sábado, 17 de setembro de 2016

Denúncia do MPF contra Lula

                                 
                               
        Deveríamos acaso invocar a autoridade do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867~1936) na discussão sobre a pertinência da denúncia feita pelo Ministério Público Federal (a cargo de Deltan Dallagnol)?
        A esse propósito o repórter de VEJA, Pieter Attema Zalis, assina, no já citado número de VEJA desta semana nota sobre a denúncia pelos  procuradores da Lava-Jato "Uma Denúncia, algumas verdades e mentiras".
        Nessa nota - pois ocupa metade de uma página - Pieter Zalis se ocupa da denúncia contra Lula pelo MPF, e de sua repercussão na mídia e na opinião pública.
        A parte da fala do procurador Deltan Dallagnol com as acusações a Lula surpreendeu - e não sob o aspecto favorável. Segundo Zalis, teria havido excesso de contundência. Citado 121 vezes e acoplado  a termos superlativos (comandante, comandante máximo, comandante do esquema, peça central, general, líder partidário, máestro e vértice).  Ainda segundo Zalis, quando o verbo é muito carregado, fica a suspeita de que falta materialidade.
        Dentro desse contexto, o ponderado Zalis se permite essa observação crítica: "Nisso, o espetáculo fere a credibilidade da própria denúncia."
        Segundo a nota de VEJA, assinada por Pieter Zalis, se deveria assinalar de início que a denúncia contra Lula resultou em uma crítica verdadeira ("Foi espetaculosa e estridente"), outra discutível ("A denúncia é frágil") e uma terceira falsa ("Foi um erro o fato de a peça não imputar a Lula o crime de formação de quadrilha, sendo que essa acusação lhe foi feita em todas as falas dos procuradores".
           Seguindo P. Zalis, "começando pela última: há no Supremo Tribunal Federal, um pedido do Procurador-Geral da República para investigar Lula, entre outras coisas, por crime de formação de quadrilha.  O pedido ainda está sob análise do ministro-relator Teori Zavascki. Embora não haja empecilho para que uma pessoa seja investigada em várias frentes pelo mesmo crime, existe sim impedimento legal para que ela seja 'denunciada' duas vezes pelo mesmo delito.(...) Para o especialista Davi Tangerin, professor de direito penal da Uerj e da FGV-SP, o fato de a Lava-Jato não ter denunciado Lula por formação de quadrilha, ainda que verbalmente lhe tenha imputado o delito, pode indicar que a força-tarefa esteja "montando um caso mais amplo sobre esse crime antes de apresentá-lo à Justiça." Provavelmente não à primeira instância, mas ao STF. Seria, portanto, uma opção, e não um erro."
               "Quanto à fragilidade da denúncia, segundo Zalis, os especialistas se dividem.  Para alguns, a longa exposição dos procuradores sobre o mensalão e o esforço em comparar a situação de José Dirceu naquele episódio com a de Lula no  petrolão serviram para contextualizar a denúncia sobre o tríplex e fortalecê-la. Para outros, apenas deixaram evidentes a falta de robustez sobretudo no que diz respeito à acusação de corrupção. Essa questão será decidida em breve pelo juiz Sérgio Moro."
               Não se tem dúvida, porém, que a apresentação foi um inesperado excesso de contundência. "Só o procurador Deltan Dallagnol citou o nome de Lula 121 vezes, acoplado a termos superlativos como comandante, comandante máximo, comandante do esquema,peça central, general, líder partidário, maestro e vértice." E aqui Zalis acrescenta crítica que tem peso: "Quando o verbo é muito carregado, fica a suspeita de que falta materialidade. Nisso, o espetáculo fere a credibilidade  da própria denúncia."
               O parágrafo final da avaliação de Pieter Zalis completa a análise anterior, em que há uma reserva séria quanto a catilinária de Dalton Dallagnol: A sua fala, "no entanto pode ter sido parte de uma estratégia destinada a preparar os ânimos - de um lado e de outro - para uma medida mais drástica que estaria por vir, como a decretação da prisão de Lula, por exemplo.  Ocorre que, nesse caso, ela significaria  que os procuradores consideraram mais importante a "captura" de Lula do que a preservação da credibilidade da Lava-Jato. E, ao transmitirem a mensagem de que mais valem certos troféus do que a busca cega da Justiça, é certo que erraram.""
              Nesse contexto, é conhecido o texto da representação da chefia do Ministério Público que foi encaminhada ao Supremo, e que é analisada pelo encarregado da Lava-Jato no STF, i.e. o Ministro Teori Zavascki.
              Assim sendo, a avaliação de Zalis pode ser contestada de ambos os lados, por ser tratar evidentemente de uma questão a ser processada.  E muita água ha de correr por baixo dessa ponte.


( Fonte: VEJA )

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