quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Fora Dilma!

                                                            

        Ao contrário da outra expressão, esta acima não é um simples expletivo, sinal de pontuação ou mirífica chave de acesso à Terra da Cuccagna, terra essa que todos sabemos não existe, mas que pode servir como senha de acesso à realidade que, ou está perdida, ou como  na corrida dos lemingues, está por perder-se.
        A realidade do PT tem várias datas para marcar-lhe a derrocada. A Lava-Jato, que eles mais detestam, seria talvez a mais eficaz e, por conseguinte, aquela que mais os traz às plagas da realidade.
        Agora, introduzo o Fora Dilma!, um pouco atrasado, é verdade, mas deve-se acrescentar que a preocupação não é tanto a da realidade - que isso, como sabemos, não interessa à boa gente do PT - mas a sua presença como metáfora, com pretensões à substituir-se à situação presente, com todos os problemas que tal acarretaria.
        Fora Dilma! é grito contra a hipocrisia, contra a república de mentirinha, contra a inflação, contra a desordem nas contas, contra o Petrolão, contra o desemprego, contra a demagogia, contra, enfim,  toda a empulhação dos governos do PT.
        O Fora Dilma! é também um grito contra o fatiamento, contra a desmoralização em temas constitucionais, contra todo o gênero de patranha que vise a manter, de alguma forma, pairante e, por conseguinte, presente tal imagem de personagem que tanto mal acarretou ao Brasil, trazendo de volta a inflação, e todo o seu chorrilho de baixo-nível e achaques.   
         Dilma Rousseff, no seu segundo mandato, foi objeto de um processo constitucional de impeachment. Tal processo foi acionado não pelo ex-deputado Eduardo Cunha, como alegada vingança contra a Presidenta.
         O impeachment foi decorrência de processo constitucional, que foi iniciado por um ex-petista, figura histórica daquele partido que hoje desapareceu, pois então era ético e jacobino[1]. Por conveniência, se esquece que quem se valeu desse recurso de última instância constitucional, foi um dos fundadores do PT, que dele se afasta quando estoura a roubalheirão do Mensalão. Trata-se de Hélio Bicudo, fundador e militante histórico de um antigo PT, que por suas características de severidade, honestidade e rigor republicano, infelizmente nada mais tem a ver com o partido não só do Mensalão, mas do Petrolão e da desbragada corrupção, inaugurada pelos governos de Lula da Silva, e continuada pela administração de Dilma Vana Rousseff.
             Dilma é hoje uma cidadã, como qualquer outro. Sobre ela não caíu raio cuja procedência seja ignorada, mas sim providência republicana causada pela própria gestão temerária da cousa pública. As ditas pedaladas fiscais que desrespeitavam o poder constitucional do Congresso são a última gota.
              Por desgraça, ainda enfrentaremos por muito as inúmeras infaustas consequências dessa irresponsável gestão da economia: corrupção, inflação,  desemprego, recessão e queda no ranking da competitividade.
              Se ela não é a principal culpada pela situação em que o Brasil se encontra - bem sabemos quem é o verdadeiro responsável.
              A esse propósito, me parece oportuno relembrar lição que aprendi a posteriori de quando ela me foi ministrada.
              Vivíamos então na doce ilusão de que a eleição de Lula em 2002 surgia não só como  aspiração nacional, mas também e sobretudo como realização da História. Por isso, eu e mais o companheiro Rezende perguntamos ao velho colega Pedro Neves da Rocha porque ele também não se associava à ampla rede de apoio da cidadania ao então candidato do PT, predestinado já a galgar a Presidência da República.  A resposta do amigo Pedro, hoje ausente, nos surpreendeu pela singela razão: não voto para presidente em que não tenha galgado ao grau superior nos seus estudos.  Se o que nos disse à época, me pareceu absurdo, prepóstero mesmo, a convicção aparente me levou a não mais levantar a questão, por mais desavisada que então me parecera a sua postura.
                   E, no entanto, se Pedro desde muito não mais está entre nós, isso não é razão para que não se concorde em quão acertada e sensata foi a sua decisão na matéria.

( Fonte: Cartas ao Amigo Ausente )




[1] Bicudo saíu do Partido dos Trabalhadores quando estourou o Mensalão. 

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