É provável, leitor amigo, que
desconheça a quem se refere o nome acima.
Vamos por partes. Recorda-se, por acaso, da foto que
correu mundo de menino afogado, cujo corpo inanimado deu em praia da atual
Turquia, e que foi descoberto por um guarda daquele país, há um ano atrás,
em dois de setembro de 2015?
Será difícil não olhar com carinho e
mesmo ternura o retrato de vítima inocente dessa conflagração - que já dura por
cinco anos - e que reedita, com as
previsíveis atualizações modernas, o caráter brutal, impiedoso e cínico de guerra civil
transformada em conflito internacional, em que várias potências, ou procuram
tirar vantagens de o que começara por simples passeatas reivindicando mais
democracia, e que se foi deteriorando em luta viciosa de que participam a
Rússia de Putin, o Irã, do Ayatollah
Ali
Khamenei, e de outro lado, coligação da Arábia Saudita e de países
sunitas. O Ocidente atua com bombardeios que visam notadamente o Estado
Islâmico, o chamado 'califado' de al-Baghdaadi, que mantém a sua 'capital' em
Raqqa, hoje sob ataques da coligação aérea liderada pelos Estados Unidos.[1]
Tudo isso começou há cerca de cinco
atrás, com o escopo de derrubar o ditador Bashar al-Assad, mas depois de
avanço considerável da Liga Rebelde (secundada pela Liga Árabe), graças à ajuda
in extremis recebida de Putin e do
Irã de Khamenei, a vantagem militar retornou para o campo do ditador sírio e
dos poderes que o apóiam (Rússia e Irã).
Com isso, quem paga o preço é a
população cívil, que o inferno sírio forçou ao êxodo. Na continuação do artigo
que dedico a essa questão (V. meu blog de domingo, 4 de setembro de 2016,
A Guerra na Síria) tentarei juntar os fios desse escândalo internacional.
Por que o frágil corpo do menino Alan Kurdi, afogado pelo
naufrágio de algum barco superlotado perto da ilha de Cós, no Dodecaneso, foi
parar em praia da Turquia, onde o descobriu e fotografou um guarda turco? Quem
matou esse menino inocente? Os poderosos desse mundo dirão que foi uma
fatalidade. Fatalidade? Então a atual guerra civil, reanimada pela ambição da
Rússia, de Vladimir Putin, e do Irã, de Ali Khamenei, acorrendo em defesa do
ditador Bashar al-Assad e sobretudo das vantagens que a sua manutenção no poder
irá assegurá-los, assim como garantir para Teerã a sobrevivência política da
milícia do Hezbollah, que atua no Líbano e adjacências.
O ditador al-Assad, antes encostado na
parede, foi salvo (por ora) pela intervenção dos poderes russo e islâmicos
acima citados, e também pela negação de Barack
Obama em aceder ao apelo dos quatro chefes da segurança americana
(encabeçados por Hillary Clinton), e por isso se absteve de armar os rebeldes
sírios. Obama preferiu continuar apenas no Afeganistão, abandonando os rebeldes
na Síria.
Esse recuo de Barack Obama não só
reforçaria o campo pró-Assad, i.e., o da repressão do povo sírio, mas também
tornaria infernal a vida da população civil síria, dentro do esforço do ditador
de Damasco de recuperar o que antes perdera, a começar por Aleppo (de onde,
aliás, provém a família do pobre Alan Kurdi).
Por cortesia da mídia, dispomos de
foto de o que resta da família de Hivrun Kurdi, tia do menino Alan Kurdi, cujo
corpo afogado despertaria a tarda ternura do Ocidente. Graças à coragem
política da Chanceler Angela Merkel, essa família da antiga Síria
está recolhida em abrigo de Bramsche, na RFA.
Há dúvidas por quanto tempo o
governo alemão tratará com humanidade os refugiados sírios. Os tempos hoje parecem mais pender para o
homem-forte da Hungria, o Primeiro Ministro Viktor Orban - que fecha
as portas com grades para não acolher refugiados.
( Fonte: The New York Times
)
[1]
A situação da Síria hodierna é uma espécie de reedição da Guerra Civil
Espanhola, que foi um dos conflitos precursores da II Guerra Mundial.
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