O
primeiro tiro que atinge o músico Evaldo
Rosa nas costas foi disparado a
250m de distância do carro, em que ele e a família pensavam ir no dia
sete de abril, quando rodavam para um chá de bebê, em Guadalupe.
Os disparos irrompem quando o carro, dirigido
pelo músico, está na esquina da travessa Brasil e ruma para a estrada do
Camboatá. Mal dobra a esquina e Evaldo é
alvejado. A bala entra pela parte traseira do carro, atravessa o banco do motorista
e o acerta em cheio. Mas o carro também
será varado por outros tiros potentes, e de uma ponta a outra.
Para
as promotoras Najla Nassif Palma e
Andrea Helena Blum Ferreira,
que assinam a denúncia contra os militares pelos homicídios de Evaldo e do catador Luciano Macedo,
que intentara socorrê-lo, houve patente excesso dos integrantes do Exército na
reação ao assalto (que nunca houve)
Consoante
a investigação, após a fuga dos assaltantes em dois carros brancos, os
militares os perdem de vista e embarcam de novo em viatura. Pouco depois, eles
vêem o carro de Evaldo a quase 300
m. O veículo, atingido, está parado, com o músico inconsciente ao volante.
Então o catador Luciano intenta
socorrer o músico. A 43 m do carro, os militares desembarcam. Logo após, os militares disparam, como num
frenesi, muitas rajadas de tiros, de acordo com a investigação. Três acertam
Luciano, o catador que queria ajudar,
e mais oito vão atingir o já inerte
Evaldo. Aquele frenesi de tiros sem sentido - pois não há qualquer reação -
monta a 62 disparos. No total, os doze militares fazem 257 tiros. O músico Evaldo Rosa - que pensava levar
a família para uma festinha infantil - morre
ali mesmo. Já o pobre catador Luciano é transportado para o
Hospital Estadual Carlos Chagas, aonde vai expirar em onze dias depois.
Como O Globo revelara, os
militares buscaram justificar a sua fuzilaria, tentando fazer passar que
Luciano estivesse com uma pistola, e houvesse procurado atacar a patrulha. Entretanto,
nenhuma arma foi encontrada na cena do crime. Dayane Horrara, mulher de Luciano e testemunha do crime,
afirmou ontem que os militares mentiram:
"Mataram
o Luciano no mês passado. Agora, querem matar meu marido de novo, dizendo que
ele era bandido, mas a investigação mostra que isso não é verdade."
Nove dos doze militares
envolvidos estão presos. Todos eles respondem por duplo homicídio e omissão de
socorro."
(
Fonte: reportagem de Rafael Soares, do jornal O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário