Talvez não seja Hillary
quem esteja realmente doente. A reação de certa parte da imprensa americana -
até mesmo de Susan Dominus que
escreve - vejam só! - para o New York
Times, nos dá, como escrevia antigamente Lord Altrincham, quando se referia
à jovem Rainha Elizabeth, um certo incômodo na nuca.
Naquele tempo, a vozinha fina e por vezes esganiçada da Soberana, cuja
coroação era recentíssima, lhe mostrava a juventude e talvez alguma inexperiência.
E vejam. Hoje em dia, em grandes ou tristes ocasiões, como cabe à
constituição inglesa, as suas palavras são ouvidas com deferência e, por vezes
emoção, de parte de seus súditos. Ela continua presente e respeitada. E, por
outro lado, quem mais se ocupa de Lord Altrincham?
A reação de boa parte da mídia americana, se me lembra de um lado esse
antigo e superadíssimo episódio, me aponta igualmente para total falta de respeito e de consideração
humana.
Quem está doente não é a candidata Hillary. Pensou ser possível ocultar
uma condição que, em outros tempos, era precursora da morte, e hoje, os
antibióticos e o necessário repouso e resguardo serão quase sempre bastantes
para deter a marcha da enfermidade.
O 'erro' de Hillary foi querer
comparecer à cerimônia alusiva a esse grande trauma estadunidense, que é o nine-eleven. Saídos não se sabia de
onde, aqueles aviões de carreira sequestrados abateram as Torres Gêmeas! O mais
grave e o mais trágico foram as mais de três mil vítimas inocentes de Osama ben
Laden. Há fenômenos psicológicos - mesmo os de massa - que são difíceis de
superar. Mas a sociedade americana vai consegui-lo, como o seu comportamento
tem demonstrado.
O Presidente Obama teve a coragem política de assumir missão dos seals
(focas - os comandos da Marinha) para prender e no caso justiçar o terrorista
Osama, que estava homiziado no Paquistão. A determinação presidencial mandaria
para o fundo do mar quem pensara humilhar os Estados Unidos.
Mas voltemos a incrível peça de Susan Dominus. A afecção pulmonar para
ela é motivo de deboche e até de querer incluí-la em uma lista de supostas gaffes de Hillary, inclusive a anciã
delas, a relativa às donas de casa que
faziam cookies.
Há algo de profundamente errado em
um grupo que vê na pneumonia de Hillary, não a afecção que outrora foi grave e
será sempre merecedora de cuidado, mas a ulterior oportunidade de, com cinismo
mal-disfarçado, golpear a arqui-inimiga, aquela que pode até tornar-se Madam
President, e - maravilha! - livrar os Estados Unidos de um auto-infligido
pesadelo, que seria uma Presidência de
Donald Trump!
Lembra-se acaso a jornalista Susan Dominus da objurgatória do Procurador
Especial do Exército americano, Joseph Welsh, que jogou a 9 de junho de 1954 a
pá de cal nos McCarthy Army Hearings
na carreira infame do Senador Joseph McCarthy, ao dizer-lhe : Have you Senator
no Decency, no sense of decency left? (Senador, não resta ao senhor nenhum sentido de decência?)
É claro que não se pode
comparar a grandeza desta observação, e
o que ela provocou, com a atitude um tanto mesquinha e que parece divertir-se
com problemas alheios, como o título do artigo de Susan Dominus já parece
demonstrá-lo : Observando e estremecendo enquanto Clinton tropeça (Watching and
Wincing as Clinton Stumbles).
Na verdade, o problema não está na
observação. Está no que ela pretende instrumentalizar. A jornalista parece esquecer que há limite para tudo. Até para o sentido da decência. Pois ela
carece de recarregá-lo com urgência...
( Fonte: The New York Times )
Nenhum comentário:
Postar um comentário