sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A Crise do Partido Conservador


                          
        O partido conservador vem experimentando uma crise que reflete, em grande medida, os excessos e os disparates do atual Primeiro Ministro Boris Johnson. O respeitado irmão de Boris, Jo Johnson, alegando divergências irreconciliáveis entre a lealdade à família e o interesse nacional, pediu ontem demissão do cargo que ocupava no governo - Ministro de Negócios, Energia e Indústria Estratégica - assim como do próprio mandato de deputado do Reino Unido.
            Ele já passara pelos governos de David Cameron (ministro das Universidades e da Ciência) e Theresa May  (ministro dos Transportes). A decisão do importante parlamentar deixou em estado de choque o Partido Conservador e abalou o próprio Primeiro Ministro. Não obstante,  Boris Johnson continua indo em frente, em uma imagem que vai crescentemente se assemelhando àquela macabra (ou bizarra) corrida de lemmings em um tropel rumo ao próximo abismo.

              Nesse contexto, é de intuir-se que a decisão de Jo Johnson tenha abalado o Primeiro Ministro, que visitava uma academia de polícia em West Yorkshire, e pensara lançar a campanha eleitoral dos tories. Não obstante, Boris Johnson disse em seu discurso que nada abalaria a sua convicção de separar o UK da União Europeia, acrescentando melodramaticamente  que preferia "morrer em uma trincheira" a pedir o adiamento do Brexit.
                Sem embargo da vazia grandiloquência, esse quadro se vai insinuando com crescente probabilidade, eis que a Oposição conseguiu aprovar uma lei, nesta terça-feira, que obriga o Governo a pedir um adiamento para o Brexit - que é previsto para 31 de outubro - se não conseguir um acordo com Bruxelas nas próximas semanas.

                 Na terça-feira, dia três, ele expulsou  21 parlamentares de seu partido, por se recusarem a apoiá-lo na própria estratégia. Entre esses, o neto de Winston Churchill, seu ídolo, e dois ex-ministros.
                    De acordo com  o jornal The Guardian, o governo parece estar cada vez mais perdendo o controle do "cronograma de saída", que está virando uma incômoda ficção, com Johnson visivelmente incapacitado a articular uma reação, caso o Labour rejeite novamente - como fez na terça-feira - a proposta de antecipação de eleições, que será de novo apresentada nesta segunda-feira. Consoante o Guardian, o discurso na academia, "desmedido e incoerente" seria prova disso.
           
         A renúncia de Jo Johnson também deve dar munição ao Labour para mais ataques contra o governo. "Boris Johnson impôs uma ameaça que fez com que nem mesmo seu irmão confiasse nele", declarou a deputada trabalhista Angela Rayner.
                          Tal demissão também ocorre em meio a várias renúncias de membros do Partido Conservador que integram o governo - todos citando divisões no Partido. Caroline Spelman, ex-presidente da legenda que se rebelou contra o governo na quarta-feira, disse que não poderia continuar no Parlamento apoiando uma saída sem acordo, estando consciente sobre o que acontecerá com o emprego dos ingleses.
                              Ex-banqueiro  de investimentos e jornalista, Joe Johnson, de 43 anos,  também se havia demitido do gabinete em novembro de 2018, por divergências em relação à condução da saída do Reino Unido da UE.
                          Toda essa agitação política, ao que parece, não demoveram o líder do Labour, Jeremy Corbyn de não aceitar a proposta de Johnson com vistas a antecipar as eleições gerais para quinze de outubro p.f.  Nesse sentido, o Primeiro Ministro chamou o líder da oposição de "covarde" por fugir da disputa. Nesse contexto, os trabalhistas preferem interpretar a agressividade de Johnson como uma provocação para induzir o Labour a votar no sentido de o que o governo conservador deseja.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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