O mau gestor
- no caso, a má-gestora - pode ter uma influência perniciosa muito além de o
que imaginar-se possa.
A piora
sensível nas contas públicas foi causada pela política econômica desastrosa de
Dilma Rousseff, já a partir de seu primeiro ano de governo.
Na sua ânsia
do distributivismo na economia, não hesitou em redespertar a inflação, através
de políticas ruinosas, com que visou à elevação do salário mínimo, enquanto
partia para um distributivismo acelerado.
Pensando
que podia fabricar dinheiro e aumentar o rendimento das classes mais baixas,
Dilma já nos primórdios de seu primeiro mandato, cuidava da inflação com o
gogó, empregando um discurso retrógrado ou cínico, no gênero do não permitirei isto ou aquilo, como se
as forças econômicas e a taxa da inflação viessem a obedecer suas regras de economista de terceira.
Além de
enfraquecer os instrumentos para combater a carestia - valeu-se de um chefe do
Banco Central que não tinha autonomia alguma - Dilma encetou uma elevação
brutal no salário mínimo, engordado não só por critérios financeiros, mas
também pela demagogia dos governos sindicalistas (modelados no chavismo).
Daí os
seus crescentes recursos a meios heterodoxos em termos de economia e finanças,
que tiveram as consequências previsíveis, tanto aqui, quanto em outras plagas
da América Latina. O governo de Maduro - que se sustenta contra o Povo, que o
quer ver - e com toda a razão - pelas costas, dada a sua criminosa
incompetência.
Dilma
conseguiria reeleger-se mas à custa de tão grandes mentiras e com curtíssimo
prazo de validade, que o seu segundo governo seria reedição piorada do
primeiro, e a fortiori sob o conjunto
ataque do merecido descrédito popular (enraivecido pela boçal dose de mentiras
na respectiva propaganda) e a explosão dos escândalos financeiros.
Surgiria
então a operação Lava-Jato, que lancetou a inchação burocrática e, sobretudo, a
deslavada corrupção que tão bem se reflete nos cínicos diálogos dos
empreiteiros com o poder petista.
Debalde
tentou Dilma quebrar o poder judiciário e sobretudo o Juiz Sergio Moro que de
Curitiba encetou um processo de recuperação ética e financeira de um processo
então fundamente comprometido pelas relações entre o petismo e as grandes
empreiteiras, com a Odebrecht à frente.
O grande
erro de Luiz Inácio Lula da Silva foi ter acreditado possível criar uma estrutura de poder fundada
na corrupção sistêmica. Na cegueira da húbris acreditou ainda mais como
possível sustentar o governo sob os princípios da fraude e do fraudulento
arrocho da corrupção que, atingido certo grau, sai do controle e passa a julgar
possível que aqui possamos estruturar um sistema baseado na mentira.
Seja pela
lei penal, seja pela própria economia, o que parece possível em estruturas
ainda rudimentares e de baixa cultura política - como Angola, v.g., venha a
implantar-se com êxito em economias mais desenvolvidas.
A fraude
é um câncer que tudo distorce. Ao atacar a Petrobrás, o governo do PT pensou
possivel para cá transplantar esquemas tortos de gestão que semelham ter
sucesso no México, na Venezuela e na África.
A cruzada iniciada pelo juiz Moro, como a outra ponta da Lava-Jato - a
do juiz justo e inflexível, que pelo apoio popular torna inviável os habeas
corpus da influência, e corta pela raiz o poder dos corruptos, que no passado
retinham ainda força para inviabilizar operações nascidas com boas intenções,
mas com baixo apoio sistêmico.
A popularidade do Juiz Moro é a
maior garantia que o atual sistema jurídico pode ter na correta aplicação da
justiça. Se as forças da corrupção estarão sempre à espreita, no aguardo de
eventuais falhas na aplicação da lei e na impiedosa perseguição da aliança dos
corruptos, cabe ao Ministério Público, através do trabalho consciente de levar
a juízo os suspeitos - qualquer que seja a sua hierarquia, e como bem sabemos,
o crime e a corrupção estão aninhados em muitos extratos da sociedade, e não
lhe faltam representantes/defensores em todos os níveis. Eles sabem que a sua
única esperança está em estabelecer em relações adulterinas com os grandes
representantes da mala vita, e os há em todos os organismos do Poder.
Assim, os ingênuos, sejam eles verdadeiros ou falsos, não são a madeira
de lei para montar as bases de um ataque bem-sucedido contra a cidadela do
crime em todas as suas formas.
Lula
da Silva cometeu talvez o seu maior erro ao acreditar possível fazer de Dilma
Rousseff alguém que lhe pudesse continuar no respectivo caminho. As falhas do seu projeto podem ser
consideradas ínsitas, na medida em que a corrupção - que mina o Estado e a
Economia - não terá condições de preponderar com estrutura judicial e
policial com uma parcela ponderável de funcionários honestos, preparados e, por conseguinte, corretos e eficazes.
E
este era felizmente o caso do Brasil, como se poderá ver adiante. O projeto de
Lula da Silva se levado adiante dentro das premissas do dito Mensalão poderia gerar um monstro no
Estado brasileiro, que se descobriria vítima dos princípios do mal, que através
da localização para eles apropriada poderia controlar os impulsos éticos da
cidadania. Todo Estado corre este magno risco, como vemos, v.g. na Federação
Russa de Vladimir Putin, um estado do racket, que pelo estudo magistral da
professora Karen Dawisha é exposto para quem tenha olhos para ler no seu livro
"Putin's Kleptocracy" (A Cleptocracia de Putin). E não se iludam
aqueles ingênuos de plantão de que tal seja impossível.
Pela ingenuidade de uns, pela disponibilidade de outros (escolhidos no
país e também fora dele) como está demonstrado pela prof. Dawisha, que leciona
na Universidade Miami, em Oxford, Ohio, e é diretora do Centro Havighurst para estudos russos e pós-soviéticos, dessa
universidade.
(a continuar)