segunda-feira, 19 de março de 2018

Reeleito Vladimir Putin!


                                            

        A imprensa do Rio e São Paulo ao falar do favoritismo do candidato oficial do estamento russo - Vladimir Putin - devo confessar que me senti próximo daquele personagem de Henfil - gastão, o vomitador - chegou a dizer que ainda levaria alguns anos para igualar o recorde de outro presidente russo - ou que hoje é computado como se fora - que seria Jozef Stalin, que ainda teria uns tantos anos de governança à frente desse Putin...
        Pensando bem, até que a comparação me parece apropriada.  Porque Putin tampouco costuma pensar muito, como esse outro dito antecessor dele, em dar destinação política aos seus adversários... Ora, achar que Stalin e os demais da lista soviética seriam comparáveis aos presidentes da atualidade parece-me ir um pouco longe demais nas comparações. É notório que quando Jozef Stalin convocava para audiência algum figurão do partido, este ía suando frio, porque não se sabia nunca como ela acabaria, ou com a morte do infeliz, ou com a inéfavel sensação de que escapara  dessa feita do carniceiro... Por isso, chamar isso de chefe de estado me parece exagerar um pouco.
         Os adversários de Putin nesta eleição estavam ali para fazer número. Quando surgira adversário da têmpera e sobretudo das qualidades carismáticas de Alexei Navalny, Putin resolveu o desafio político com uma solução metapolítica.  Para outros desafiantes no passado,  gospodin Putin terá encontrado maneiras especiais de resolver a ameaça política. Para Navalny, um político que pela sua coragem pessoal e pela própria capacidade representaria um difícil desafio para o atual presidente, Putin optou pela saída burocrático-judiciária, que é hoje caracteristica da atualidade russa. Pelas suas qualidades e pela própria coragem, Navalny conquistou e motivou a juventude e grandes faixas do povo russo,  através de sua honestidade e do desafio que significou para as alianças de Putin.  Crescendo a própria popularidade, Putin recorreu a uma solução administrativa, para tanto mandando inventar em localidade interiorana um suposto desfalque que Navalny teria praticado.
           O primeiro processo contra Navalny estava eivado de erros, a ponto que o desafiante logrou  sentença favorável da Corte Européia de Direitos Humanos. Mas a máquina de Putin cuidou de fazer nova investida, que, infelizmente, teve êxito. Como a justiça na Federação Russa é muita vez uma criatura do Kremlin, não houve desta feita outros erros que inviabilizassem a "solução" para o afastamento da eleição de um candidato com as potencialidades de Navalny.
            Não é de hoje, por certo, que a Rússia tenha essa tradição de subserviência ao poder do Kremlin. Infelizmente, a despeito dos esforços do movimento pró-Navalny o que temos pela frente são mais anos de regime corrupto e violento, que de resto não trepida em afastar através de "soluções políticas" uma série de personalidades de grande valor e, sobretudo, de muita coragem, como a notável jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em 2006 muito provavelmente por um contract-killer[1] no saguâo do modesto prédio em que morava. As suas reportagens tinham incomodado muita gente poderosa, como o próprio Putin, as lideranças corruptas na Tchetchênia e por aí afora. Até hoje oficialmente não se sabe quem a eliminou, no lusco-fusco de curto dia típico da capital russa.
            Os leitores deste blog já bem conhecem duas mulheres escritoras que se dedicam à análise e ao estudo desta personalidade decerto motivante, mas também temível, que é o atual presidente de todas as Rússias, Vladimir V. Putin. Reporto-me à russo-americana Masha Gessen (que tratou da ascensão política de Putin, em São Petersburgo) e a também americana, a professora universitária Karen Dawisha,  que trata mormente da trajetória de Putin como governante, sob o título "A cleptocracia de Putin". Recomendo esses livros - ambos em inglês - pela seriedade das respectivas autoras, a par da própria inegável coragem.   

(Fontes: O Globo, O Estado de S. Paulo)


[1] O contract killer (o matador contratual) é o método preferido pelas autoridades russas que se acreditem ameaçadas pela verdade  ou até mesmo pela popularidade de um adversário político, ou como no caso da Politovskaya, a própria integridade e firmeza na defesa seja de um povo (os tchetchenos), seja na capacidade de revelar segredos incômodos, que desvendem  'falsas soluções', negociatas, ou mesmo os direitos humanos de população muçulmana inserida na Federação Russa.

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