Como era previsível, foi bastante concorrida
a posse da Ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal
Federal. A Ministra, em seu discurso de
posse, afirmou que o cidadão comum "não há de estar satisfeito" com o
Poder que presidirá no próximo biênio.
A propósito dessa insatisfação, a
Ministra disse: "para que o Judiciário nacional atenda como há de atender à legítima expectativa do brasileiro, não
basta mais uma vez reformá-lo. Faz-se urgente transformá-lo".
Diante da importância do cidadão comum,
a Ministra pediu licença ao Presidente Michel Temer, maior autoridade presente,
que a ele se referisse em seguida à figura do cidadão do povo.
A posse de Carmen Lúcia teve numeroso público, com a presença dos
ex-presidentes Lula da Silva e José Sarney, ambos em fase de baixa,
assim como um duríssimo discurso contra a corrupção feito pelo decano da Corte,
Celso
de Mello.
Sem
citar nomes, ele apostrofou aos "marginais da República". Citando Ulysses Guimarães, recordou o decano do
Tribunal o primeiro fundamento da moral
pública, a ser seguido: "não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem
roube".
A
oratória de Celso de Mello, ainda que sem descer a nomes, terá sido algo
incômoda para vários presentes à cerimônia: "Fatos notórios veiculados
pelos meios de comunicação social,
geradores de justa indignação popular, resultantes de investigações promovidas por órgãos
incumbidos da persecução penal, revelariam que se formou, em passado recente,
no âmago do aparelho estatal e nas
diversas esferas governamentais da Federação, uma estranha e perigosa aliança entre determinados setores do poder público, de um lado, e agentes
empresariais, de outro, reunidos em imoral sodalício com o objetivo ousado,
perverso e ilícito de cometer uma pluralidade de delitos profundamente
vulneradores do ordenamento jurídico instituído
pelo Estado brasileiro."
A propósito, entre os
presentes à cerimônia, Renan Calheiros, o Presidente do Senado,
tem dez inquéritos abertos no STF, entre investigações da Lava-Jato, da
Operação Zelotes e de outros temas. Lula da Silva, o ex-presidente, também
responde a um inquérito no Supremo, por conta da Lava-Jato. Nesse contexto, Carmen Lúcia cumprimentou o Presidente
Michel Temer com beijinhos no rosto, mas não fez o mesmo com o
Presidente do Senado, Renan Calheiros. Outro investigado que compareceu à posse foi
o Senador Edison Lobão (PMDB-MA).
Também compareceu o ministro Augusto Nardes, do TCU, que foi cumprimentar a
Presidente Cármen Lúcia, e é investigado
pela operação Zelotes, em um processo que é relatado pela própria Ministra Cármen Lúcia.
Outra alta autoridade, o Procurador-Geral da República, Rodrigo
Janot fez discurso bastante aplaudido, exceção feita do Senador Renan
Calheiros. Disse notadamente Janot: "As forças do atraso, que não desejam
mudança de nenhuma ordem, já nos bafejam com os mesmos ares insidiosamente
asfixiantes do logro e da mentira. Tem-se observado diuturnamente um trabalho
desonesto de desconstrução da imagem de investigadores e de juízes.
Atos midiáticos buscam ainda
conspurcar o trabalho sério e isento desenvolvido nas investigações da
Lava-Jato." O PGR foi aplaudido por todos os presentes, com a única
exceção do Senador Renan Calheiros.
Nessa oportunidade, o Procurador
Geral defendeu ainda as medidas contra a
corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal ao Congresso, como
projeto de lei de iniciativa popular. Rebatendo as críticas às propostas,
sinalizou ítem - que é um dos mais atacados - que permite que provas colhidas
de forma ilícita sejam utilizadas em investigações, depois de ponderados os
interesses em jogo.
Por fim, assim se expressou o
Procurador Rodrigo Janot: "Há hoje um consenso cristalizado na sociedade
brasileira de que é preciso punir os corruptos e de que o sistema jurídico
vigente no país é inepto para tal
propósito. Se as nossas propostas não são boas, que se apresentem outras
melhores."
Como se depreende por tais
assertivas e discursos, para vários dos presentes à cerimônia - que têm contas
pendentes na Justiça - não terá sido exatamente uma tarde aprazível aquela da
cerimônia no STF dedicada à posse da nova Presidente do Supremo, a Ministra
Cármen Lúcia.
(
Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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