segunda-feira, 13 de maio de 2019

Papa Francisco se agiganta diante de opositores


                            Não provoca surpresa que, na aberta discordância contra a Igreja generosa e inovadora, simbolizada pelo atual Sumo Pontífice  e o Concílio Vaticano II - surja um novo papel, de lavra da grei dita conservadora, afastada tanto do século quanto dos reais desafios que o citado Concílio, convocado pelo Santo Papa João XXIII, se propusera enfrentar.  Por estranho que pareça, ainda existam descontentes com os novos tempos, em que a Igreja se propõe ir ao seu encontro, e, por conseguinte mais participar do século e seus desafios,  para tanto afastando-se do excesso de pompa e da ilusória  circunstância, assim como de linguagem e de simbologia que mais tende  a afastá-la dos reais desafios dos modernos tempos.

         Não surpreende, por conseguinte, que do grupo a que se terá  associado o transitório pontífice anterior, Bento XVI, e que renunciara ao pontificado em 2013, alegando graves problemas de saúde, surja agora mais uma carta, firmada por oitenta e um leigos católicos ditos ultra-tradicionalistas, ainda que cardeal ou mesmo bispo algum  nela haja aposto  assinatura. A carta se insere em uma série  de três documentos da lavra de série produzida  por acadêmicos católicos desde 2016, com críticas acerbas a Francisco, mas até o presente ela não foi endossada publicamente por cardeal ou bispo algum.

         Em Roma, o entendimento é que se trata de  documento de embaraçoso superficialismo e de um tom político que o afasta do tema.  Segundo o padre Bernard Ardura, presidente do Conselho de Ciência Histórica do Vaticano, a heresia é um dos temas de mais árduo tratamento - tenha-se presente que o último pontífice que ousou arrostá-lo foi João XXII, no século XIV ! É de notar-se que o próximo Santo Padre a chamar-se João - em homenagem ao apóstolo João e o seu viés de falar à toda gente, na propagação da fé - foi um grande Papa do século XX, talvez o maior, a saber Papa Roncalli (28.X,1958 -3.VI.1963), hoje já santificado, depois da longa e previsível espera, que aos grandes pontífices sói ser  reservada.

            Essa carta faz parte da investida do conservadorismo clerical contra Papa Bergoglio.  O padre  Giuseppe Ruggieri, professor aposentado de teologia da Universidade de Catânia (Sicília), afirma que os ataques da direita conservadora com raízes na Igreja são organizados e, a propósito, cita  Steve Bannon - que depois de estrategista de  Donald Trump, passou a cultivar grêmios conservadores europeus - que é um dos encorajadores do movimento contra o Papa, dentro de um entendimento lato do embate entre a Esquerda inovadora e a Direita reacionária.
  
             Semelha oportuno sublinhar que Papa Francisco nunca responde aos detratores- ele prefere falar pelo silêncio na questão.  A propósito, na semana passada, o Santo Padre comentou em que os insultos  se tornaram "normais" : "Um político insulta o outro, um vizinho insulta o outro, e também nas famílias um insulta o outro. Não sei dizer se há uma cultura do insulto, mas o insulto é uma arma na mão."  

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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