sábado, 17 de março de 2018

Lógica de Afogado


                                           
           Em geral, não  é o melhor início de uma campanha começar a  atacar o técnico  - ou a técnica  - do team adversário, com a promessa de afastá-la da chefia.
          Sim, leitor, eu estou me referindo exatamente à situação da deputada Nancy Pelosi, democrata de boa cepa, com grande experiência na Casa de Representantes e que garantiu, logo no início do mandato de Barack Obama, que a sua Reforma da Saúde fosse aprovada pela Câmara.
          Depois, vem a reação republicana, com recuperação da maioria no Congresso, e a seguinte formação na Câmara de Representantes da preponderância do GOP,com o sólido apoio do Tea Party, e porque não de um saudável gerrymander pelo que havia sido o Partido de Lincoln.
          Agora, parece que os ventos mudaram. Com o grande Donald Trump como estrela guia e o Speaker Paul Ryan, enquanto válido ajudante, não é que o longo inverno parece em vias de terminar, e, por fim, se anuncia o provável retorno do carrossel da democracia, quando as maiorias, enquanto durem, cessem de ser eternas e mostrem sinais de que a alternância no poder legislativo - e, em especial, na Câmara de Representantes - esteja para voltar.
           Com efeito, não é bom para a festa da democracia, que as maiorias se eternizem no poder. Como para o Senado, cujos membros são eleitos pelo voto majoritário dos Estados, fica algo complicado garantir vitórias automáticas  para colégios individuais, democratas e republicanos aí combatem e as maiorias na Câmara alta se alternam entre  o partido de FDR e John Kennedy e aquele de Eisenhower e Richard Nixon. A Câmara de Representantes, no entanto, pela inexperiência do jovem Obama e de seus seminários na Casa Branca, na alvorada dos seus dois mandatos, acabaram criando as condições desse longo inverno de domínio do GOP, que só agora parecem haver entrado no Sunset Boulevard.
             Um magno sinalizador dessa auspiciosa tendência se confirma agora, com o triunfo na Pennsylvania de Conor Lamb. O triunfo desse deputado democrata veio acompanhado de  promessa arrancada pela chantagem de uma campanha desesperada naquele estado - votar no democrata equivaleria a que ele se juntasse ao bando liberal de Nancy Pelosi. Nesta má-fé republicana, consigo, no entanto, entrever um lado positivo.
              Os tempos mudaram. A política, que é volúvel por natureza, terá nesse longo inverno na Câmara de Representantes exagerado um tanto, lá assegurando por artes do gerrymander o feudo do GOP. Tudo indica que com a ajuda da Administração Trump e suas confusões a aurora próxima não mais seja republicana, mas sim democrata, e em especial na Câmara.
          Iniciou-se, por conseguinte, a caça a Nancy Pelosi. Não será, no entanto, a torpe chantagem a um novato, que há de abrir o caminho para a confirmação de republicano como  Speaker na Casa de Representantes.
           Os republicanos são mestres na capacidade de demonizar os adversários. Pois Trump não chegou a inventar que Hillary Clinton merecia ir para a cadeia? Logo ele, que hoje tem um Conselheiro Especial a examinar-lhe os podres?
            Trump com as suas confusões e incompetência surge como um grande valor para contribuir nas próximas eleições intermediárias para a vinda de Senado e  Câmara com maiorias democratas.
           Nesses termos, e com os novos, alvissareiros ventos,  não é difícil prever para o Senado, como líder da maioria, Chuck Schumer, e na Câmara de Representantes, tenho um palpite de mulher para Speaker. Será a velha peripeteia administrando um cala-boca a quem, por inexperiência, vai cedendo o que não lhe compete.


( Fonte: The New York Times )

Nenhum comentário: