De nada serviu para o
Presidente Donald Trump ter logrado tornar ilegível a maior parte do relatório
preparado por Robert S Mueller III, com a conivência do establishment parlamentar republicano.
Depois de um longo silêncio (de dois anos) o Procurador Especial comentou sobre a
investigação acerca da influência de Moscou sobre a eleição presidencial
americana de 2016. E recusou-se a inocentar o Presidente Trump, acrescentando
que cabe ao Congresso - e não a ele - indiciar um presidente em exercício de
mandato.
Como seria de esperar, as declarações do
Procurador Especial aumentaram consideravelmente a pressão no sentido do início
de um processo de impeachment na
Câmara de Representantes.
A afirmação de Mueller é inequívoca:
"Como consta no relatório, depois da investigação, se nós tivéssemos tido
a confiança de que o presidente não cometeu nenhum crime, teríamos dito
isso". A declaração em apreço que
veio junto com o anúncio de que ele estava se demitindo do serviço público,
jogou o tema para a competência do Congresso e ressuscitou a questão do impeachment, que vinha perdendo força, com
todas as idas e vindas provocadas pelos republicanos.
A madam Speaker da Câmara de
Representantes, Nancy Pelosi, vem
acalmando os ânimos dentro do Partido
Democrata sobre o impeachment, e ontem
manteve o tom, em sintonia com o presidente do Comitê Judiciário, Jerry Nadler.
Ambos se manifestaram para que o
Congresso aprofunde as investigações sobre o presidente. "Cabe ao Congresso responder às mentiras, crimes e
irregularidades do Presidente",
disse Nadler. Sem embargo, sobre o impeachment
os dois democratas se cingiram a dizer que a opção não está descartada.
Nos últimos dois meses, a sombra da
investigação de Mueller saíu da Casa Branca e passou a pairar sobre os
democratas. Desde que o Procurador Especial concluíu a investigação,a oposição
se vê diante de um impasse. De uma parte, as conclusões são graves o bastante
para que o eleitorado fiel aos democratas e crítico a Trump, deixe a história
para trás. Do outro, líderes do partido
entendem que deixar de debater temas locais para investir no impeachment pode
levar a população à exaustão e, se o processo for malsucedido, os democratas
sairão desgastados às vésperas da eleição.
Dessarte, a despeito de que o Procurador haver deixado claro que não
inocentou o Presidente, Trump voltou a repetir que não foram colhidas provas
suficientes para incriminá-lo. "Nada muda em relação ao relatório de
Mueller. Havia provas insuficientes e, no nosso país, a pessoa é inocente. O
caso está encerrado!, tuitou Trump.
Mueller frisou, no seu pronunciamento,
informações que já constavam do Relatório e afirmou que "existiram
esforços múltiplos e sistemáticos de interferir " nas eleições americanas.
"´É importante que o relatório fale por si. Ele é meu testemunho e não vou
falar nada além do que está escrito nele."
A pressão pelo impeachment
provocou reações na Casa Branca. A porta-voz, Sarah Sanders, disse que o
governo está preparado para isso, mas o "povo americano" não merece
um processo de deposição do presidente. "Cada minuto que o Congresso
gasta nisso, não é gasto em Irã, China, Coreia do Norte, novos acordos
comerciais. É um desserviço" disse.
As declarações da porta-voz não passam de uma instrumentalização um
tanto grosseira sobre o que está acontecendo. Se se trata de um crime, a sua
existência não pode ser varrida para um canto, sob a suposta maior importância
de temas relativos a relações com o exterior.
A possibilidade do impeachment tem sido analisada pela
imprensa estadunidense. Uma das últimas pesquisas mostra que a maioria dos
eleitores democratas apoia a abertura de um processo de impeachment, com base no relatório da investigação. Não obstante, quando são somados os
eleitores republicanos e independentes, 53% são contra o impeachment, 39% são a
favor e 8% estão indecisos.
'Os líderes
democratas na Câmara não querem o impeachment, sabem que precisarão lutar para
manter as cadeiras que ganharam de republicanos em 2018. E o impeachment não
passará no Senado" disse Gary
Nordlinger, professor da Universidade George Washington. "Não é como em
Watergate, onde tínhamos a voz de Richard Nixon gravada planejando obstrução de
Justiça."
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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