Para
tudo há limites, e tal se aplica no Brasil à opinião política. Se as ditaduras
no passado cometeram a enormidade de livrar brasileiros e estrangeiros à sanha
da repressão de regimes autoritários, em posturas que se dissociam com
violência da tolerância democrática que sempre norteou os nossos governantes, é
de esperar-se que o governo de Jair Bolsonaro se dissocie de tal prática que
vai ao arrepio das normas de governos anteriores, contrariada apenas por umas
poucas posturas, tomadas por eventuais regimes autoritários, dentre elas
tristemente repontando a nefanda entrega de Olga Benário aos carrascos nazistas
do regime hitlerista?
Veja-se agora o exemplo das
extradições solicitadas pela ditadura turca de Recep Tayyip Erdogan, que, no
Brasil, atinge ao turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi, de 31 anos, que foi
preso (!) preventivamente, após pedido de extradição vindo do governo da Turquia.
O comerciante Ali Sipahi teme por sua vida - e acompanhando os governos do
ditador Erdogan só posso concordar com a sua avaliação.
Sipahi, a propósito declara: "As decisões judiciais (na Turquia) já
estão tomadas. Temo por minha vida. Lá tem torturas, eletrochoque, violações
sexuais. Não sei o que vou enfrentar."
Sipahi, que é dono de um restaurante, está sendo perseguido
judicialmente pela ditadura turca por suas convicções políticas. O seu "crime" é ser adepto das posições
políticas do Hizmet, organização do
clérigo muçulmano Fethullah Gülen, que vive em exílio - sabem onde? - nos Estados
Unidos da América, país que não creio seja conhecido como abrigo de perigosos
inimigos da democracia.
Que pessoas como Sipahi possam ser hoje
individuadas no Brasil como elementos perigosos, por professarem o ideal
democrático desta personalidade respeitada, que vive sob a proteção
estadunidense, me parece algo mais do que preocupante, pois não creio que
devamos, como carneiros, aceitar as posturas do tirano Erdogan. A própria
firmeza estadunidense em resguardar o asilado Fethullah Gülen já me parece indicação bastante para que o novo
governo não tome como norma as posturas e as práticas conhecidas do tirano
Erdogan, que como todo ditador teme a democracia e suas liberdades.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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