quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Brexit: um segundo plebiscito ?


                                     
        O respeitado colunista Clóvis Rossi dá a conhecer verdade tão  relevante, quanto oportuna, em seu artigo hodierno "Quando o Populismo machuca".
           Como assinala Rossi,  'o triunfo do "bréxit" no plebiscito de 2016 foi atiçado por uma coleção de falsidades sobre as vantagens de deixar a comunidade de países europeus.' Mexeram não só com o jingoismo e os instintos nacionalistas, mas também, e sobremodo, com a ilusão do Império,  e de um país em que as ondas do oceano lhe obedeciam, e em cujas terras o sol nunca se punha.
           Além disso, Rossi relembra um aspecto relevante do dito Bréxit: "O ex-primeiro ministro John Major (...) acha que não (é traição à democracia), pois em artigo para o Sunday Times, Major lembra (...) que apenas 37% dos britânicos votaram pela saída." Os restantes ou queriam ficar (remain) ou nem apareceram para votar.
              Dada a rasa maioria do bréxit, surpreende a resistência de expoentes ingleses, maiores ou menores,  como se um desrespeito a esses 37% do eleitorado, em um referendo mal-preparado, e com muito absenteísmo deva justificar as túrgidas declarações de que o bréxit é uma realidade na aparência imutável, e por isso jamais a ser tocada como  pomposos MPs (v.g. gêmeos Johnson) sempre encheram a boca para dizê-lo.
                O ingresso do Reino Unido no então Mercado Comum Europeu fora obtido, contra vento e maré, pela verdadeira elite inglesa, incluindo conservadores, trabalhistas e liberais, que lograram vencer o rochedo Charles de Gaulle, que, enquanto vivo e no poder, barrara tais intentos.  Mais tarde, outra verdadeira aristocracia política inglesa conseguira unir o Reino Unido ao continente,feito que demandara a longa caminhada anterior, com a Associação de livre comércio, que não respondia ao genuíno interesse inglês. Mais de um Primeiro Ministro inglês consentiria mais tarde em realizar plebiscitos sobre a membership na U.E. O próprio Tony Blair o faria, mas conseguira superar o desafio.
                   A mediocridade coroada de David Cameron daria um irresponsável aceno favorável à realização de plebiscito estival, marcado por baixas presenças, mas que deixaria esse estigma que até hoje permanece. Por convocá-lo, Cameron  perderia tanto chefia do gabinete,quanto a morada de 10 Downing Street. Agora escolheram essa limitada e inefável ex-Ministra do Interior Theresa May, que segundo nos ensina José Ingenieros não se deve subestimar o valor (ainda que residual) dos medíocres.
                      E a despeito da baixa maioria do decantado bréxit, em plebiscito de pouca afluência,  ei-lo defendido com unhas e dentes e por quê?  Pois ele mexe com o passado soberano da Grã-Bretanha, relembra os grandes nomes das naves e dos dreadnoughts que governavam as ondas,  e levam o nome do Império of Her Gracious Majesty Queen Victoria para muito além da Taprobana (nesse camoniano dito do vate português, que só queria endeusar os corajosos navegantes lusos do século XVI) 
                    O fascínio do passado e da dominação perdida é o que alimentou essa fuga impossível do lar europeu, que proporciona, pelo intercâmbio com tantos países ignotos -  e é por isso que o aristocrático tem que andar rápido quando atravessa os grandes salões da sede da Organização da Unidade Europeia. A Cameron urge cruzar com passo lesto a chefia da União Europeia, e isso menos pelos grandes países que a integram, como Alemanha, França, Espanha, Itália, mas porque talvez abomine os particularismos dos muitos pequenos países desse próspero mercado comum, como Áustria, Hungria, Polônia, Tcheco-Eslováquia, Malta... 

( Fontes: Folha de S. Paulo, Luiz de Camões )

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