Quem se aferra ao
plebiscito estival de 2013 como se aquela expressão da vontade popular
britânica tivesse significado marcante para nortear a posição de Londres, não
pode ser levado a sério. Com a débil maioria de 3% e com afluxo de votantes que
bem correspondeu àquele falso marco de resolução demasiado importante para ser
debatida e votada em época de veraneio, que é tempo de praças vazias e de
praias - mesmo aquelas britânicas - cheias, na verdade deverá merecer tanto
respeito quanto o pobre David Cameron, cuja carreira e ambição política foram
ceifadas por aquele resultado que jogou na lata de lixo da História tanto a sua
carreira política quanto o desígnio da plêiade que não se intimidara com os
vetos sucessivos de de Gaulle.
Todas as dificuldades que a Theresa May
vem encontrando e a sua disposição de tentar absolutamente quase tudo, menos
mostrar o brio de promover um debate para valer quanto a virar essa página e ao
invés de aferrar-se a imaginários empecilhos, aceitar que desde muito soou a
hora de pôr a nu aquele falso enigma. Na
verdade, todas essas hesitações, todo esse temor em derribar o que não passaria de um ilusório quadro que não atende ao interesse
inglês.
Que pulsões se escondem em tantas
hesitações, em tal encarnecida disposição de preservar a todo custo o que não
passa de uma falsa maioria, produzida por infeliz conjunto de circunstâncias
? Decerto faltou sangue e gente nessa
desastrada resolução, e reconhecer tal verdade não me parece coisa que
justifique continuar a enfiar a cabeça na areia grossa daqueles pífios resorts em litorais tão esquecidos
quanto pouco frequentados, como se tal lamentável e mentirosa decisão devesse
ser preservada ad aeternitatem, malgrado todas as
consequências que há de trazer a estultícia de um ex-primeiro ministro, e os
estranhos jogos de um parêntesis que se compraz em trazer de volta um nevoeiro
que apenas esconde um porvir da mediocridade extrema?
(
Fontes: Carlos Drummond de Andrade; o verão europeou e o inverno de ideias. )
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