sábado, 10 de março de 2018

Cármen Lúcia deixa Lula fora da pauta


                              
         A presidente do Supremo, Ministra Cármen Lúcia, não incluíu na pauta das sessões da Corte para o mês de abril o pedido da defesa do ex-presidente  Luiz Inácio Lula da Silva de recorrer em liberdade, mesmo após a manutenção de sua condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
            Cármen também não incluiu outras ações que poderiam levar a revisão da regra que determina o início do cumprimento da pena após decisão colegiada.
             A divulgação do calendário de votações do mês seguinte tão cedo não é usual na Corte. A antecipação foi recebida internamente no Supremo como um recado, diante da pressão para que o caso do ex-presidente seja pautado no plenário.
              Assinale-se a propósito que o pedido da defesa de Lula ao STF, liderada pelo ex-ministro do Supremo, Sepúlveda Pertence, é para que a Corte autorize o ex-presidente da República a recorrer em liberdade até que as Cortes superiores analisem os recursos.  Sepúlveda Pertence, por ter sido ministro do Supremo e com prestígio, reforça indubitavelmente a defesa de Lula.
               Esse pedido vai, no entanto, em sentido contrário à atual jurisprudência  do tribunal. O STF permitiu, em julgamento em 2016, que juízes determinem a execução da pena de prisão após a condenação em segunda instância. Havia na época clamor na opinião pública contra o uso repetido de recursos para retardar ao máximo a execução da pena de prisão. Pimenta Bueno e outros réus se valeram de tais recursos, e aumentou a pressão popular em contrário, eis que a jurisprudência favorecia notadamente a réus com maiores recursos financeiros.
                  Como no Brasil renasce em alguns a esperança de que a possibilidade de que a pressão da opinião pública nesse sentido moralizador venha a diminuir, correm hoje no Supremo duas ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) que poderiam levar a discussão sobre a prisão após a segunda instância. No entanto, nenhuma delas foi pautada. Elas foram apresentadas pela OAB e pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), que pretendiam que o Supremo afirmasse a presunção da inocência e só autorizasse a prisão após o esgotamento de recursos em todas as instâncias. O relator, Marco Aurélio Mello, pediu inclusão em pauta no fim de 2017.
                    Ainda há, no entanto, uma possibilidade de o tema vir a ser discutido no plenário, sem necessidade de aprovação de Cármen Lúcia, mas no momento os ministros não estão dispostos a lançar mão dela.  Seria colocar "em mesa" um habeas corpus de condenado em segunda instância. Esse termo jurídico significaria levar  diretamente à discussão no meio de uma sessão do plenário sem aval prévio da Presidente. Interlocutores  de Cármen Lúcia têm dito que qualquer ministro pode levar um habeas corpus diretamente  à mesa do plenário. A reportagem do Estadão apurou que o ministro Edson Fachin, relator do habeas corpus de Lula, não fará isso.
                    Uma decisão como essa, de acordo com o regimento do tribunal, provocaria a rediscussão da jurisprudência estabelecida em 2016. Na época, a decisão sobre o tema foi apertada, por seis a cinco, e nem todos os ministros a têm seguido.
                        Recurso. Entre os petistas, a decisão tomada pela presidente da Corte foi vista como "previsível". A pressão para que o Supremo firme um entendimento único sobre a possibilidade de prisão em segunda instância aumentou com a proximidade  do julgamento no TRF-4 do recurso do ex-presidente Lula.

                      O tribunal em Porto Alegre tem sessões de julgamento marcadas para os dias 14, 21 e 26 de março. Ainda não há previsão se os embargos de declarações entregues em fevereiro pelo advogado do petista entrarão na pauta. Após a análise, aumenta a possibilidade de Lula ser preso.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

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