domingo, 15 de setembro de 2019

Israel: diante de uma Eleição Chave ?


                 

     Bibi Netanyahu, além de seus inúmeros problemas com a Lei, como chefe do Likud (direita) não é exatamente um amigo dos eleitores árabes em seu país. Essa inimizade chega ao ponto de sutileza como instalar câmeras nas salas de votação, com o escopo de intimidar o eleitor árabe. Votar em eleição organizada pela maioria judaica pressuporia já um perigoso adesismo (aos olhos dos demais palestinos), e daí o "achado" de Netanyahu para afugentar essa comunidade, que costuma preferir o absenteísmo como mostra de reação ao governo judaico.

       Os árabes-palestinos representam 21% da população de Israel, estimada em 8,7 milhões. Eles participam e elegem candidatos ao Knesset (parlamento), desde a primeira eleição,em 1949, mas têm levado tempo para conscientizar-se de que,  enquanto minoria, possam fazer em prol de sua etnia, vítimas que foram da colonização judaica.
          Apesar de que Israel seja formalmente uma democracia, há uma grande diferença em ser minoria - depois de sua longuissima presença na Palestina, como etnia dominante - com as consequências da vitória dos judeus sobre os palestinos na década de quarenta do século passado.
  
         Outro esforço que os grupos liberais-democráticos têm procurado incentivar é que o eleitor árabe não deixe de utilizar-se da arma do sufrágio para reforçar os direitos da minoria palestina no Knesset. Além das falsas abstenções decorrentes da intimidação, como essa do truque das câmeras (inventado por Netanyahu), há a impressão de que os eleitos árabes e seus pequenos partidos são discriminados, como v.g. o investimento do governo israelense pode ser oito vezes maior  para as cidades de maioria israelense em comparação com as árabo-israelenses. Nesse contexto, primo, as pessoas devem comparecer (nos centro de votação), votar nos seus líderes e encorajá-los a serem corajosos (em formar um gabinete conjunto). É de notar-se que atualmente a maioria dos eleitores árabo-palestinos (cerca de 75%) apoiaria  um governo de coalizão  entre parlamentares árabes e a centro-esquerda.
              È de notar-se que as promessas de Netanyahu - inclusive de que pretende apossar-se de boa parte da margem direita do Jordão - o que seria obviamente contra o direito das gentes, eis que se trata de terra palestina, de que Israel ocupou contra o direito internacional público e as Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (podem elas serem transformadas em letra morta?) - não têm qualquer fundamento no Direito Internacional. Nesse contexto, seria de todo o interesse da comunidade árabe-palestina, que os seus direitos sejam salvaguardados, o que decerto não ocorreria em um enésimo governo de Bibi Netanyahu, que justamente já se vangloria de que, se eleito, iria tornar realidade esse monstrengo do direito internacional público, que é a anexação manu militari de boa parte da margem oriental do rio Jordão.
               Atualmente, Netanyahu e o seu partido Likud disputam voto a voto com o general Benny Gantz,líder da aliança Azul e Branco, que, inclusive, intensificou sua campanha, nas últimas semanas, com cartazes em cidades árabo-israelenses, e com entrevistas a canais árabes.
                 Como reconheceu o candidato ao Knesset dessa coalizão, Ram Ben-Barak, ex-diretor do Mossad (serviço secreto israelense):  "esta é uma mudança de estratégia com relação às eleições anteriores (de abril último)", que na prática terminaram empatadas, por isso forçando a convocação de um novo pleito.
                  Para o professor de política da Universidade de Tel Aviv e da Cornell (EUA) Uriel Abulof : o melhor dos cenários para Netanyahu é que esses àrabes não compareçam em grande número na terça-feira. No entanto, "se eles decidirem participar na mesma proporção dos judeus ultra-ortodoxos, podem ganhar entre 16 e 17 cadeiras no Parlamento (de um total de 120), o que seria um resultado fora do comum".  "Poderiam influenciar muito a formação de uma coalizão e potencialmente participar dela", afirma Abulof.
                    "Netanyahu é o primeiro de todos os israelenses a entender que a chave para sua derrota é uma parceria  entre a centro-esquerda e os árabes", afirmou Ron Gerlitz, diretor da Associação pelo Avanço  da Igualdade Cívica em Israel, em entrevista à revista The New York Review of Books.
  
                     Por fim, uma das queixas mais graves é a violência de grupos e gangues dentro das comunidades árabes, além da violência de gênero. "Esse tem sido um problema. Muitos árabes-israelenses estão trabalhando duro para mudar as coisas. Eles precisam de muito mais ajuda do Estado em suas comunidades", afirma Abulof.
                         Segundo dados divulgados em 2016 por Mamoun Abd al-Hay, então prefeito da cidade de Tira, o investimento do governo.às vezes, é oito vezes maior para as cidades israelenses em comparação com as árabo-israelenses. Para analistas, a eleição pode oferecer uma chance de mudar tal situação.
                          "No entanto, primo, as pessoas devem comparecer e votar em seus líderes e encorajá-los a serem corajosos  (a formar um governo conjunto), disse o professor Abulof. Segundo pesquisa divulgada  em abril, a maioria dos eleitores árabes - entre 73% e 78% - apoiaria um governo de coalizão entre parlamentares árabes e a centro-esquerda."
                          Resta saber se os líderes finalmente serão sensíveis aos desejos do eleitorado palestino.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, The New York Review of Books. )
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