Há um ceticismo
prevalente quanto às reais possibilidades do diálogo, promovido pela Noruega,
entre o Chavismo e a Oposição.
Quando tive de afastar-me por certo
tempo do blog, já surgira no
horizonte a iniciativa norueguesa, e a cautela desse modesto espelho de eventos
de importância repontara de forma inequívoca.
No noticiário das agências, passado já
algum tempo, persiste o tom moderadamente otimista que é uma das
pré-condições para a subsistência do exercício.
Assim, a mediação
norueguesa é criticada pelos opositores do chavismo, que acre-ditam não haver
espaço para conversas com Maduro. Reporta-se a posição de Juan Guaidó no início
dos contatos, de que tampouco existe espaço
para negociação com Maduro. Esse
estado de espírito é subscrito pelo próprio Guaidó ao afirmar que todo diálogo
deve desembocar na saída do presidente e na convocação de novas eleições.
Malgrado o discurso duro do início, a
esperança, representada pelo Governo da Noruega, terá influenciado Guaidó a baixar
o tom, até à admissão do envio de representantes
para a Noruega.
Ainda que a desconfiança esteja
compreensivelmente presente, de igual modo a esperança será sempre instrumental
e se empregada com os vezos habituais do chavismo, pode contribuir para ulterior
extensão de prazo.
Tampouco se poderia
agregar a participação de Moscou, a par do oferecido "apoio" de Cuba.
Dada a posição desses países, que são aliados de Maduro (Cuba, em troca do
petróleo que lhe é dado grátis, estará pronta a dispensar todo o apoio que o
ditador venezuelano requerer, desde que não lhe ameace a própria segurança. O
papel de Moscou é diverso, mas favorecerá sempre que possível o regime
chavista, tendo presentes as vantagens e as condições que Maduro, enquanto
estiver em Miraflores, estará pronto a conceder ao protetor Putin).
Gostaria de estar equivocado
nessa questão, mas Nicolás Maduro tem tudo para acreditar que o aliado russo
estará presente, enquanto for possível, pois aproveita a Moscou ter uma espécie
de protetorado na Venezuela, que até não mais ser possível viabilizar-lhe a
sustentação, ou por demasiado onerosa, ou por falta de condições objetivas de
mantê-la de pé, se a degringolada venezuelana prosseguir.
Tudo leva a crer que não será de
maneira indolor a débacle do deformado regime chavista, uma vez internalizadas
as pioras decorrentes da continuada deterioração das condições de vida na
Venezuela.
Posso estar equivocado - e até gostaria
de estar, pelo consequente minorado padecimento para o povo venezuelano - mas
não será com conversações e tratativas estilo
norueguês que Juan Guaidó logrará melhorar a atual situação da gente de seu
país Enquanto o ditador Nicolás Maduro tiver condições de
estender o respectivo regime e a sua consequente permanência no poder, ele
tenderá a continuar a servir-se da tática de engambelar os pacifistas desse
mundo e as esperanças de seus opositores de que algum dia ele vá deixar o poder
(por esfarrapado e cambaleante que esteja), se ainda tiver oportunidade de
manter-se em Miraflores e poder pensar que os militares, com o general Padrino
à frente, ainda acreditem em que vale a pena tolerá-lo, por mais improvável que
com o passar dos meses e de seu consequente e corrupto desgoverno a manutenção
de uma tal anti-situação possa ser visualizada por uma série de fatores, cuja
negatividade o tempo só fará aumentar e tornar ainda improvável a consequente
demora acrescida.
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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