França, Inglaterra e Estados Unidos
convocaram reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, neste domingo, dia 25, e acusaram a
Federação Russa de cometer "crimes
de guerra" em Aleppo, na Síria. Os três membros ocidentais do Conselho de
Segurança insistiram em que Moscou interrompa os bombardeios que realiza em
apoio ao regime de Bashar al-Assad.
A embaixadora estadunidense nas Nações
Unidas, Samantha Power, disse que
foram registrados mais de cento e cinquenta bombardeios em Aleppo, no norte da
Síria, nas últimas 72 horas, e acusou o regime sírio do ditador al-Assad, e sua aliada, a Rússia de Vladimir
Putin, de lançarem uma "ofensiva total".
Esse 'tapete' de bombardeios, neste fim de
semana, deixou pelo menos 124 mortos em áreas controladas pelos rebeldes em
Aleppo. Do total das vítimas, pelo menos 26 são civis, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos
Humanos.
Segundo o noticiário, esta ofensiva
aérea russo-síria terá sido a mais letal desde o início da guerra civil, em
2011. Tal ataque, com as consequências acima descritas, torna, obviamente, a
situação naquela sitiada cidade ainda mais difícil. Note-se que lá havia mais de duzentos e
cinquenta mil civis.
Foi por causa disso mesmo que o
Secretário de Estado John Kerry assinara mais um acordo
de suposta trégua com o Ministro do Exterior de Putin, Sergei Lavrov, que é uma
espécie de Talleyrand[1]
do autócrata russo. O seu compromisso não costuma ser com a verdade, mas sim
com o próprio amo. E terá sido também por causa disso que o atual Secretário de
Estado não terá pesado devidamente o valor relativo das promessas e da
firma de Lavrov nos acordos.
Mas convém reconhecer que as
vantagens no terreno de Putin se devem mais à própria coerência (o seu norte
não é o interesse da Paz, mas sim a conveniência da Rússia e sobretudo do atual
amo do Kremlin), do que às eventuais
promessas por ele feitas ao Ocidente e aos Estados Unidos, em particular.
Como já escrevi em outra parte,
o principal erro dos Estados Unidos nessa questão é atribuível a Barack Obama. Quando os quatro chefes
dos Departamentos americanos competentes para o conflito na Síria lhe
propuseram um pacto - quem os encabeçava eram a então Secretária de Estado Hillary Clinton - cujo principal escopo
era armar os rebeldes sírios, o Presidente Obama, o recusou. Na prática, deu
preferência à guerra no Afeganistão (cujos resultados seriam previsíveis), e
praticamente nada à Liga Rebelde. Diz o
velho ditado que quem planta ventos costuma colher tempestades, e é o que
sucede no fim do mandato de Barack Obama.
Qual a credibilidade de assinar
acordo de cessar-fogo com Putin? Muito baixa em verdade, eis que ele é estreito
aliado (na verdade, protetor) do ditador Bashar
al-Assad, que a troco dessa aliança já concedeu ao homem forte da Rússia
pelo menos duas bases, para as suas naves (a Rússia como sempre necessita fugir
das águas frias do Mar Negro e buscar as quentes do Mediterrâneo), e também
para as próprias aeronaves.
Putin se tem saído demasiado
bem com os seus adversários americanos, porque estes não fazem o dever de casa.
Bush, o jovem, o único presidente
americano eleito pela Corte Suprema, se deu mal com Putin, ao tentar apoiar -
sem muito cacife - a Geórgia, e deu no que deu, com mais um país atrelado ao
urso russo.
Depois de fazer a magistral
manobra de ceder o mando aparente a seu alter-ego
Dmitriy Medvedev, ao elevá-lo à
Presidência (2008-2012), Putin, como Primeiro Ministro, continuou com grande
parte do poder, e logrou assim fazer esquecer as marcas do periodo anterior.
Pôde assim retomar todo o poder até hoje.
Não aproveita a Obama e aos Estados Unidos que
a Federação Russa assine acordos até mesmo de cessar-fogo, como foi o caso
recente, se Putin está bem implantado no terreno.
Putin pode até não
participar diretamente dos ataques aéreos. Mas só por olhar para o outro lado,
deixa ao seu aliado (no antigo sentido romano da dependência estrita) o papel
de atacar Aleppo e os bastiões rebeldes.
Por isso, os eventuais compromissos de paz assinados pelo seu Ministro
Lavrov tem o mesmo valor de que os 'pedaços de papel' assinados por um antigo
adversário da União Soviética, e que tanto mal fez à Civilização Ocidental e à
própria Alemanha, em que pensara erigir o Reich de mil anos...
Agora o Ocidente acusa a
Rússia por ataques à Síria. Por não ter outros meios, Obama - que chamara Putin
de chefe de 'poder regional' - pensa
valer-se no papel de acordos de cessar-fogo. Gospodin Putin, como já mostrara (e humilhara) o jovem George Bush,
pode fazer o mesmo com o seu sucessor, eis que Barack Obama não poderia
acreditar que com palavras empenhadas possa fazer progressos com Vladimir V.Putin.
Este pelo visto, só entende uma linguagem, que é a da força.
Para ele, os
tratados - como para outros supostos
'realistas' no passado - só valem se solidamente apoiados em realidades
tangíveis, de preferência militares. Quem não as utiliza, está condenado a
sofrer-lhe as consequências.
( Fontes: The New York
Times, Folha de S. Paulo )
[1]
O príncipe de Benevento (1754-1838), no antigo regime, bispo de Autun,
presidente da Assembléia Nacional (1790),
camaleonicamente servindo a todos os regimes da revolução, até Napoleão
inclusive, se 'reconciliou' com a restauração de Luis XVIII - onde fez grande
trabalho no Congresso de Viena, salvando a França dos vencedores de Napoleão.
Dada a sua grande habilidade, é uma espécie de patrono da diplomacia.
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