sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Do front latino-americano

                                   

Diretamente de Ciudad de México.


          A perplexidade começa com o fato de que Donald Trump foi realmente convidado pelo presidente mexicano Enrique Peña Nieto.
          Para este senhor que se lançara como candidato à presidência com a famigerada proposta de construir um muro na fronteira dos EUA com o México, fica difícil de entender que Peña Nieto - que já não está bem nas pesquisas de opinião - possa pensar que ganharia algo politicamente recebendo em Palácio este grosseirão americano.
           E, como se assinala, não deu outra.  Trump não recuou um centímetro na sua absurda exigência de que o México pague pela construção do muro.
           Mister Trump volta para os States podendo arrotar que não recuou. Por sua vez, Peña Nieto, do corrupto PRI, que imaginara tirar algum lucro político do encontro, dele saíu ainda mais desmoralizado.
            Como se verifica, o impossível acontece. Mas não segundo um despropositado roteiro em que tivesse havido alguma gentileza de parte de Trump. Ao contrário, de acordo com o sádico, invisível roteirista dessa reunião - que poderia ser incluída dentro da série O impossível acontece - todo o script se desenrolou exatamente conforme as personalidades respectivas são vistas pelos públicos mexicano e americana.
             Para a sua gente, Peña Nieto passa por fraco. E para os americanos, Donald Trump é um fanfarrão...


A Manifestação da Oposição em Caracas


             Diante do desgoverno de Nicolás Maduro, a manifestação de ontem em Caracas da oposição mostrou a gravidade da situação.
              Jamais se vira na  capital venezuelana um tal afluxo de pessoas. Com a maioria dos manifestantes vestindo roupas brancas, o ato se desenvolveu de forma pacífica.
              Organizada pela MUD (Mesa da Unidade Democrática), o porta-voz dessa aliança opositora, Jesus Torrealba anunciou a convocatória de uma segunda marcha, marcada para o próximo dia sete de setembro.
              A finalidade dessas manifestações é a de exigir  a realização do referendo revogatório.
               O governo chavista - que é com justiça considerado pela população como o fautor da débacle do Estado, do desabastecimento, da hiper-inflação, etc . - continua tudo fazendo para dificultar as manifestações.
                 O presidente Nicolás Maduro persistiu na sua política de resistência ao referendo. Dada a situação e a revolta crescente da população diante do caos chavista, surpreende deveras que, defronte do cinismo dos órgãos do Estado chavista - que tudo fazem para criar dificuldades aos atos pacíficos do povo - as passeatas e as manifestações monstro organizadas pela Oposição  ainda se mantenham pacíficas.
                  Ignaro do perigo que corre, e da gravidade da situação,  o situacionismo e Maduro em especial multiplicam provocações, destinadas a tentar entorpecer o clamor multitudinário.
                   Além de fechar o metrô de Caracas, o chavismo de Maduro tudo empreendeu para dificultar - e por conseguinte diminuir - a grande demonstração popular. Nesse sentido, na rodovia Pan-Americana, policiais da Guarda Nacional Bolivariana lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que se dirigiam à capital.
                    Dentro da mesma orientação repressora, essa rodovia estava bloqueada pelos meganhas da G.N.B., desde a noite de quarta-feira, dia 31, dentro do esforço de tentar reduzir o afluxo do povo. Os populares, no entanto, movidos pela raiva e conscientes da importância de manifestar a sua oposição a tal governo, responsável pelo crescimento da fome no povo venezuelano, não tem sido detidos pelas inúmeras provocações e bloqueios rodoviários.
                     O Conselho Nacional Eleitoral - também dominado pelo chavismo - se arrasta, retardando a coleta de assinaturas, apesar do desconforto e da cólera crescente da população.  A MUD pressiona para que a coleta ocorra o quanto antes, para que o referendo possa ser realizado ainda deste ano.
                     Se a consulta for feita depois de dez de janeiro de 2017, data que marca dois terços do desgoverno de Nicolás Maduro, o vice Aristóbulo Isturiz, assumiria no caso da destituição de Maduro, de acordo com a Constituição chavista.
                      Como seria substituir seis por meia-dúzia, a Oposição e grande parte da população repele essa manobra.
                       Entrementes, Nicolás Maduro continua a agir como se estivesse no melhor dos mundos, ignaro dos riscos multitudinários que corre.
                       As suas alegadas 'soluções' para contra-arrestar a crise, não passam de fanfarronadas de quem age totalmente alheio ao perigo iminente diante da concentração da revolta popular.
                       Para que se tenha noção da própria insanidade, alinho as últimas declarações de Maduro: "Tenho pronto um decreto para retirar a imunidade de todos os cargos públicos e para ninguém utilizar a imunidade para conspirar, fazer um complot (sic), ir contra o povo e a paz".
                        E adiante, a fanfarronada: "Vou com a mão de ferro que Chávez me deu. Que ninguém se equivoque comigo."
                         Nem os Bourbon foram tão longe na própria insânia provocatória. Nicolás Maduro, com a sua varinha de pau, cutuca o Povo venezuelano. Paciência tem limite e quando se cerra a porta para a saída democrática, além de represar-se o desespero, se criam condições para que, cansado de tanto sofrimento, inflingido pela colossal mediocridade de  Maduro, não passe à violência a sofrida gente da Venezuela.


( Fontes: Folha de S. Paulo, The New York Times )

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