Feito
o estrago, e decorrido um prazo conveniente para não ofender seja à
inteligência, seja ao ego do grupo que propôs tal medida provocatória, reponta
a notícia de que a governadora de Hong Kong (na verdade, uma proconsulesa da
China Popular) Carrie Lam "confirmou ontem (4 de se-tembro) a retirada do
projeto de lei de extradição" que desencadeara meses de protestos e lançara o território controlado pela China em sua mais grave crise desde a devolução
pelo Reino Unido, em 1997.
O anúncio foi feito durante reunião com
parlamentares pro-Beijing e delegados de Hong Kong, no Congresso Nacional do
\Povo da China.
"O governo retirará oficialmente
o projeto de lei para apaziguar por completo
as preocupações da população" declarou a 'governadora' Lam, em
pronunciamento pela tevê.
O projeto de lei em tela foi
anunciado no início de junho, com o pretexto imediato de resolver a situação
legal de um cidadão de Hong Kong que tinha matado a namorada em Taiwan e
fugido de volta para o território. A proposta, contudo, foi encarada pelos
ativistas pró-democracia como um pretexto para que dissidentes fossem
extraditados para a China.
Na semana passada, Lam disse a
líderes empresariais que causara um "dano imperdoável" ao apresentar
o projeto de lei e, se tivesse escolha, pediria desculpas e renunciaria, segundo
gravação de áudio divulgada pela imprensa.
A governadora lamentou ter hoje
espaço de manobra "muito limitado" para resolver a crise, pois os
tumultos se tornaram uma questão de segurança nacional e soberania para a China, em meio às tensões
com os EUA.
Reação
e Crise. Com o passar do tempo e em reação à violência
da repressão policial, os protestos contra o projeto de lei cresceram e se
tornaram um clamor por mais democracia
em Hong Kong. Ontem, a reação imediata ao anúncio da Lam foi de ceticismo.
Em entrevista à CNN, um dos líderes dos
protestos, Joshua Wong, falou que a retirada do projeto não é suficiente e
apenas a abertura democrática e a convocação de novas eleições levarão ao fim
as manifestações de rua.
Há duas semanas, várias
figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas. A
operação foi denunciada por associações como tentativa da China de amordaçar
a oposição após a proibição de novas manifestações.
Um dos detidos era o mesmo Joshua Wong,
que liderara as manifestações por democracia em 2015, em onda de protestos
batizada de "Revolta dos Guarda-Chuvas". Ele foi solto no mesmo dia,
após pagar fiança.
Manifestantes estão
furiosos por causa da brutalidade policial e do número de prisões de
manifestantes (1183, na última contagem oficial). Por isso, eles exigem um
inquérito independente.
"Isso não acalmará
os manifestantes", afirmou ontem Boris Chen, de 37 anos, que trabalha com
serviços financeiros. "Em qualquer época, as pessoas encontrarão algo com
que possam se revoltar."
Desde que Hong Kong foi
devolvida pelo Reino Unido para a China, o controle do território tem sido
alternado entre dois partidos: um mais ligado à burocracia britânica e outro, à
China Continental. Carrie Lam pertence ao primeiro. O governo chinês tem bancado a governadora e
expressado publicamente seu apoio. O favorito para ser o próximo governador, no
entanto, deve ser Paul Chan, o responsável pelas finanças do território.Obviamente,
não há nada de democrático no processo. É questão decidida a portas cerradas
pelos governantes comunistas chineses.
(
Fonte: O Estado de S.Paulo)
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