Não
é um bom anúncio, mas creia-me, leitor, não o faço com prazer. Pois a dengue é
um estranho sinônimo de subdesenvolvimento. Não é que para essa terra, a antiga
Santa Cruz, o nome ela o deve à sua principal exportação, tão logo Cabral e
seus conterrâneos lusos por cá passaram, a princípio vestidos em costumes de
golas altas, nada adequados para o calor imperante. E é com a canícula que o Aedes Aegypti volta...
A
cada verão - e, nos trópicos, essa estação não dá muita importância às regras
europeias em termo de sazões. É o tempo do calor, o mosquito vetor já dispõe de
suas defesas para atuar não só no período estival, mas também em outras estações
que lhe dão a necessária entrada para valendo-se dos descuidos privados e das
ausências públicas, para puxar um tapete sujo que, graças à aliança entre a
miséria e a doença, se prodiga em uma diversificação sinistra - que torna os
trópicos ainda mais tristes, e a terrível dengue - que nossos antepassados não
conheciam - vai assumindo caras hediondas, trazendo a zika (que ao afetar as grávidas, faz com que os bebês nasçam sem
cérebro) a chicungunha (que se
porventura contraída, traz dores mil às juntas dos infelizes enfermos), e
para os menos imaginosos, a conservadora dengue,
que, ao que dizem, já reponta em muitas partes, com febrão e dores.
Como já faz tempo que essa guerra não
declarada existe, enquanto persistem as campanhas, os esquadrões de
mata-mosquitos, e toda a parafernália social que repercute nos jornais e nos
anúncios que se espalham nas ruas ensolaradas, a atmosfera sob o jugo do
astro-rei, traz a canícula e aquela modorra que a gente do lugar já conhece
bem, enquanto uns grupos espalhados vêem com olhar vazio mais um dia
passar...
( Fontes: O
Estado de S. Paulo, leituras vadias )
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