sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A Herança Maldita

                               

          O mau gestor - no caso, a má-gestora - pode ter uma influência perniciosa muito além de o que imaginar-se possa.
          A piora sensível nas contas públicas foi causada pela política econômica desastrosa de Dilma Rousseff, já a partir de seu primeiro ano de governo.
          Na sua ânsia do distributivismo na economia, não hesitou em redespertar a inflação, através de políticas ruinosas, com que visou à elevação do salário mínimo, enquanto partia para um distributivismo acelerado.
           Pensando que podia fabricar dinheiro e aumentar o rendimento das classes mais baixas, Dilma já nos primórdios de seu primeiro mandato, cuidava da inflação com o gogó, empregando um discurso retrógrado ou cínico, no gênero do não permitirei isto ou aquilo, como se as forças econômicas e a taxa da inflação viessem a obedecer  suas regras de economista de terceira.
           Além de enfraquecer os instrumentos para combater a carestia - valeu-se de um chefe do Banco Central que não tinha autonomia alguma - Dilma encetou uma elevação brutal no salário mínimo, engordado não só por critérios financeiros, mas também pela demagogia dos governos sindicalistas (modelados no chavismo).
             Daí os seus crescentes recursos a meios heterodoxos em termos de economia e finanças, que tiveram as consequências previsíveis, tanto aqui, quanto em outras plagas da América Latina. O governo de Maduro - que se sustenta contra o Povo, que o quer ver - e com toda a razão - pelas costas, dada a sua criminosa incompetência.
             Dilma conseguiria reeleger-se mas à custa de tão grandes mentiras e com curtíssimo prazo de validade, que o seu segundo governo seria reedição piorada do primeiro, e a fortiori sob o conjunto ataque do merecido descrédito popular (enraivecido pela boçal dose de mentiras na respectiva propaganda) e a explosão dos escândalos financeiros.
             Surgiria então a operação Lava-Jato, que lancetou a inchação burocrática e, sobretudo, a deslavada corrupção que tão bem se reflete nos cínicos diálogos dos empreiteiros com o poder petista.
             Debalde tentou Dilma quebrar o poder judiciário e sobretudo o Juiz Sergio Moro que de Curitiba encetou um processo de recuperação ética e financeira de um processo então fundamente comprometido pelas relações entre o petismo e as grandes empreiteiras, com a Odebrecht à frente.
            O grande erro de Luiz Inácio Lula da Silva foi ter acreditado possível criar uma estrutura de poder fundada na corrupção sistêmica. Na cegueira da húbris acreditou ainda mais como possível sustentar o governo sob os princípios da fraude e do fraudulento arrocho da corrupção que, atingido certo grau, sai do controle e passa a julgar possível que aqui possamos estruturar um sistema baseado na mentira.
             Seja pela lei penal, seja pela própria economia, o que parece possível em estruturas ainda rudimentares e de baixa cultura política - como Angola, v.g.,  venha a  implantar-se com êxito em economias mais desenvolvidas.
              A fraude é um câncer que tudo distorce. Ao atacar a Petrobrás, o governo do PT pensou possivel para cá transplantar esquemas tortos de gestão que semelham ter sucesso no México, na Venezuela e na África.  A cruzada iniciada pelo juiz Moro, como a outra ponta da Lava-Jato - a do juiz justo e inflexível, que pelo apoio popular torna inviável os habeas corpus da influência, e corta pela raiz o poder dos corruptos, que no passado retinham ainda força para inviabilizar operações nascidas com boas intenções, mas com baixo apoio sistêmico.
                A popularidade do Juiz Moro é a maior garantia que o atual sistema jurídico pode ter na correta aplicação da justiça. Se as forças da corrupção estarão sempre à espreita, no aguardo de eventuais falhas na aplicação da lei e na impiedosa perseguição da aliança dos corruptos, cabe ao Ministério Público, através do trabalho consciente de levar a juízo os suspeitos - qualquer que seja a sua hierarquia, e como bem sabemos, o crime e a corrupção estão aninhados em muitos extratos da sociedade, e não lhe faltam representantes/defensores em todos os níveis. Eles sabem que a sua única esperança está em estabelecer em relações adulterinas com os grandes representantes da mala vita, e os há em todos os organismos do Poder.
                 Assim, os ingênuos, sejam eles verdadeiros ou falsos, não são a madeira de lei para montar as bases de um ataque bem-sucedido contra a cidadela do crime em todas as suas formas.
                  Lula da Silva cometeu talvez o seu maior erro ao acreditar possível fazer de Dilma Rousseff alguém que lhe pudesse continuar no respectivo caminho.  As falhas do seu projeto podem ser consideradas ínsitas, na medida em que a corrupção - que mina o Estado e a Economia - não terá condições de preponderar com  estrutura judicial e policial com uma parcela ponderável de  funcionários honestos, preparados e, por conseguinte, corretos e eficazes.
                  E este era felizmente o caso do Brasil, como se poderá ver adiante. O projeto de Lula da Silva se levado adiante dentro das premissas do dito Mensalão poderia gerar um monstro no Estado brasileiro, que se descobriria vítima dos princípios do mal, que através da localização para eles apropriada poderia controlar os impulsos éticos da cidadania. Todo Estado corre este magno risco, como vemos, v.g. na Federação Russa de Vladimir Putin, um estado do racket, que pelo estudo magistral da professora Karen Dawisha é exposto para quem tenha olhos para ler no seu livro "Putin's Kleptocracy" (A Cleptocracia de Putin). E não se iludam aqueles ingênuos de plantão de que tal seja impossível.
                     Pela ingenuidade de uns, pela disponibilidade de outros (escolhidos no país e também fora dele) como está demonstrado pela prof. Dawisha, que leciona na Universidade Miami, em Oxford, Ohio, e é diretora do Centro Havighurst  para estudos russos e pós-soviéticos, dessa universidade.


(a continuar)

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