de quão dificil se prefigura para Beijing respeitar os dois princípios cardeais que constituem a base conceitual que preside à integração da antiga colônia  na China continental.
              Ordem e democracia não são princípios antagônicos para os partidários da liberdade, mas assim parecem ser vistos pelas autoridades de Beijing.  
              Como se sabe, devido à declaração sino-britânica, acordo firmado antes que Hong Kong voltasse ao domínio chinês, o território é região semi-autônoma, governada pelo princípio de "um país, dois sistemas", que garante aos cidadãos  liberdades inexistentes no restante da China - ao menos até 2047.
                Mas a série de protestos, desencadeada pelo intento da representante de Beijing, Carrie Lam,  de admitir a extradição de cidadãos de Hong Kong para a China Continental fez a antiga colônia explodir em demonstrações que verberavam a contradição entre a nova legislação e o princípio da liberdade abraçado pelo texto da declaração que fundara a volta de Hong Kong para a China continental. Neste último domingo, os ativistas denunciaram o retrocesso das liberdades e a ingerência crescente de Beijing, que rejeita eleições realmente livres. Também Londres foi acusada de omitir-se.
                  No entanto, a reivindicação de ativistas  em obter a nacionalidade britânica ou de outro país da Commonwealth, que reúna colônias britânicas,  mostra que uma parte ao menos dos demonstrantes não confia em que seja possível que a China possa chegar a uma composição, dentro do espírito do princípio um país - dois sistemas. Dados os antecedentes, e o atual regime imperante, quem se anima a deles discordar?

( Fonte: Folha de S.Paulo )  

Nenhum comentário: