Sob o ceticismo da imprensa, o presidente Jair
Bolsonaro, em reunião no Alvorada com os chefes do Legislativo e do
Judiciário, declarou ontem que não tem interesse em estimular
conflito na relação entre os Poderes da
República.
Recebendo no Palácio da Alvorada os presidentes da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP) e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o Chefe da Nação disse nada ter contra seus
interlocutores. Nesse sentido, o presidente Jair Bolsonaro pediu união em
torno de um leque de medidas para tirar o Brasil do "fundo do poço".
Passados dois dias das manifestações de rua - que sob a iniciativa do
Executivo chamaram às falas os dois outros Poderes - esboçaram no café da manhã um documento sob
título "Pacto pelo Brasil", que classifica as demandas da população
"como o grande farol" da democracia.
"Unidos e acordes, os poderes constituídos da República Federativa
do Brasil se unem em favor do estabelecimento de um novo tempo", reza
trecho do aludido documento.
O plano do Presidente da República é
lançar esse 'acordo de cavalheiros' no próximo dia dez, em cerimônia em grande
estilo, agora no Palácio do Planalto. O escopo seria mostrar para os incréus
que um freio de arrumação, acordado por iniciativa dos Poderes, terá virado a
página da crise.
No entanto, há problemas. Consoante assinala o Estado, o único
entusiasta da proposta, fora o Planalto, é Dias Toffoli. Entrementes, Rodrigo
Maia disse que vai consultar todos os líderes da Câmara antes de assinar o
documento. Alcolumbre, por sua vez, adotou um discurso protocolar sob a
proposta.
A portas fechadas, o Ministro Guedes, da Economia, - também chamado ao
encontro - fez um apelo para que todos insistam
na defesa da Reforma da Previdência. Nesse contexto, o deputado Rodrigo
Maia disse que vai consultar todas as lideranças da Câmara. Recordou, a
propósito, haver pedido para o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), que é o
relator dessa questão, antecipar o parecer
e apresentá-lo na comissão especial antes de quinze de junho. O projeto seria
votar a reforma na Câmara ainda no primeiro semestre. Ainda no contexto, disse
Maia, em entrevista: "Do ponto de vista concreto não há
nenhum movimento da Câmara e do Senado que tenha atrapalhado o governo até agora. Queremos construir com o governo
outras pautas, além da Previdência, que ajudem a tirar o Brasil dessa
inércia", assinalou Maia, em entrevista mais tarde.
Falando sobre o atual
desafio, Guedes admitiu que a aprovação da nova Previdência não basta
para o Brasil superar a crise. Foi então
que Bolsonaro destacou a importância de
uma agenda de medidas microeconômicas para melhorar, v.g., a concessão de créditos.
Nesse quadro, o Ministro da Economia sublinhou que
"Não há antagonismo entre os Poderes. Estamos confiantes de que o
Congresso vai aprovar a reforma", observou o Ministro Guedes. Nesse
contexto, sublinhou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: "O Brasil
precisa de harmonia e os Poderes têm de dialogar a favor do País"
No Congresso,
contudo, as reações à proposta de entendimento, com o seu teor dissonante,
mormente de parte do chamado Centrão,
foram de molde a irritar o Planalto. "Estou achando que esse é um pacto
para inglês ver", assinalou o
deputado Wellington Roberto, líder do PL (ex PR), na Câmara. Nessa mesma linha
protagônica, "Nós não vamos ser submissos. Somos eleitos para votar o que a sociedade clama e não o que
o governo quer". O Deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da Maioria,
foi irônico. "Pacto de quê? Para quem ?"
Cada um é claro, busca valorizar a respectiva
posição e correspondente papel. O Centrão, no entanto, terá decerto presente a
sua responsabilidade no capítulo, e não lhe será prudente fazer-se de
desentendido. A sua proeminência nas votações além de atrair as atenções
gerais, carrega a sua parcela de responsabilidade e não lhe será decerto fácil
dissociar-se em termos de responsabilidade, como aliás o seu incômodo
protagonismo - que lhe foi decerto imposto pelas circunstâncias - não o deixa
em situação de poder mandar vir uma salva com água para que possa lavar as
mãos. A sua presença determinante na matéria já levou a uma concisa
objurgatória em manifestação popular de grande multidão na avenida Paulista,
no centro de São Paulo, a qual resume em poucas e incisivas letras como esse
amálgama de partidos é visto pelo grande público.
(Fontes: O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo. )