quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Hong Kong afinal retira projeto de extradição


           
      Feito o estrago, e decorrido um prazo conveniente para não ofender seja à inteligência, seja ao ego do grupo que propôs tal medida provocatória, reponta a notícia de que a governadora de Hong Kong (na verdade, uma proconsulesa da China Popular) Carrie Lam "confirmou ontem (4 de se-tembro) a retirada do projeto de lei de extradição" que desencadeara meses de protestos e lançara o território controlado pela China em sua mais grave crise desde a devolução pelo Reino Unido, em 1997.
          O anúncio foi feito durante reunião com parlamentares pro-Beijing e delegados de Hong Kong, no Congresso Nacional do \Povo da China.
           "O governo retirará oficialmente o projeto de lei para apaziguar por completo  as preocupações da população" declarou a 'governadora' Lam, em pronunciamento pela tevê.
             O projeto de lei em tela foi anunciado no início de junho, com o pretexto imediato de resolver a situação legal de um cidadão de Hong Kong que tinha matado a namorada em Taiwan e fugido de volta para o território. A proposta, contudo, foi encarada pelos ativistas pró-democracia como um pretexto para que dissidentes fossem extraditados para a China.
               Na semana passada, Lam disse a líderes empresariais que causara um "dano imperdoável" ao apresentar o projeto de lei e, se tivesse escolha, pediria desculpas e renunciaria, segundo gravação de áudio divulgada pela imprensa.
               A governadora lamentou ter hoje espaço de manobra "muito limitado" para resolver a crise, pois os tumultos se tornaram uma questão de segurança nacional  e soberania para a China, em meio às tensões com os EUA.

Reação e Crise.  Com o passar do tempo e em reação à violência da repressão policial, os protestos contra o projeto de lei cresceram e se tornaram  um clamor por mais democracia em Hong Kong. Ontem, a reação imediata ao anúncio da Lam foi de ceticismo.
                 Em entrevista à CNN, um dos líderes dos protestos, Joshua Wong, falou que a retirada do projeto não é suficiente e apenas a abertura democrática e a convocação de novas eleições levarão ao fim as manifestações de rua.
                  Há duas semanas, várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas. A operação foi denunciada por associações como tentativa da China de amordaçar a oposição após a proibição de novas manifestações.
                    Um dos detidos era o mesmo Joshua Wong, que liderara as manifestações por democracia em 2015, em onda de protestos batizada de "Revolta dos Guarda-Chuvas". Ele foi solto no mesmo dia, após pagar fiança.
                     Manifestantes estão furiosos por causa da brutalidade policial e do número de prisões de manifestantes (1183, na última contagem oficial). Por isso, eles exigem um inquérito independente.
                      "Isso não acalmará os manifestantes", afirmou ontem Boris Chen, de 37 anos, que trabalha com serviços financeiros. "Em qualquer época, as pessoas encontrarão algo com que possam se revoltar."
                        Desde que Hong Kong foi devolvida pelo Reino Unido para a China, o controle do território tem sido alternado entre dois partidos: um mais ligado à burocracia britânica e outro, à China Continental. Carrie Lam pertence ao primeiro.  O governo chinês tem bancado a governadora e expressado publicamente seu apoio. O favorito para ser o próximo governador, no entanto, deve ser Paul Chan, o responsável pelas finanças do território.Obviamente, não há nada de democrático no processo. É questão decidida a portas cerradas pelos governantes comunistas chineses.

( Fonte: O Estado de S.Paulo)

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