quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Raquel Dodge: nova pista na elucidação da morte de Marielle



           A  Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Superior Tribunal de Justiça acesso à investigação do assassínio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes para apurar "indícios de autoria intelectual" do crime por parte do conselheiro afastado do Tribunal de Contas  do Estado do Rio,Domingo Inácio Brazão.
                 Para a PGR, ele pode ter usado a estrutura de seu cargo público para tentar obstruir a investigação do caso, sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios da Capital. Procurado, Brazão classificou a suspeita como 'absurda'.     
             O parecer da PGR se baseou em informações obtidas por procuradores do Ministério Público Federal.  A Polícia Federal entrou no caso a pedido da Procuradoria-Geral da República, para apurar uma suposta obstrução na apuração  do assassinato no âmbito da Polícia Civil.  O relatório produzido pela PF  tem 600 páginas.  Em seu pedido ao STJ, Dodge observou que um dos suspeitos do crime, o miliciano Orlando de Curicica, preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) disse em depoimento que Brazão seria o possível mandante da execução. Na época, Orlando afirmou que foi pressionado por policiais da DH para assumir a autoria intelectual do crime.
                 Como Brazão tem foro privilegiado por ainda ser conselheiro do TCE-RJ, os indícios sobre sua eventual participação no crime levariam o inquérito para o STJ. Atualmente, o caso é acompanhado tanto pela Justiça estadual, quanto pela Federal, por conta da "investigação da investigação."
                  A PGR fez o pedido para ter acesso ao inquérito estadual porque depoimentos e provas obtidos pela Polícia Federal indicavam a existência de uma trama para desviar o foco da investigação da DH. Um dos personagens principais do inquérito conduzido pela delegacia é o PM Rodrigo Ferreira, conhecido como Ferrei- rinha, que afirmou ter trabalhado  como motorista de Orlando de Curicica. Ele contou à polícia ter presenciado um encontro entre o miliciano e o vereador Marcelo Siciliano (PHS), num restaurante, onde teriam reclamado que Marielle estaria prejudicando seus negócios na Zona Oeste. A advogada de Ferreirinha, Camila Moreira, também é investigada. A suspeita é de que a denúncia tenha sido parte de uma manobra para encobrir os verdadeiros responsáveis pela morte da vereadora e de seu motorista.
                       Na última sexta-feira, o ministro do STJ Raul Araújo determinou que a 28ª Vara Criminal do Rio entregue o inquérito à PGR, o que havia sido negado sob o argumento de "segredo de Justiça". Porém Dodge argumentou que a negativa "obstrui o conhecimento do promotor natural, a  procuradora-geral da República, de eventuais indícios da autoria intelectual de pessoa com prerrogativa de foro perante o Superior Tribunal de Justiça" e "mantém o grave estado atual de incerteza em relação aos mandantes do crime."
                          Dodge escreveu ainda, em sua solicitação, que o conselheiro afasta-do do TCE teria usado um funcionário de seu gabinete, o policial federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, para interferir na investigação da DH. Ele estaria por trás do falso testemunho de Ferreirinha. A PF levanta suspeitas de que o conselheiro tenha ligação com o grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime, que pode estar por trás do duplo homicídio.
                          Dodge,agora, pode pedir que Brazão seja investigado pelo STJ ou suscitar junto à corte superior um "incidente de deslocamento de competência", que significaria federalizar a investigação. A Procuradora-Geral também fez críticas ao fato de ninguém ter sido, até hoje, denunciado como mandante do crime.
                            Brazão, ao comentar a medida da PGR, disse que já prestou esclarecimentos às autoridades policiais e está à disposição para colaborar.
                              - Não sei a quem interessa insistir nesse absurdo. Já estive voluntariamente na sede da Polícia Federal na condição de testemunha e reitero minha disposição de colaborar. É muita falta de respeito com a família da vereadora e com a minha, afirmou o conselheiro.

( Fonte:  O Globo )



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