domingo, 5 de maio de 2019

Bolsonaro vai extraditar pessoas por delito de opinião?


      
       Para tudo há limites, e tal se aplica no Brasil à opinião política. Se as ditaduras no passado cometeram a enormidade de livrar brasileiros e estrangeiros à sanha da repressão de regimes autoritários, em posturas que se dissociam com violência da tolerância democrática que sempre norteou os nossos governantes, é de esperar-se que o governo de Jair Bolsonaro se dissocie de tal prática que vai ao arrepio das normas de governos anteriores, contrariada apenas por umas poucas posturas, tomadas por eventuais regimes autoritários, dentre elas tristemente repontando a nefanda entrega de Olga Benário aos carrascos nazistas do regime hitlerista?
          Veja-se agora o exemplo das extradições solicitadas pela ditadura turca de Recep Tayyip Erdogan, que, no Brasil, atinge ao turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi, de 31 anos, que foi preso (!) preventivamente, após pedido de extradição vindo do governo da Turquia. O comerciante Ali Sipahi teme por sua vida - e acompanhando os governos do ditador Erdogan só posso concordar com a sua avaliação.
          Sipahi, a propósito declara: "As decisões judiciais (na Turquia) já estão tomadas. Temo por minha vida. Lá tem torturas, eletrochoque, violações sexuais. Não sei o que vou enfrentar."
         Sipahi, que é dono de um restaurante, está sendo perseguido judicialmente pela ditadura turca por suas convicções políticas.  O seu "crime" é ser adepto das posições políticas do Hizmet, organização do clérigo muçulmano Fethullah Gülen, que vive em exílio - sabem onde? - nos Estados Unidos da América, país que não creio seja conhecido como abrigo de perigosos inimigos da democracia.
          Que pessoas como Sipahi possam ser hoje individuadas no Brasil como elementos perigosos, por professarem o ideal democrático desta personalidade respeitada, que vive sob a proteção estadunidense, me parece algo mais do que preocupante, pois não creio que devamos, como carneiros, aceitar as posturas do tirano Erdogan. A própria firmeza estadunidense em resguardar o asilado Fethullah Gülen já me parece indicação bastante para que o novo governo não tome como norma as posturas e as práticas conhecidas do tirano Erdogan, que como todo ditador teme a democracia e suas liberdades.  

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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