terça-feira, 10 de setembro de 2019

A Promessa de Netanyahu


                                  

         Favorito a vencer as próximas eleições para o Knesset, o parlamento judaico, Bibi Netanyahu pensa poder permitir-se a promessa de anexar grande parte da margem ocidental do Jordão, terra palestina com certeza, mas que na sua hubris o Primeiro Ministro israelense julga poder tratar como favas contadas.
             A última guerra entre judeus e palestinos permitira que Israel se apossasse de larga faixa de terra árabe-palestina, e o vindouro movimento indicado pelo primeiro ministro israelense mostra implicitamente a fraqueza da parte palestina, como se os donos milenares das margens do Jordão e suas terras pudessem ser delas afastados para ceder ulteriores espaços para a gente israelense. Nessa verdadeira tragédia para o povo palestino, hoje despojado de grandes condottieri como o foi Iasser Arafat, cujo ultimo momento de resplendente brilho vimos nos jardins da Casa Branca, em mais um espetáculo em que se pensara realizável o sonho palestino. Naquele instante que parecera histórico a muitos, Arafat cumprimentou a Rabin, grande adversário a quem o líder palestino pensara, em momento de júbilo e também de paz, realizar aquele gesto singelo, mas de relevância extrema,  que o icônico chefe israelita considerava ainda inadmissível, como a maneira pela qual exprobou o seu alto companheiro israelense não deixava muitas dúvidas.
                Os filmes e as fotografias sobre aquela cerimônia,  nos verdes espaços dos jardins da Casa Branca, se os passarmos hoje constituem mementos de uma grande e coletiva ilusão. Todos os sonhos e todos os abraços ou cumprimentos semelhavam a muitos não mais um devaneio estivo, mas uma estranha realidade que reunia personagens antes contrapostos, e que tão fortes pulsões transmitia que parecia ser como um coro grego que diante dos contemporâneos mostrava um sonho real que se mostrava na realidade de apertos de mão e de papéis prontos para serem firmados, papéis esses que transformariam inimigos em partícipes de um projeto comum. Era a Paz naquele tempo, sob as benesses da Superpotência.
                   A História, essa regente cruel de erros e ilusões, parecia comparecer para mostrar que o impossível era suscetível de transformação, e em que o morno ceticismo não podia ser entrevisto naquela festa campestre em que inimigos se metamorfoseavam em amigos, ou pelo menos em companheiros de jornada, sob as centelhas de mãe esperança.
                     Hoje, se revisto em velhos filmes, há de parecer com cenas escavadas no tempo, que surgem em quadros que nos parecem d'altri tempi, com aquela pátina que as antigas películas nos trazem. E, sem embargo, com a exceção de Isaac Rabin, ceifado por um disparo assassino, muitos desses personagens não se assemelham aqueles dos pomposos movietones das ocas promessas dos eternos triunfos do século passado.
                       Agora, a promessa desse líder ameaçado pela Justiça de ter a carreira política truncada, nos traz um cruel simbolismo, como se as aspirações palestinas, de que afinal Justiça se faça, se seria o caso de lançar-se ou a  corrida para o passado, apegando-se a momentos que não mais estão entre nós, ou a correr e reviver a forte imagem da  Justiça afinal realizada, que em tais momentos, sem risos nem palmas,  reaparece como força rediviva, que não pode ser apagada e muito menos escarnecida.

( Fontes: cobertura nos jardins da Casa Branca da reunião de israelitas e palestinos, com  Bill Clinton como anfitrião; jornais cinematográficos do século XX; Arafat cumprimenta Rabin; cenas dos jardins da Casa Branca)

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