Cumprimento a
jornalista da Folha, Mônica Bergamo,
bem como o jornal - que a enviou e sua equipe à Caracas, para entrevistar
Nicolás Maduro, e ao fazê-lo, tenho presente, com minha modesta experiência, o
que isso representou em termos de esforço de reportagem, e de perseverança,
tanto da entrevistadora, quanto de seu grupo de apoio, para arrostar todas as
dificuldades que hoje pressupõe uma conversação aberta com o homem forte da
Venezuela, e sucessor do caudilho Hugo Chávez Frias, morto em 2013.
Terá valido tanto esforço e tanto
empenho, de parte do grupo de representantes da Folha? Tenho para mim que, a
despeito de muitas respostas que mais nos parecem panfletos que muita vez ou
pisoteiam, ou deformam aquela frágil criaturinha que é a verdade, de uma certa
inegável maneira, é reportagem que marca um currículo pela coragem, habilidade
e pertinácia da repórter, ainda que realizada em condições adversas, i.e. no
reduto do ditador, que ainda é o Palácio de Miraflores, que tantos outros
presidentes constitucionais abrigou no passado.
Todo ditador perde muito em termos de
contato com a realidade, e o cerco imposto ao atual homem forte da Venezuela,
por mais entrincheirado e por conseguinte afastado de contato real e permanente
com a realidade de seu País, não será
exatamente um fator que contribua para a maior inserção do homem Nicolás Maduro no dia a dia do venezuelano.
Não é apenas a hiperinflação, que é uma decorrência do seu desgoverno e daquele
que o antecedeu, o moribundo Hugo Chávez, que lhe daria as chaves do Palácio.
Considerar hoje a Venezuela uma
democracia já é apresentá-la noutro plano. E por aí, afora, a sutil deformação da verdade, ou a
diferenciação nos pesos da Justiça.
É democracia um país que "congela"
a eleição para a Assembleia Nacional, e a que substitui na prática por outra
Câmara, eleita pelo voto das favelas e dos bairros pobres, como a
própria empresa europeia que cuidou da eleição respectiva reconhece que a
fraude presidira à sua eleição?
É difícil, por isso, determinar por quanto tempo a ditadura chavista de
Nicolás Maduro irá subsistir. Há uma fabulação constante nessas ditaduras, que
é cuidada pelo respectivo entorno do ditador. Todos os ditadores vivem nessa peculiar
realidade. Seu afastamento do dia-a-dia pode ser tal, que será capaz de
desconhecer como vive realmente o seu povo. Ele pode até mesmo considerar-se um democrata...
(
Fonte: Folha de S. Paulo - A oposição na Venezuela é pior do que Bolsonaro,
afirma Nicolás
Maduro )
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