Favorito a
vencer as próximas eleições para o Knesset, o parlamento judaico, Bibi
Netanyahu pensa poder permitir-se a promessa de anexar grande parte da margem
ocidental do Jordão, terra palestina com certeza, mas que na sua hubris o Primeiro Ministro israelense
julga poder tratar como favas contadas.
A última guerra entre judeus e
palestinos permitira que Israel se apossasse de larga faixa de terra árabe-palestina,
e o vindouro movimento indicado pelo primeiro ministro israelense mostra
implicitamente a fraqueza da parte palestina, como se os donos milenares das margens
do Jordão e suas terras pudessem ser delas afastados para ceder ulteriores
espaços para a gente israelense. Nessa verdadeira tragédia para o povo
palestino, hoje despojado de grandes condottieri
como o foi Iasser Arafat, cujo ultimo momento de resplendente brilho vimos
nos jardins da Casa Branca, em mais um espetáculo em que se pensara realizável
o sonho palestino. Naquele instante que parecera histórico a muitos, Arafat
cumprimentou a Rabin, grande adversário a quem o líder palestino pensara, em
momento de júbilo e também de paz, realizar aquele gesto singelo, mas de
relevância extrema, que o icônico chefe
israelita considerava ainda inadmissível, como a maneira pela qual exprobou o
seu alto companheiro israelense não deixava muitas dúvidas.
Os filmes e as fotografias
sobre aquela cerimônia, nos verdes
espaços dos jardins da Casa Branca, se os passarmos hoje constituem mementos de
uma grande e coletiva ilusão. Todos os sonhos e todos os abraços ou
cumprimentos semelhavam a muitos não mais um devaneio estivo, mas uma estranha
realidade que reunia personagens antes contrapostos, e que tão fortes pulsões
transmitia que parecia ser como um coro grego que diante dos contemporâneos
mostrava um sonho real que se mostrava na realidade de apertos de mão e de
papéis prontos para serem firmados, papéis esses que transformariam inimigos em
partícipes de um projeto comum. Era a Paz naquele tempo, sob as benesses da
Superpotência.
A História, essa regente
cruel de erros e ilusões, parecia comparecer para mostrar que o impossível era
suscetível de transformação, e em que o morno ceticismo não podia ser
entrevisto naquela festa campestre em que inimigos se metamorfoseavam em
amigos, ou pelo menos em companheiros de jornada, sob as centelhas de mãe
esperança.
Hoje, se revisto em velhos
filmes, há de parecer com cenas escavadas no tempo, que surgem em quadros que
nos parecem d'altri tempi, com aquela
pátina que as antigas películas nos trazem. E, sem embargo, com a exceção de Isaac Rabin, ceifado por um disparo assassino, muitos desses personagens não se
assemelham aqueles dos pomposos movietones
das ocas promessas dos eternos triunfos do século passado.
Agora, a promessa desse
líder ameaçado pela Justiça de ter a carreira política truncada, nos traz um
cruel simbolismo, como se as aspirações palestinas, de que afinal Justiça se
faça, se seria o caso de lançar-se ou a corrida para o passado, apegando-se
a momentos que não mais estão entre nós, ou a correr e reviver a forte imagem
da Justiça afinal realizada, que em tais momentos, sem risos nem palmas, reaparece como força rediviva, que não pode
ser apagada e muito menos escarnecida.
( Fontes: cobertura nos
jardins da Casa Branca da reunião de israelitas e palestinos, com Bill Clinton como anfitrião; jornais cinematográficos
do século XX; Arafat cumprimenta Rabin; cenas dos jardins da Casa Branca)
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