Há muitos
acordos entre Sergei Lavrov, o Ministro Russo dos Negócios Estrangeiros e os
Secretários Americanos do State
Department.
Todos
eles têm uma característica: não foram cumpridos.
A
Federação Russa, no governo de Vladimir Putin, sempre esteve mais próxima do
regime de Bashar al-Assad. Com o não-apoio de Barack Obama à Liga Rebelde, um
erro estratégico de Obama, o que se assistiu foi lenta recuperação de Bashar.
Assim, de próximo criminoso de guerra a ser julgado pelo TPI da Haia, o
presidente sírio com a ajuda
(não-gratuita) de Putin, logrou reforçar a própria posição, que se achava então
bastante periclitante.
Os
acordos de Putin com a Síria, ou foram informais, ou tomaram um aspecto mais
concreto quando da visita ao Kremlin do ditador sírio, que o transformou na prática
em aliado-dependente.
Por sua vez gospodin Putin já,
por adiantado, recolheu a cessão de mais uma base no sul da Síria. Portanto,
Bashar passou na prática à quase vassalo da Rússia, dado o enorme aporte
recebido do autocrata de Moscou.
O otimismo com que alguns procuraram cercar o
derradeiro acordo, este de cessar-fogo entre Estados Unidos e Rússia, nos
parece muito forçado e mesmo fora da realidade. Para tanto, bastaria ater-se às
seguintes considerações: a) exame dos acordos anteriores, e seu malogro; b) as
condições presentes no terreno, a fraqueza do lado rebelde e o aporte concedido
por Moscou ao governo de Assad; c) posições antagônicas de Washington e Moscou,
e vantagens no terreno para o lado russo; d) há interesse imediato das Partes em
desmantelar o Estado Islâmico?[1]
Como se verifica, há muitas
interrogações, maus precedentes, e, além disso, dificuldade de implementar
objetivos comuns quanto a parceiros que não os tem.
Bashar necessita de Putin para
levar avante os seus planos de reconquista de Aleppo, que está ainda, embora de
modo cada vez mais precário, sob o controle dos rebeldes. Toda a recuperação de
Bashar se deve aos aportes russos ao exército sírio, e ao isolamento de Aleppo.
A sistemática destruição de Aleppo se deve à ofensiva sírio-legalista (apoiada
por Moscou). Como pretender um cessar-fogo entre as partes, se para Bashar a
sua sobrevivência passa pela retomada de Aleppo e o consequente enfraquecimento
quase terminal da Liga Rebelde?
No começo de tudo, como será
forçoso lembrar ao Secretário de Estado John Kerry, está a negativa de seu
Presidente de armar os rebeldes. Foi essa determinação, tomada contra a
opinião, no fim de seu primeiro mandato, dos quatro ministros e chefes de
departamento com responsabilidade nos assuntos externos (tanto diplomáticos
quanto militares) que Obama houve por bem contrariar, cortando a ajuda militar
à Liga Rebelde.
Não é de hoje que se colhem
os frutos de tal decisão que, na prática, selou o destino dos respectivos
combatentes. Acordos diplomáticos, baseados em situações confusas e/ou sem
maior apoio no terreno, estão condenados ao fracasso.
Quando Barack Obama entre a Síria e o
Afeganistão, preferiu este último,
mantendo-o como cenário do comprometimento armado americano, e de forma
determinante, ele estava igualmente criando condições para o que hoje vemos na
Síria (e adjacências, se tivermos presente igualmente o Exército Islâmico).
Dificilmente situações
militares podem ser revertidas por determinações diplomáticas, se há conflito
na área em apreço, e esses lados
contrapostos dispõem de aliados diferentes, uns interessados na posse de bases (e, portanto, decididos a intervir com
forças terrestes) e outros, não.
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