A liberdade tende a ser vista como
perigosa e mesmo subversiva pelos regimes autoritários. Desejada pelos povos reprimidos por ditaduras
e tiranias, sua existência é cerceada
pelos regimes discricionários, que consideram vital para a sua própria agregação a aplicação sistemática
da força ou da intimidação, que consiste em uma espécie de antecâmera dos
regimes autoritários, que recorrem à ameaça como um sistema que pensa possível
evitar os aspectos negativos dos regimes de força servindo-se apenas do recurso
ao fantasma da violência.
A China ao receber a antiga colônia
britânica de Hong Kong, desde muito habituada à democracia, concordou em conceder a Hong Kong o privilégio
dos dois sentidos, em que a ordem pudesse conviver com a liberdade. A presente série de manifestações dos
habitantes de Hong Kong é uma demonstração, sem dúvida penosa, de quão dificil
se prefigura para Beijing respeitar os dois princípios cardeais que constituem
a base conceitual que preside à integração da antiga colônia na China continental.
Ordem e democracia não são
princípios antagônicos para os partidários da liberdade, mas assim parecem ser
vistos pelas autoridades de Beijing.
Como se sabe, devido à declaração
sino-britânica, acordo firmado antes que Hong Kong voltasse ao domínio chinês,
o território é região semi-autônoma, governada pelo princípio de "um país,
dois sistemas", que garante aos cidadãos
liberdades inexistentes no restante da China - ao menos até 2047.
Mas a série de protestos,
desencadeada pelo intento da representante de Beijing, Carrie Lam, de admitir a extradição de cidadãos de Hong
Kong para a China Continental fez a antiga colônia explodir em demonstrações
que verberavam a contradição entre a nova legislação e o princípio da liberdade
abraçado pelo texto da declaração que fundara a volta de Hong Kong para a China
continental. Neste último domingo, os ativistas denunciaram o retrocesso das
liberdades e a ingerência crescente de Beijing, que rejeita eleições realmente
livres. Também Londres foi acusada de omitir-se.
No entanto, a reivindicação
de ativistas em obter a nacionalidade
britânica ou de outro país da Commonwealth, que reúna colônias britânicas, mostra que uma parte ao menos dos
demonstrantes não confia em que seja possível que a China possa chegar a uma
composição, dentro do espírito do princípio um país - dois sistemas. Dados os
antecedentes, e o atual regime imperante, quem se anima a deles discordar?
(
Fonte: Folha de S.Paulo )
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