terça-feira, 20 de setembro de 2016

Quê acordo entre EUA e Rússia?

                              

         Há muitos acordos entre Sergei Lavrov, o Ministro Russo dos Negócios Estrangeiros e os Secretários Americanos do State Department.
         Todos eles têm uma característica: não foram cumpridos.
          A Federação Russa, no governo de Vladimir Putin, sempre esteve mais próxima do regime de Bashar al-Assad. Com o não-apoio de Barack Obama à Liga Rebelde, um erro estratégico de Obama, o que se assistiu foi lenta recuperação de Bashar. Assim, de próximo criminoso de guerra a ser julgado pelo TPI da Haia, o presidente sírio  com a ajuda (não-gratuita) de Putin, logrou reforçar a própria posição, que se achava então bastante periclitante.
            Os acordos de Putin com a Síria, ou foram informais, ou tomaram um aspecto mais concreto quando da visita ao Kremlin do ditador sírio, que o transformou na prática em aliado-dependente.
            Por sua vez gospodin Putin já, por adiantado, recolheu a cessão de mais uma base no sul da Síria. Portanto, Bashar passou na prática à quase vassalo da Rússia, dado o enorme aporte recebido do autocrata de Moscou.
             O otimismo com que alguns procuraram cercar o derradeiro acordo, este de cessar-fogo entre Estados Unidos e Rússia, nos parece muito forçado e mesmo fora da realidade. Para tanto, bastaria ater-se às seguintes considerações: a) exame dos acordos anteriores, e seu malogro; b) as condições presentes no terreno, a fraqueza do lado rebelde e o aporte concedido por Moscou ao governo de Assad; c) posições antagônicas de Washington e Moscou, e vantagens no terreno para o lado russo; d) há interesse imediato das Partes em desmantelar o Estado Islâmico?[1]
               Como se verifica, há muitas interrogações, maus precedentes, e, além disso, dificuldade de implementar objetivos comuns quanto a parceiros que não os tem.
                Bashar necessita de Putin para levar avante os seus planos de reconquista de Aleppo, que está ainda, embora de modo cada vez mais precário, sob o controle dos rebeldes. Toda a recuperação de Bashar se deve aos aportes russos ao exército sírio, e ao isolamento de Aleppo. A sistemática destruição de Aleppo se deve à ofensiva sírio-legalista (apoiada por Moscou). Como pretender um cessar-fogo entre as partes, se para Bashar a sua sobrevivência passa pela retomada de Aleppo e o consequente enfraquecimento quase terminal da Liga Rebelde?
                  No começo de tudo, como será forçoso lembrar ao Secretário de Estado John Kerry, está a negativa de seu Presidente de armar os rebeldes. Foi essa determinação, tomada contra a opinião, no fim de seu primeiro mandato, dos quatro ministros e chefes de departamento com responsabilidade nos assuntos externos (tanto diplomáticos quanto militares) que Obama houve por bem contrariar, cortando a ajuda militar à Liga Rebelde.
                  Não é de hoje que se colhem os frutos de tal decisão que, na prática, selou o destino dos respectivos combatentes. Acordos diplomáticos, baseados em situações confusas e/ou sem maior apoio no terreno, estão condenados ao fracasso.
                   Quando Barack Obama entre a Síria e o Afeganistão, preferiu este último, mantendo-o como cenário do comprometimento armado americano, e de forma determinante, ele estava igualmente criando condições para o que hoje vemos na Síria (e adjacências, se tivermos presente igualmente o Exército Islâmico).
                    Dificilmente situações militares podem ser revertidas por determinações diplomáticas, se há conflito na área em apreço,  e esses lados contrapostos dispõem de aliados diferentes, uns interessados na posse de  bases (e, portanto, decididos a intervir com forças terrestes) e outros, não.   



[1] É matéria complexa, que exigirá estudo em separado.

Nenhum comentário: