sábado, 21 de setembro de 2019

PF indicia treze pessoas por Brumadinho


                       
      A Polícia Federal  indiciou sete funcionários da Vale do Rio Doce e seis da empresa de consultoria Tuv Sud por falsidade ideológica e apresentação de documentos falsos, e por três vezes, em processo que investiga o rompimento da represa de Brumadinho em janeiro, que deixou 249 mortos e 21 desaparecidos (na verdade, muito provavelmente mortos, ainda que não encontrados).
         Em outra ação, também sobre a ruptura da estrutura, a P.F. já tem condições de apresentar indiciamentos, no mínimo, por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, contra investigados ainda não definidos.
          Entre os indiciados por falsidade ideológica e apresentação de documento falso está o executivo da Tuv Sud na sede da empresa na Alemanha, Chris Peter Mayer, responsável pelas operações da companhia no Brasil. A Tuv Sud atua na área de consultoria e é responsável pela emissão do laudo da estabilidade da barragem.
            Nenhum integrante do alto escalão da Vale está entre os indiciados. Segundo o laudo, esse grupo se restringiria a responsáveis ou funcionários dos setores de geotecnia de gestão de riscos e geotecnia operacional da empresa.
              As investigações apontaram que todos os funcionários da Vale indiciados tinham conhecimento sobre problemas de estabilidade da empresa e, ainda assim, não fizeram nada para evitar a tragédia. "Os setores sabiam identificar riscos, mas não sabiam o que fazer depois disso", afirmou o delegado Luis Augusto  Pessoa.
               Os crimes foram cometidos, conforme as investigações, em  junho e por duas vezes em setembro de 2018, durante o envio de documentos a autoridades da Agência Nacional de Produção Mineral (DNPM) e da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM). O crime de falsidade ideológica é punido com prisão de 3 a 6 anos. No caso, multiplicado por três.

                   Ao longo das investigações foram ouvidas oitenta pessoas.  As apurações de crimes contra a vida e ambiental prosseguem. Conforme o Delegado Pessoa, o fato de a diretoria da Vale não ter sido indiciada nesta fase não indica que isto não poderá ocorrer. O que falta para a conclusão das investigações em relação aos crimes contra a vida e ambientais são perícias sobretudo em relação à possibilidade de liquefação da barragem, principal linha de investigação da P.F. Os motivos que podem ter levado a isso estão sendo averiguados. "Para homicídio culposo já há elementos para indiciamento. Para doloso é preciso aguardar as perícias", pontuou o Delegado Pessoa.

                   Cooperação internacional.   A P.F. vai buscar acordos de cooperação internacional para ouvir o executivo Chris Peter Mayer, da Tuv Sud, na Alemanha. O representante da empresa se recusou a prestar depoimento à corporação. "Não tenho jurisdição lá", disse Pessoa. Mayer foi indiciado porque as investigações mostraram que o executivo foi consultado por Arsênio Negro Júnior, consultor contratado  da Tuv Sud também indiciado, sobre a emissão de laudo que não correspondia à real situação da barragem.

                     A suspeita é de que a empresa tinha interesse em manter negócios com a Vale. Entre 2017 e 2018, cinco contratos renderam à empresa de consultoria R$ 6,4 milhões. Sobre os indiciamentos, a Vale informou que "tomou conhecimento" e "avalia-rá detalhadamente o inteiro teor do relatório policial antes de qualquer manifestação de mérito, ressaltando apenas que a empresa e seus executivos continuarão contribuindo  com as autoridades e responderão às acusações no momento e ambiente oportunos." A Tuv Sud não vai comentar o assunto.

                     O advogado Marcelo Leonardo, que representa Cristina Malheiros e Andrea Leal Loureiro Dornas, afirmou que o indiciamento é atividade provisória. "Vamos aguardar a manifestação do Ministério Público", disse.  Augusto Arruda Botelho, da defesa de Makoto Namba, André Yassuda e Marlísio Cecilio de Oliveira, alegou que "o relatório apresentado pela Polícia Federal falha ao interpretar conceitos básicos sobre a engenharia de barragens e chega, portanto, a uma conclusão equivo-cada". 
                          A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos demais acusados."

( Fonte: O Estado de S. Paulo )   

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