segunda-feira, 13 de maio de 2019

A tresloucada reação ao assalto que não houve


       
      O primeiro tiro que atinge o músico Evaldo Rosa nas costas foi disparado a  250m de distância do carro, em que ele e a família pensavam ir no dia sete de abril, quando rodavam para um chá de bebê, em Guadalupe.
         Os disparos irrompem quando o carro, dirigido pelo músico, está na esquina da travessa Brasil e ruma para a estrada do Camboatá.  Mal dobra a esquina e Evaldo é alvejado. A bala entra pela parte traseira do carro, atravessa o banco do motorista e o acerta em cheio. Mas o  carro também será varado por outros tiros potentes, e de uma ponta a outra.

       Para as promotoras Najla Nassif Palma e Andrea Helena Blum Ferreira, que assinam a denúncia contra os militares pelos homicídios de Evaldo e do catador Luciano Macedo, que intentara socorrê-lo, houve patente excesso dos integrantes do Exército na reação ao assalto (que nunca houve)

          Consoante a investigação, após a fuga dos assaltantes em dois carros brancos, os militares os perdem de vista e embarcam de novo em viatura. Pouco depois, eles vêem o carro de Evaldo a quase 300 m. O veículo, atingido, está parado, com o músico inconsciente ao volante. Então o catador Luciano intenta socorrer o músico. A 43 m do carro, os militares desembarcam.  Logo após, os militares disparam, como num frenesi, muitas rajadas de tiros, de acordo com a investigação. Três acertam Luciano, o catador que queria ajudar, e mais oito vão atingir o já inerte Evaldo. Aquele frenesi de tiros sem sentido - pois não há qualquer reação - monta a 62 disparos. No total, os doze militares fazem 257 tiros. O músico Evaldo Rosa - que pensava levar a família para uma festinha infantil - morre ali mesmo. Já o pobre catador Luciano é transportado para o Hospital Estadual Carlos Chagas, aonde vai expirar em onze dias depois.

             Como O Globo revelara, os militares buscaram justificar a sua fuzilaria, tentando fazer passar que Luciano estivesse com uma pistola, e houvesse  procurado atacar a patrulha. Entretanto, nenhuma arma foi encontrada na cena do crime. Dayane Horrara, mulher de Luciano e testemunha do crime, afirmou ontem que os militares mentiram:

"Mataram o Luciano no mês passado. Agora, querem matar meu marido de novo, dizendo que ele era bandido, mas a investigação mostra que isso não é verdade."

                 Nove dos doze militares envolvidos estão presos. Todos eles respondem por duplo homicídio e omissão de socorro."

( Fonte: reportagem de Rafael Soares,  do jornal O Globo )     

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