domingo, 11 de março de 2018

Que fazer da Vila Kennedy ?


                    

         Até hoje, há perplexidade nos moradores da Vila Kennedy quanto à atuação do Exército.  De início, veio um sentimento bom da época do início das UPP. Na verdade, a UPP instalada ali em 2014 - a última das 38 do Estado - não cumpriu a missão de controlar a violência a longo prazo. Pelos dados oficiais, a média anual de homicídios de 2007 a 2013 foi de 13,28; em 2014, caíu para 4. Mas no ano seguinte, subiu para onze e chegou a doze no primeiro semestre de 2016 - últimos números disponíveis.
              Segundo assinala a reportagem, de acordo com agente comunitário X não se imaginou que a vila Kennedy, favela na esquecida zona oeste, seria a escolhida pelas Forças Armadas para concentrar suas ações. Tampouco se pensou que o local serviria de modelo para investidas futuras, conforme anunciado por fonte militar. Do dia 23 até ontem, as tropas estiveram lá seis vezes - sempre com mais de mil militares - e a PM, uma. Não houve resultados significativos. "Os militares entram, ficam oito horas e vão embora. Tiram barricadas do tráfico, os moleques recolocam logo, e voltam a circular nos mesmos lugares. Está mal planejado."

              A preferência por esta favela, conjunto iniciado nos anos 1960, às margens da avenida Brasil, tem motivação geográfica, segundo os militares.  Antes da sequência de ações, porém, foi registrada a morte de um tenente e de um militar no local.
              Até o presente, a tarefa de retirar as barreiras do tráfico tem dado a impressão de um trabalho de Sísifo, eis que, com aparato de maquinárias, a presença militar se empenha em retirar as barreiras colocadas pelo tráfico. Sem embargo, ao deixarem o local, tais barreiras são recolocadas, chegando o tráfico a receber caminhões de areia e cimento, cuja carga serve para desfazer o trabalho do Exército, ainda mais que os moradores são coagidos a refazerem os bloqueios.

             Ora, esse desfazimento das iniciativas dos militares envia a mensagem errada para a comunidade, dada a fugacidade da nova situação, que é logo mudada, ao partir o aparato da Força Militar. Se não se mandar  mensagem de real permanência, esse ir e vir dos obstáculos do tráfico tem um significado claro e inequívoco, i.e., de transitoriedade e também passa a impressão de falta de seriedade, o que não é bom.  Tal é interpretado como uma imagem do futuro, e é corrosivo no próprio efeito. Se a Força militar manda mensagem tão efêmera, o que dizer da situação quando ela não mais aqui estiver?


( Fonte:  O Estado de S. Paulo  )

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