sábado, 7 de setembro de 2019

O fluxo migratório para os Estados Unidos


                           
        A atitude caudatária do governo Obrador, do México, e a crescente crueldade da Administração Trump não me parecem maneiras de resolver de forma civilizada e de países que tenham posição soberana na questão do fluxo migratório do México para os Estados Unidos.

             De início, (a) surpreende a tentativa política de resolver por uma muralha - muros podem separar propriedades privadas, mas são medidas políticas (b) que encaminham a solução do eventual controle de fluxo migratório acaso julgado excessivo por uma ou as duas partes interessadas.
              Quanto ao que concerne à alternativa (a), a construção do muro (ou muralha) que é o tipo de construção em geral empregado pelo país que deseja controlar ou impedir o ingresso de correntes estrangeiras em seu território -de que são exemplos clássicos o Império Romano e a China imperial (ambos na sua fase de declinio) e que não se mostrou eficaz nesses dois casos. Quanto à alternativa (b), de caráter político, que busca controlar o fluxo julgado excessivo, por medidas políticas, adotadas pelas Partes interessadas, que devem  caracterizar-se pelo mútuo consenso.                 

               De início, o muro foi visto pelo atual presidente estadunidense como a solução mais lógica, e foi ao demonizar os migrantes mexicanos prometendo construir muralha que lhes barrasse a passagem  que o candidato Donald Trump impactou, de início,parte dos eleitores republicanos, no processo das primárias, com que consolidaria a respectiva candidatura à Casa Branca.
                 Mais tarde, como a construção desse muro representa enorme investimento, Trump passou a priorizar medidas políticas. Com tal objetivo, obteve do novo Governo de López Obrador importantes concessões políticas, ao lograr que o governo mexicano passe a regular o fluxo de migrantes mexicanos para os EUA, a par de formar barreira para as demais correntes centro-americanas, a que antes o México não obstaculizara a respectiva passagem pelo próprio território, se o intúito era voltado para reduzir ou mesmo barrar a migração de centro-americanos e mexicanos para os Estados Unidos.
                   Há uma série de outras providências da Administração Trump que não condizem com a política estadunidense de estrito respeito aos direitos humanos, não só dos respectivos cidadãos, senão daqueles que vêm de países que mantêm relações de amizade com a Grande Potência. No que parecem ser medidas voltadas para desencorajar a imigração de camadas mais pobres de Latino America, o presidente Trump não tem hesitado a introduzir - recuso-me a dizer políticas - orientações que desrespeitam a ética de um país civilizado, como separar os filhos menores de seus genitores, nas correntes migratórias, que tangidas pela pobreza e a falta de oportunidade de trabalho em seus países - como é o caso de muitos dos países irmãos de Centro-América -  vem pleitear a entrada no que acreditam seja o paraíso estadunidense.  Esse afastamento dos filhos dos respectivos pais - e não me estou referindo a adolescentes, mas sim a crianças, tanto de colo, quanto em tenra idade não pode ser considerado senão uma medida de crueldade extrema, que tenderá decerto a afetar as características psicológicas e emocionais dessas pobres, infelizes crianças e adolescentes. Não se pode decerto qualificar senão de cruel e, mesmo, irresponsável - porque põe em risco o crescimento e o equilíbrio psicológico da criança de tenra idade, submetida a tal mesquinhez, que jamais caracterizara a postura das administrações desse país que são, por assim dizer, a porta de entrada da democracia americana.

                     Os Estados Unidos - como tantas outras nações - e o Brasil se inclui nesse amplo segmento, como país acolhedor do imigrante, que vem nesses casos decerto tangido pela pobreza e dificuldades materiais, e que tem representado - e não creio que haja quem ouse refutar essa realidade - um apoio precioso, em termos de segmento populacional integrado - tanto para a Superpotência, quanto para o meu país, que sempre recebeu, como foi igualmente a tradição estadunidense - o imigrante como quem venha participar, na medida de suas possibilidades, no respectivo projeto nacional.
                      Não quero crer, de resto, que tal procedimento acima citado - e como o poeta latino da Antiguidade, só se pode exclamar horresco referens - não vá ser abolido com a devida celeridade dos manuais da burocracia migratória estadunidense.

( Fontes: Publius Vergilius Maro (70 - 19 a.C.); The New York Times )

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