Não provoca surpresa que, na aberta
discordância contra a Igreja generosa e inovadora, simbolizada pelo atual Sumo
Pontífice e o Concílio Vaticano II - surja
um novo papel, de lavra da grei dita conservadora, afastada tanto do século
quanto dos reais desafios que o citado Concílio, convocado pelo Santo Papa João XXIII, se propusera
enfrentar. Por estranho que pareça, ainda
existam descontentes com os novos tempos, em que a Igreja se propõe ir ao seu
encontro, e, por conseguinte mais participar do século e seus desafios, para tanto afastando-se do excesso de pompa e
da ilusória circunstância, assim como de
linguagem e de simbologia que mais tende a afastá-la dos reais desafios dos modernos
tempos.
Não surpreende, por conseguinte, que
do grupo a que se terá associado o
transitório pontífice anterior, Bento XVI,
e que renunciara ao pontificado em 2013, alegando graves problemas de saúde,
surja agora mais uma carta, firmada por oitenta e um leigos católicos ditos ultra-tradicionalistas,
ainda que cardeal ou mesmo bispo algum nela
haja aposto assinatura. A carta se insere em uma série de três documentos da lavra de série produzida por acadêmicos católicos desde 2016, com
críticas acerbas a Francisco, mas até o presente ela não foi endossada
publicamente por cardeal ou bispo algum.
Em Roma, o entendimento é que se
trata de documento de embaraçoso superficialismo e de um tom político que o
afasta do tema. Segundo o padre Bernard
Ardura, presidente do Conselho de Ciência Histórica do Vaticano, a heresia é um
dos temas de mais árduo tratamento - tenha-se presente que o último pontífice
que ousou arrostá-lo foi João XXII, no século XIV ! É de
notar-se que o próximo Santo Padre a chamar-se João - em homenagem ao apóstolo
João e o seu viés de falar à toda gente, na propagação da fé - foi um grande Papa
do século XX, talvez o maior, a saber Papa Roncalli
(28.X,1958 -3.VI.1963), hoje já santificado, depois da longa e previsível
espera, que aos grandes pontífices sói ser reservada.
Essa carta faz parte da investida do
conservadorismo clerical contra Papa Bergoglio. O padre
Giuseppe Ruggieri, professor aposentado de teologia da Universidade de
Catânia (Sicília), afirma que os ataques da direita conservadora com raízes na
Igreja são organizados e, a propósito, cita
Steve Bannon - que depois de
estrategista de Donald Trump, passou a cultivar grêmios conservadores
europeus - que é um dos encorajadores do movimento contra o Papa, dentro de um
entendimento lato do embate entre a Esquerda inovadora e a Direita
reacionária.
Semelha oportuno sublinhar que Papa Francisco nunca responde aos
detratores- ele prefere falar pelo silêncio na questão. A propósito, na semana passada, o Santo Padre
comentou em que os insultos se tornaram
"normais" : "Um
político insulta o outro, um vizinho insulta o outro, e também nas famílias um
insulta o outro. Não sei dizer se há uma cultura do insulto, mas o insulto é
uma arma na mão."
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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