Depois
de haver imposto o terror em muitos países, logrando estabelecer-se de forma
permanente na Síria e no Iraque, o famigerado Estado Islâmico foi afinal expulso do Oriente Médio e do Iraque. No seu apogeu, de sua capital Raqqa, no norte
da Síria, o "califa" Abu Bakr al-Baghdadi se dirigia aos
'fiéis' do balcão da mesquita.
Se
o E.I. não foi extinto, apesar de ter sido escorraçado de boa parte do Iraque,
de que se apossara, e das províncias sirias, com a intervenção dos Estados Unidos,
do próprio Iraque e da Síria de al-Assad, ora Abu Bakr voltou a público, não mais
com os ares monárquicos de antanho, debruçado no balcão da mesquita de Raqqa, mas para agora dizer que se o
'califado' territorial é coisa do passado, o "virtual" assinalará este novo período de sua jornada.
De acordo com o jornalista Graeme
Wood, autor de "A guerra do fim dos tempos - O Estado Islâmico e o
mundo que ele quer", não dispondo mais de território, pensa conseguir, no
entanto, projetar o seu poder globalmente.
Se não assusta, prende no entanto a atenção para que ora o E.I. se
adestre para uma nova fase que inclua mais uma insurgência no Iraque e na
Síria, assim como o apoio a ataques no exterior.
No auge do califado, o EI chegou a dominar 88 mil km2, com oito milhões
de pessoas submetidos à Lei Islâmica. Implantou-se na Síria, Médio Oriente,
Iraque, Africa do Norte (Egito, Líbia), Sudeste da Ásia e África Ocidental. Antes auto-suficiente em petróleo, agora ele pensa reorientar-se para a área
virtual, e para tanto conta entre catorze e dezoito mil extremistas atuantes no
Iraque e na Síria. Alem disso, estariam,a seu serviço cerca de
dezoito mil extremistas.
Para o futuro, eles pensam
reeditar os quintas-colunas do nazismo. Para tanto, pode ser tomado como
'modelo' a sua presença no Sri Lanka. Segundo Mia Bloom, o EI promove
um vício em mídia social e explora o "medo de ser deixado de fora".
Mas não basta o material para radicalizar. O EI cria uma bolha de fake news para deixar as pessoas ou
tristes ou com raiva, acrescentando que a única solução é juntar-se ao EI. Nesta linha, ele exacerba a sensação de
alienação, e de desconfiança do eventual 'outsider',
nas palavras de Mia Bloom. Note-se que os 32 bureaux de mídia operantes no auge
de sua propaganda, em 2014, se concentraram em uma estrutura, mas ela foi capaz
de traduzir para vinte idiomas um quadro sinótico dos ataques no Sri Lanka. E
note-se que o vídeo extra-oficial em que extremistas cingaleses juraram
lealdade ao "califa" al-Baghdaadi
continha "elementos da marca" do E.I.
O que o E.I. conseguiu
no Sri Lanka deve ser registrado e analisado para eventual emprego de defesa no
futuro. É de notar-se que o E.I. tenta
instrumentalizar conflitos locais, oferece 'expertise',
treinamento, até dinheiro, e explora queixas locais que sirvam aos próprios
interesses. É de observar que os muçulmanos no Sri Lanka historicamente são de
ânimo pacífico. Nem o grupo Thowheeth
Jamaath National (NTJ) tinha um registro de violência.
Sem embargo, os analistas
sublinham que não existe um perfil para o terrorista e que, por conseguinte, não
deveria ser surpresa, como o foi para o Sri Lanka, que homens-bomba fossem
ricos e tivessem alto nível intelectual.
Para a
especialista Mia Bloom, "quem
pensa que terrorista é insprado por fraqueza ou pobreza tem uma ideia
equivocada sobre o que leva uma pessoa a lutar por uma causa religiosa".
Ela adota a crença de que há uma só forma de viver de acordo com a religião.
E, por isso, essa pessoa sofre uma crise existencial. Chega a um ponto de sua
vida em que deseja algo mais. E algumas pessoas têm crises mais intensas e se
engajam em formas violentas...
(
Fonte: O Globo - Sem Terras, Estado Islâmico vira 'califado virtual'. )
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