A súbita adesão ao Corinthians, em jogo
no Pacaembu, do padrinho Chico (V. blog X da série), além de surpreender-me,
iria mudar a minha atitude e nem sempre para melhor.
A raiva que sentira pela forma
revestida pela súbita identificação do padrinho com o Corinthians, e ainda por
cima no jogo em que vencera o Vasco da Gama, não se evaporaria em pouco tempo.
Além de tomar partido em questões que de
alguma maneira afetavam o tio, o meu viés seria sempre contrário à postura
do tio Chico.
Em jogos de futebol de que participasse
o Corinthians, sempre ficaria na torcida
adversa, nunca deixando de externar os meus próprios sentimentos de forma a
mais protagônica possível.
Eu o fazia movido pelo mais óbvio
despeito, e cuidava de marcar a minha
posição de forma a mais provocadora possível.
Era decerto maneira desastrada de afrontar o padrinho, as mais das vezes
por razões com pouca ou nenhuma credibilidade.
Diga-se em favor de meu tio que ele
mostraria não pouca grandeza de temperamento ao não atentar para as minhas
provocações. Ele agia como se fosse natural que eu buscasse contrariá-lo sempre
que se colocasse algum tema em que a sua
opinião ou posição já fosse conhecida.
Passado tanto tempo ainda sinto algum
remoro por aquela ânsia de confrontação que o tio sempre saberia contornar, com
jeito sereno. Sem o saber, ía aprendendo a lição de que a compostura sairá
sempre melhor no quadro, do que a sistemática implicância, que parece pedir uma
boa e definitiva lição.
Pois o tio optaria pela contenção e a
nobreza de caráter. Como não caía nas minhas rudimentares armadilhas, ele foi
aos poucos pondo à nu, sem que me desse conta de início, a estultícia da minha
reação.
Meu padrinho era um descendente de
italiano que não se deixava vencer por raiva e emoção. Gostava de esfregar as mãos,
e com isso exorcizar as imediatas reações. Pouco a pouco, ao pé da televisão, ele me mostrava da
importância da fleuma e da frieza nas atitudes. Não que tivesse sangue de barata,
como ele o demonstraria na ocasião certa.
Soube, a propósito, e não por seu
intermédio, que ele se tornara sócio do clube Pinheiros - antes Germânico, se
não me engano. Provocado pelo porteiro,
que lhe pedia sistematicamente a carteira, enquanto não a solicitava dos muitos
sócios de origem alemã, Chico acabou perdendo a paciência.
"Vejo que V. tem dificuldade em
me reconhecer. Como isso não ocorre com os alemães, a quem V. nunca pede a identificação, não terei
problema em lhe mostrar a carteira uma vez mais, mas com uma condição: V. vai
ter que pedir da mesma forma que mostrem o documento a todos os alemães que aparecerem."
Era assim o meu tio Chico.
Temperamento calmo e controlado se o respeitassem. O que não admitia era que abusassem
da autoridade, ou que menosprezassem alguém.
Então a ascendência italiana
repontava.
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