segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A doença de Hillary

                                         

       Talvez não seja Hillary quem esteja realmente doente. A reação de certa parte da imprensa americana - até mesmo de Susan Dominus que escreve - vejam só! - para o New York Times, nos dá, como escrevia antigamente Lord Altrincham, quando se referia à jovem Rainha Elizabeth, um certo incômodo na nuca.
       
         Naquele tempo, a vozinha fina e por vezes esganiçada da Soberana, cuja coroação era recentíssima, lhe mostrava a juventude e talvez alguma inexperiência.

         E vejam. Hoje em dia, em grandes ou tristes ocasiões, como cabe à constituição inglesa, as suas palavras são ouvidas com deferência e, por vezes emoção, de parte de seus súditos. Ela continua presente e respeitada. E, por outro lado, quem mais se ocupa de Lord Altrincham?
         
        A reação de boa parte da mídia americana, se me lembra de um lado esse antigo e superadíssimo episódio, me aponta igualmente para  total falta de respeito e de consideração humana.

        Quem está doente não é a candidata Hillary. Pensou ser possível ocultar uma condição que, em outros tempos, era precursora da morte, e hoje, os antibióticos e o necessário repouso e resguardo serão quase sempre bastantes para deter a marcha da enfermidade.

         O 'erro' de Hillary foi querer comparecer à cerimônia alusiva a esse grande trauma estadunidense, que é o nine-eleven. Saídos não se sabia de onde, aqueles aviões de carreira sequestrados abateram as Torres Gêmeas! O mais grave e o mais trágico foram as mais de três mil vítimas inocentes de Osama ben Laden. Há fenômenos psicológicos - mesmo os de massa - que são difíceis de superar. Mas a sociedade americana vai consegui-lo, como o seu comportamento tem demonstrado.

          O Presidente Obama teve a coragem política de assumir missão dos seals (focas - os comandos da Marinha) para prender e no caso justiçar o terrorista Osama, que estava homiziado no Paquistão. A determinação presidencial mandaria para o fundo do mar quem pensara humilhar os Estados Unidos.
          Mas voltemos a incrível peça de Susan Dominus. A afecção pulmonar para ela é motivo de deboche e até de querer incluí-la em uma lista de supostas gaffes de Hillary, inclusive a anciã delas, a relativa  às donas de casa que faziam cookies.
           Há algo de profundamente errado em um grupo que vê na pneumonia de Hillary, não a afecção que outrora foi grave e será sempre merecedora de cuidado, mas a ulterior oportunidade de, com cinismo mal-disfarçado, golpear a arqui-inimiga, aquela que pode até tornar-se Madam President, e - maravilha! - livrar os Estados Unidos de um auto-infligido pesadelo, que  seria uma Presidência de Donald Trump!
          Lembra-se acaso a jornalista Susan Dominus da objurgatória do Procurador Especial do Exército americano, Joseph Welsh, que jogou a 9 de junho de 1954 a pá de cal nos McCarthy Army Hearings na carreira infame do Senador Joseph McCarthy, ao dizer-lhe : Have you Senator no Decency, no sense of decency left? (Senador, não resta ao senhor  nenhum sentido de decência?)
           É claro que não se pode comparar  a grandeza desta observação, e o que ela provocou, com a atitude um tanto mesquinha e que parece divertir-se com problemas alheios, como o título do artigo de Susan Dominus já parece demonstrá-lo : Observando e estremecendo enquanto Clinton tropeça (Watching and Wincing as Clinton Stumbles).  
           Na verdade, o problema não está na observação. Está no que ela pretende instrumentalizar.  A jornalista parece esquecer  que há limite para tudo.  Até para o sentido da decência. Pois ela carece de recarregá-lo com urgência...


( Fonte: The New York Times ) 

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