sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Diplomacia com Trump ?

                                 

        Ao ver a foto do Secretário de Estado de Donald Trump, Rex Tillerson cessaram as minhas dúvidas sobre o acerto de escolha do atual chefe da diplomacia americana.
         O antigo especialista em petróleo vai agora tratar da profissão dos punhos de renda. Esse termo se aplica aos diplomatas de antanho, e os distingue de outros commis d'État, como são os militares.
         As notícias que se tem do Departamento de Estado (State Department), o nome que tradicionalmente se atribui nos Estados Unidos ao Ministério das Relações Exteriores não são, no entanto, boas.
          A carreira diplomática atravessa séria crise por causa da visão - ou, melhor, falta de visão - do presidente Donald Trump que, além de não ser um intelectual, não tem especial pendor pela diplomacia. Exemplos disso se acham na maneira no limite do grosseiro com que tratou Angela Merkel, que é, por assim dizer, a decana dos governantes no Ocidente.
          A despeito da categoria da Merkel, a sua última viagem a Washington foi um desastre. O esquizóide Trump a evitou metade do tempo, chegando ao extremo de sequer cumprimentá-la  (não lhe apertou a mão, como é a prática usual).  Tampouco demonstrou maior desejo de estreitar a relação, agindo seja como um energúmeno (como se a Merkel estivesse forçando uma relação, quando na verdade deveria ser uma reunião para tratar de assuntos do interesse dos dois países, ou de Europa e Estados Unidos).
           Lembrei-me dessa maneira esquizóide com que Trump fingindo ignorá-la (na verdade, talvez, tendo medo dela e de sua experiência) lidaria com a personagem da Chanceler alemã, e logo me acudiu a idéia de que ele Trump e Berlusconi,  hoje infelizmente aposentado, se entenderiam muito melhor, porque o esperto italiano sabia tratar com qualquer um, até mesmo um tipo como Trump.  Mas Trump breve reconfirmaria qual é o seu real nível intelectual.  Pois não é que se deu muito bem - até ficaram de mãozinhas dadas - com  a coitada da Theresa May! Trump confirmou que abomina mulheres como a Chanceler alemã, entendida demais. Ele prefere o tipo caseiro da Theresa May...
            Agora, voltando à dura realidade do governo Trump.  Ao olhar para a cara pouco expressiva, entre o pesado e o marmóreo  de  Rex Tilllerson, de uma coisa tive a certeza. O atual Secretário de Estado não deve entender muito de relações internacionais (como a sua antecessora no State Department), mas pelo menos é um bom representante de Trump, com a sua expressão truculenta, própria de um expert em petróleo e pouco mais. 
             Aliás, a crise no Departamento de Estado é reflexo de uma dupla negação: os diplomatas americanos tanto de carreira, quanto fora dela - refiro-me aos embaixadores - estão atravessando uma seriissima crise, causada pela negação de Trump diante da diplomacia, de seus estudos e suas sutilezas.  Muitos diplomatas sênior se estão afastando da carreira de Talleyrand, pelo total desinteresse de Trump pelas relações externas. Essa dinâmica boçalidade vem afastando os melhores do State, e vão bater em outras portas da atividade civil.
              Assim, ao contemplar o retrato de Mr Tillerson, com suas certezas e o jeito truculento, vi que Mr Trump tem uma espécie de alter ego em Foggy Botton (Fundo enevoado), que é um dos apelidos do Departamento de Estado. E não pude deixar de sentir comiseração dos meus chèrs collègues americanos, a quem o destino fez esta peça cruel.
             E até entendi porque Mr Tillerson não vai visitar o Brasil. Esta é a terceira viagem oficial da "era" Trump à América Latina.  E até hoje o Brasil não é incluido no roteiro da viagem. Será porque o Itamaraty é demasiado esperto?
             Pensando bem, creio até que os representantes de Trump tem razão... Diplomacia com essa gente é perda de tempo...


(Fonte: The New Yorker)

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