Faz tempo, citação feita em depoimento
do delator, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, se reportara, entre
muitos outros, ao atual Presidente da
República, Michel Temer. Ainda segundo o referido delator, Temer, então
Vice-Presidente da República, pedira a Machado dinheiro para a campanha de um
aliado, em 2012.
Segundo informa O Globo de hoje, o Ministro
Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal,
determinou que seja aberta uma petição na corte
com trechos de depoimento do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado,
que trazem acusações contra o presidente
Michel Temer.
Esta petição é procedimento preliminar à
investigação. Nesse sentido, o Ministro Teori Zavascki encaminhou o caso ao Procurador-Geral
da República, Rodrigo Janot, que deve opinar se abre ou não um
inquérito para investigar formalmente o
Presidente.
Segundo o articulista, no entanto, Temer poderá se livrar da investigação, eis
que o PGR Janot já solicitara arquivamento de acusação contra a então
Presidente Dilma Rousseff, sob alegação de que, conforme a Constituição, o
Presidente da República não pode ser alvo de investigação por fatos
anteriores a seu mandato. No caso em
tela, apresentado pela delação de Sérgio Machado, os fatos são de 2012.
Como se sabe, a delação do
ex-presidente da Transpetro terá sido uma verdadeira metralhadora giratória,
tal o número de políticos nela incluídos. Note-se que na mesma petição de
Temer, também há citações aos senadores Renan Calheiros (PMDB-Alagoas), atual
presidente do Senado Federal, e Romero Jucá (PMDB-RR), ao ex-senador José
Sarney (PMDB-AP) e ao senador cassado Delcídio Amaral
(sem partido-MS).
Além disso , o ministro Teori
determinou ainda o fatiamento da delação
de Machado em outras três petições: elas conterão citações ao ex-Presidente Fernando Henrique
Cardoso, ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) , e a outros políticos, como o
ex-deputado Candido Vaccarezza (PT-SP), o ex-ministro Henrique Alves (PMDB), a
ex-ministra Ideli Salvatti (PT), além dos senadores Valdir Raupp (IPMDB-RO) e
José Agripino (DEM-RN).
O Procurador-Geral também terá
de manifestar-se sobre a necessidade ou não de abertura de inquérito para
investigar tais pessoas, com base nas declarações de Machado. Outrossim, o Ministro Teori
ainda determinou que as citações
de Machado a várias pessoas que não têm direito ao foro especial sejam encaminhadas
ao Juiz Sérgio Moro, a quem incumbe a Lava-Jato na primeira instância. Nesses termos, há referência a propinas
que totalizam R$ 109,49 milhões. Tal
montante foi pago a políticos de diversos partidos, e em especial do PMDB. Os
recursos em tela vinham de dezesseis empresas que tinham contratos com a Transpetro.
Segundo Sérgio Machado, o
esquema de desvios em estatais ocorre
desde 1946 e se dá em três fases. Políticos indicam seus aliados para cargos
estratégicos em estatais, de olho no maior volume possível de recursos
ilícitos. Por seu lado, as empresas privadas querem tirar as maiores vantagens
que conseguirem de seus contratos. Os
indicados, já no exercício dos cargos de direção, têm uma necessidade em mente:
arrecadar propina para os políticos que os apadrinharam. Assim, na convergência de interesses dos três
- políticos, empresas e gestores - havia o pagamento de propina. Machado
disse ter aplicado o esquema na Transpetro.
Assim, no caso dos políticos
com privilégio de foro, os casos permanecerão no STF.
Depoimento que
compromete Temer.
Sérgio Machado
declarou, no que tange ao presidente Michel
Temer, que dele recebera pedido para financiar a
campanha de Gabriel Chalita à prefeitura
de São Paulo em 2012. O valor acertado entre ambos teria sido de R$ 1,5 milhão. O pagamento teria saído
dos cofres da Queiroz Galvão, uma das empreiteiras investigadas na Operação
Lava-Jato.
Segundo o relato de Machado
na delação "que Chalita não estava bem na campanha; que o depoente (Sérgio
Machado) foi acionado pelo senador Valdir Raupp para obter propina na forma de
doação oficial para Gabriel Chalita; que
posteriormente conversou com Michel Temer na Base Aérea de Brasília,
provavelmente no mês de setembro de 2012, sobre o assunto, havendo Michel Temer pedido recursos para a campanha de Gabriel Chalita".
Sempre segundo o delator, "o contexto da
conversa deixava claro que o que Michel Temer estava ajustando com o depoente
era que este solicitasse recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação
oficial para a campanha de Chalita; que
ambos acertaram o valor, que ficou em R$ 1,5 milhão."
No pedido de homologação
da delação encaminhado ao Supremo em doze de maio, Janot cita Temer, que então
estava interino na presidência da República. Primo, o Procurador Janot diz que o presidente é uma das
autoridades com foro privilegiado sobre as quais a delação traz detalhes. Secondo, o Procurador-Geral relaciona os
possíveis crimes existentes a partir da narrativa de Machado: organização
criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, "com
envolvimento do vice-presidente da República, de senadores e deputados
federais."
Possível solução legal da
questão em apreço.
Segundo refere a reportagem de
Carolina Brígido e André de Souza, o Presidente Michel Temer "poderá se livrar da investigação, uma vez
que Janot já solicitou arquivamento de acusação contra a então Presidente Dilma
Rousseff sob alegação de que, segundo a Constituição, o Presidente da República
não pode ser alvo de investigação por fatos anteriores ao seu mandato. No caso
da delação de Machado, os fatos são de 2012. "
(
Fonte: O Globo, de 24.09.2016 (Supremo
autoriza apurar citação a Temer)
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