sábado, 28 de setembro de 2019

O Episódio Rodrigo Janot


                                 

          O episódio que veio ontem a lume e passou a ser geralmente conhecido pela confissão espontânea de seu próprio causador tem múltiplos aspectos que, decerto, não jogam uma luz benfazeja sobre o respectivo autor.
               Procurador-Geral da República, por dois períodos (2013-2017), tendo o seu biênio prorrogado em outro, pela presidente Dilma Rousseff, uma distinção rara, que não foi concedida a outros procuradores-gerais.
                Agora, às vésperas de publicar suas memórias, "Nada Menos que Tudo", livro que está previsto para outubro vindouro, vem brutalmente à luz o escândalo protagonizado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Com efeito, o ex-Procurador-Geral da República Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão executadas pela Polícia Federal em sua casa e escritório, em Brasília.
                   A ordem para tanto foi dada ontem (27 de setembro) pelo Ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que atendeu pedido feito pelo Ministro Gilmar Mendes para suspender o porte de armas de Janot e impedi-lo de entrar nas dependências do Supremo.
                     A Polícia Federal apreendeu uma pistola, um tablet e um celular no aparta-mento de Janot. As ações de busca e apreensão foram decretadas no inquérito das fake news   - aberto para apurar ameaças a ministros do STF e suas famílias  - e de acordo com o Ministro Moraes, tiveram o escopo de verificar a "eventual existência de planeja- mento de novos atos atentatórios" contra Gilmar. " O quadro revelado é gravíssimo, pois as entrevistas concedidas sugerem que aqueles que não concordem com decisões proferidas pelos ministros desta Corte devem resolver essas pendências usando de violência, armas de fogo e, até com a prática de delitos contra a vida", observou Moraes.
                     Em entrevista ao Estado, Janot revelou que, em 2017, chegou a entrar armado  com uma pistola no Supremo, decidido a matar Gilmar."Não ía ser ameaça,não.  Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar", afirmou o ex-procurador.
                      Duas equipes da Polícia Federal chegaram por volta de 1d7h40 na casa de Janot, na Asa Sul.  O ex-procurador-geral acompanhou as buscas ao lado do segurança particular e de um morador chamado  pelos policiais para servir de testemunha.
                       Além de suspender o porte de armas de Janot, de impedi-lo de entrar nos edifícios do STF e de barrar sua aproximação a Ministros da Corte Suprema, Moraes também determinou o recolhimento imediato  de depoimento  do ex-procurador-geral "salvo se houver recusa", "por tratar-se  de direito do investigado ao silêncio". Rodrigo Janot preferiu não depor.
Reações. O episódio e seus desdobramentos chocaram o mundo político e provocaram reações de perplexidade. Janot  disse ao Estado de S. Paulo que a intenção de atirar em Gilmar foi motivada por ataques que o Ministro fez à filha dele.Quando era chefe do Ministério Público, Janot chegou a pedir a suspeição de Gilmar Mendes na análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista, sob o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes.
              Ao se defender, o magistrado afirmou que a filha de Janot advogava para a em-  preiteira OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e poderia ser  "credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato". A história aparece no livro de memórias  Nada Melhor que Tudo, a selançado pelo ex-chefe do MP em outubro. Na publicação, porém, Janot preferiu "não dar nome aos bois".
                A respeito do entrevero, e em tom irônico, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que "esse é o Brasil". Depois, disse  que a revelação de Janot pode afetar os investimentos privados no País. "O Brasil é um país estranho. Cada dia é uma novidade. Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar um ministro do Supremo. Quem é que vai querer investir num país desse?", perguntou Maia, em um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, sobre parcerias público-privadas.
Gilmar.  Em resposta à revelação de Rodrigo Janot, o Ministro do Supremo Gilmar Mendes  afirmou em nota, que o ex-procurador-geral deve buscar ajuda psiquiátrica e, durante entrevista, disse que não imaginava que houvesse um "potencial facínora" no comando da Procuradoria-Geral da República - Janot comandou o Ministério Público entre 2013 e 2017.
                   Em entrevista ao Estado, Janot disse  que chegou a ir ao STF armado com a intenção de matar a tiros  o ministro Gilmar. "Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar",  declarou Janot.
                    Durante entrevista em Brasília, Gilmar Mendes disse que, frente às declara- ções do ex-procurador-geral, até a atuação de Janot enquanto esteve à frente da PGR precisa ser analisada pelo País. Ele fez críticas ao modelo de indicação ao cargo, que chamou de "corporativo", e afirmou que o sistema político terá de descobrir novos critérios para a escolha do posto. "Modelo deu errado", afirmou o ministro.
                     Gilmar também afirmou que por se tratar, em sua "impressão", de um problema grave de caráter psiquiátrico", a atuação do ex-procurador atinge todas as medidas que ele solicitou e foram deferidas na Suprema Corte. "Denúncias, investiga-ções, e tudo o mais. É isso que tem que ser analisado pelo País", afirmou  o ministro Gilmar.
                      O ministro também fez comentários sobre o assunto nas redes sociais. "É difícil não imaginar os abusos cometidos  ao acusar e processar investigados", escreveu Gilmar no Twitter. "Lamento que o ex-chefe da PGR tenha sido capaz de cogitações homicidas por divergências na interpretação da Constituição."               
                      Em nota, Gilmar Mendes, que é crítico aos métodos da Operação Lava Jato, afirmou que o combate à corrupção no Brasil "justo, necessário e urgente", "tornou-se refém de fanáticos que nunca esconderam  que também tinham um projeto de poder". "Dentro do que é cabível a um ministro do STF, procurei evidenciar tais desvios. E continuarei a fazê-lo em defesa da Constituição e do devido processo legal."


( Fonte: O Estado de S. Paulo ) 

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