terça-feira, 3 de setembro de 2019

Johnson ameaça convocar novas eleições


                        

           O primeiro ministro Boris Johnson afirmou ontem que convocará novas eleições para catorze de outubro, se o seu gabinete sofrer derrota no Parlamento, por causa do Brexit. Nesse sentido, representante de seu governo assegurou que se os deputados conservadores rebeldes se unirem à oposição para derrotar Johnson na votação desta tarde,  Johnson apresentará amanhã, dia quatro de setembro, uma moção pedindo eleições antecipadas.
           Esse anúncio se choca com a declaração feita anteriormente por Johnson de que não convocaria eleições antecipadas por  confiar na possibilidade de um acordo com a União Europeia. "As chances de chegar a um acordo aumentaram" disse Johnson, em comunicado, após reunião de urgência  de seu gabinete.
           " Mas se há algo que pode nos impedir nessas negociações é a sensação em Bruxelas de que os deputados  podem encontrar uma maneira de invalidar o referendo, ou que os deputados votem com ( o opositor ) Jeremy Corbyn, em favor de outro adiamento sem significado."
            Johnson também ameaçou expulsar do partido os deputados conservadores que se aliarem à  Oposição para impedir uma saída brusca da UE, como vem ameaçando fazer o premier.
               Como se sabe, Johnson chegara ao poder no fim de julho, sucedendo a Theresa May. Desde que assumiu, ele tem assegurado que vai retirar o U.K. da UE dentro do prazo de 31 de outubro, com ou sem acordo.
              Radicalizando na própria tática, na semana passada ele anunciou a suspensão do Parlamento (após arrancá-la através de visita à Rainha Elizabeth). A aludida suspensão valerá entre a segunda semana de setembro e o dia catorze de outubro, para permitir que o novo Executivo apresente seu programa político.
               No entanto, seus adversários - cujo número cresceu - denunciaram a suspensão com uma manobra para impedir qualquer  ação contra esse Brexit radical. Essa decisão, cujo autoritarismo se afigura manifesto, levou seus adversários a denunciá-la pelo que ela é, vale dizer impedir de qualquer maneira qualquer ação parlamentar contra um Brexit radical. Dada a sua natureza, não espanta que a grande maioria do povo inglês a vem denunciando  sob as palavras "Parem o golpe de Estado".

               Como seria previsível, a revolta popular levou ao esquentamento dos ânimos contra o gabinete Johnson que pelo modo abrupto e nada confiável com que vem agindo. Dissipou-se, pelo caminho, a fragilíssima maioria de um deputado de que dispunha, até o início dos trabalhos o ministério Johnson.
                Preparando-se para a sessão parlamentar de hoje, três de setembro, Corbyn, líder do Labour, reuniu seus colaboradores mais próximos em Salford, noroeste da Inglaterra. Antecipando parte de seu discurso, Corbyn deve pedir cooperação. "Trabalharemos com outras Partes para fazer todo o necessário para afastar nosso país do precipício."

                 Moção de censura. Dentre as medidas possíveis, os trabalhistas  consideram entrar com uma moção de censura contra Johnson.  Se bem que o gabinete haja perdido a maioria, a medida ainda parece inviável, porque os demais partidos oposicionistas não confiam no líder dos trabalhistas. Por isso, é mais provável que a aliança vá recorrer a um procedimento técnico para retirar do gabinete Johnson o controle da agenda parlamentar, para tentar fazer aprovar lei que determine novo adiamento do Brexit, inicialmente programado para março do corrente ano e prorrogado por duas vezes.
                     O deputado trabalhista Hillary Benn antecipou ontem o projeto de lei que os parlamentares tentarão apresentar na tarde do dia de hoje. No entanto, segundo ele, antes será preciso que o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, ponha em votação uma moção parlamentar que abra caminha para a Oposição assumir o controle da agenda parlamentar.

                         A lei tentará impor ao Governo Johnson um prazo de até dezenove de outubro, para fechar um acordo com a União Europeia. A data coincide com o encerramento da próxima cúpula de lideres do bloco comunitário, que começará dois dias antes. Se até lá não houver acordo ou a aprovação de um Brexit duro,  o projeto em tela exige que o primeiro ministro peça a Bruxelas um adiamento de três meses. Não está garantido que a iniciativa venha a receber o necessário apoio parlamentar, mas o deputado Michael Gove, aliado de Johnson, insinuou que mesmo que aprovem uma lei, o governo pode não cumpri-la.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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