A atitude caudatária do
governo Obrador, do México, e a crescente crueldade da Administração Trump não
me parecem maneiras de resolver de forma civilizada e de países que tenham
posição soberana na questão do fluxo migratório do México para os Estados
Unidos.
De início, (a) surpreende a tentativa política de resolver por uma muralha -
muros podem separar propriedades privadas, mas são medidas políticas (b) que encaminham a solução do eventual
controle de fluxo migratório acaso julgado excessivo por uma ou as duas partes
interessadas.
Quanto ao que concerne à alternativa
(a), a construção do muro (ou
muralha) que é o tipo de construção em geral empregado pelo país que deseja controlar
ou impedir o ingresso de correntes estrangeiras em seu território -de que são
exemplos clássicos o Império Romano e a China imperial (ambos na sua fase de
declinio) e que não se mostrou eficaz nesses dois casos. Quanto à alternativa (b), de caráter político, que busca
controlar o fluxo julgado excessivo, por medidas políticas, adotadas pelas
Partes interessadas, que devem caracterizar-se
pelo mútuo consenso.
De início, o muro foi visto pelo atual presidente
estadunidense como a solução mais lógica, e foi ao demonizar os migrantes
mexicanos prometendo construir muralha que lhes barrasse a passagem que o candidato Donald Trump impactou, de
início,parte dos eleitores republicanos, no processo das primárias, com que
consolidaria a respectiva candidatura à Casa Branca.
Mais
tarde, como a construção desse muro representa enorme investimento,
Trump passou a priorizar medidas políticas. Com tal objetivo, obteve do novo Governo
de López Obrador importantes concessões políticas, ao lograr que o governo
mexicano passe a regular o fluxo de migrantes mexicanos para os EUA, a par de
formar barreira para as demais correntes centro-americanas, a que antes o
México não obstaculizara a respectiva passagem pelo próprio território, se o
intúito era voltado para reduzir ou mesmo barrar a migração de
centro-americanos e mexicanos para os Estados Unidos.
Há uma série de outras
providências da Administração Trump que não condizem com a política
estadunidense de estrito respeito aos direitos humanos, não só dos respectivos
cidadãos, senão daqueles que vêm de países que mantêm relações de amizade com a
Grande Potência. No que parecem ser medidas voltadas para desencorajar a
imigração de camadas mais pobres de Latino America, o presidente Trump não tem
hesitado a introduzir - recuso-me a dizer políticas - orientações que
desrespeitam a ética de um país civilizado, como separar os filhos menores de
seus genitores, nas correntes migratórias, que tangidas pela pobreza e a falta
de oportunidade de trabalho em seus países - como é o caso de muitos dos países
irmãos de Centro-América - vem pleitear
a entrada no que acreditam seja o paraíso estadunidense. Esse afastamento dos filhos dos respectivos
pais - e não me estou referindo a adolescentes, mas sim a crianças, tanto de
colo, quanto em tenra idade não pode ser considerado senão uma medida de
crueldade extrema, que tenderá decerto a afetar as características psicológicas
e emocionais dessas pobres, infelizes crianças e adolescentes. Não se pode
decerto qualificar senão de cruel e, mesmo, irresponsável - porque põe em risco
o crescimento e o equilíbrio psicológico da criança de tenra idade, submetida a
tal mesquinhez, que jamais caracterizara a postura das administrações desse
país que são, por assim dizer, a porta de entrada da democracia americana.
Os Estados Unidos - como
tantas outras nações - e o Brasil se inclui nesse amplo segmento, como país acolhedor
do imigrante, que vem nesses casos decerto tangido pela pobreza e dificuldades
materiais, e que tem representado - e não creio que haja quem ouse refutar essa
realidade - um apoio precioso, em termos de segmento populacional integrado -
tanto para a Superpotência, quanto para o meu país, que sempre recebeu, como
foi igualmente a tradição estadunidense - o imigrante como quem venha participar,
na medida de suas possibilidades, no respectivo projeto nacional.
Não quero crer, de resto, que tal procedimento
acima citado - e como o poeta latino da Antiguidade, só se pode exclamar horresco referens - não vá ser abolido
com a devida celeridade dos manuais da burocracia migratória estadunidense.
( Fontes: Publius Vergilius
Maro (70 - 19 a.C.); The New York Times )
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