terça-feira, 24 de setembro de 2019

A difícil costura do gabinete israelense


                        
      O primeiro ministro de Israel, Binyamiu Netanyahu e o general Benny Gantz iniciaram a 23 de setembro negociações para formar entre eles um governo de coalizão em Israel. Como se esperava, a iniciativa do encontro para encaminhar a formação do governo de coalizão partiu do presidente israelenso, Reuven Rivlin. O modelo a ser seguido estaria no precedente da coalizão entre o trabalhista Shimon Peres e o conservador  Yitzhak Shamir, do Likud, entre 1984 e 1988, cada um chefiando o governo por dois anos alternados.
       Hoje a principal divergência seria quem ficará primeiro à frente do governo. O partido de Gantz, o Azul e Branco, terminou a eleição com 33 deputados, dois a mais do que o Likud, de Netanyahu, que ficou com 31 - de um total de 120 lugares. Juntos, portanto, os dois rivais obteriam maioria sem carecer de partidos menores.
         Sem embargo, a vantagem de dois deputados de Gantz se desfaz quando computados os dois blocos do Parlamento. O grupo que apóia Netanyahu é maior. A coalizão de direita do atual primeiro ministro teria recebido apoio de 55 deputados. A centro-esquerda de Gantz, chegou a ter 57 votos, incluindo os treze da Lista Árabe, que havia decidido apoiá-lo. Ontem, porém, três deputados  árabes esclareceram que não apoiariam o ex-general, tirando da oposição a vantagem...

           A política israelense é ainda mais sinuosa do que a de outros países. As mudanças de posição - inclusive estranhíssimas alianças - só são compreensíveis em cenários muito especiais.

              Em um contexto amplo, apesar da imagem simbólica de Gantz e Netanyahu apertando as mãos, a par do otimismo de Rivlin, os estrategistas dos dois partidos demonstraram ontem  que um acordo ainda está distante. Assim, uma das promessas de campanha de Gantz era a de não governar com Netanyahu: "Não vamos abrir mão do nosso direito de liderar a coalizão."

               De outra parte, vários líderes do Likud mantiveram a promessa de governar com os ultraortodoxos e de negociar em conjunto qualquer coalizão de governo. "Estou comprometido com aquilo que prometi", disse Netanyahu, após a reunião de ontem. O problema está em que Gantz representa um grupo político secular que rejeita o contubérnio com a participação dos religiosos no gabinete.

                 A par disso, pesa sobre Netanyahu o risco - e, mesmo, a ameaça - de ser indiciado ainda em 2019, como é notório, em três casos de corrupção, o que poderia inviabilizar os três últimos anos de governo, caso o premier venha a ser condenado e preso. Outra dificuldade a ser contornada é a rejeição de vários membros do Likud em trabalhar com Yair Lapid, número 2 do Partido de Gantz.

                      Prazos. Netanyahu e Gantz terão agora seis semanas para formarem uma coalizão de governo. Se não conseguirem, Rivlin pode escolher um dos dois para tentar negociar com os outros partidos - até que todas as opções se esgotem e uma nova eleição seja convocada.  "Qualquer acordo entre Gantz e Netanyahu requer  um nível de confiança mútua que eles não têm",  disse Gideon Rahat, analista do Israel Democracy Institute. Sem esquecer por fim, que há outra ameaça contra a aliança, partindo do lado do Likud e especificamente, dos prazos judiciais contra o Primeiro Ministro Bibi Netanyahu e as contas que têm que prestar com a Justiça israelense, e o seu incorruptível Procurador-Geral.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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