A despeito da
resistência do governo da Venezuela e de sua representação nas Nações Unidas, o
Conselho de Direitos Humanos reconheceu, por primeira vez, que a Venezuela vive
"uma crise humanitária". A votação foi marcada por apelo de Brasil,
México e a Europa, contra qualquer iniciativa dos Estados Unidos de recorrer à
intervenção militar para resolver a crise.
Como se sabe tanto a OEA, quanto a Administração Trump vêm levantando a
possibilidade da intervenção contra o ditador Nicolás Maduro. Além das
conversações militares de iniciativa contra o regime de Maduro, que vazaram
nesse mês, houve mesmo contatos com militares venezuelanos que se opõem ao
governo e sobretudo à situação de crise econômica e humanitária que tem forçado
um êxodo em massa de boa parcela da população venezuelana. Como referi em blog anterior, o povo da Venezuela, dada
a penúria, a astronômica hiperinflação, a falta geral de medicamentos e mesmo
de gêneros, vem votando com os pés,
ao buscar em países vizinhos e não tão-vizinhos o minimo existencial que não
mais encontram na sua pátria.
Por enquanto, a maioria dos países
latino-americanos se opõe à intervenção militar na Venezuela, embora não haja
unidade consensual no Grupo de Lima. O
Itamaraty, conforme à tradicional posição contrária do Brasil ao emprego da
força, de que participam muitas - mas
não todas as nações do Continente - se tem negado por ora associar-se, ainda que
retoricamente, a formas mais contundentes de ação contra o regime de Maduro.
Nesse ponto, a OEA mantém posição mais incisiva no capítulo, como o demonstrou recentemente
o Secretário Geral Almagro.
O texto ora aprovado pelo Conselho de Direitos Humanos reconhece, por
primeira vez, que a Venezuela vive "uma
crise humanitária". Na pressão diplomática contra o regime de Nicolás
Maduro - com o seu desrespeito à democracia e aos direitos humanos elementares
- a aprovação de Resolução pelo Conselho de Direitos Humanos não é gesto vazio
e óbvio, pois abre as cancelas para atitudes mais incisivas no plano
internacional. O corrupto governo de
Maduro reconheceu a seriedade da ameaça, e por isso Caracas envidou pressões
para convencer vários países a não apoiar o documento.
O temor de Caracas é de que a crise seja declarada "desastre humanitário", e justifique
a intervenção militar. O regime chavista
- que desde a "eleição" da "Constituinte dos Bairros"
descambara irremediávelmente para a ditadura e a espúria convocação - com amplo recurso à fraude eleitoral para a
"eleição" da dita "Constituinte" - o que é fato comprovado
pela própria firma estrangeira encarregada da instrumentália para arregimentar esse estranho corpo de eleitores.
Não é de resto por acaso que no próprio Brasil houve partido que entoou
loas ao "método" e à própria ideia desse aleijume constitucional,
ignorando adrede que a tal convocação desse organismo espúrio, que é presidido
pela notória "incondicional" Delcy Rodriguez, serviu na prática a
dissolver a Assembleia Legislativa, eleita por todos os venezuelanos, e onde a
oposição era maioria - o que foi a razão precípua da formação da falsa
Constituinte e a clausura na prática da legítima câmara legislativa.
A tropa de choque de Maduro - como o Ministro do Exterior, Jorge Arreaza
- chegou mesmo a criticar o uso dos direitos humanos como arma (sic) para
justificar eventual intervenção. Chegou mesmo a dizer que a assistência
humanitária é cínica, como se fizesse
parte da hipocrisia de uma "guerra econômica".
Dentro
da facúndia desses servos de Maduro, o seu cinismo retórico os leva à audácia
de responsabilizar as sanções americanas e europeias pela crise humanitária.
Perdem, dessarte, qualquer razão nessa
discussão, quando ignoram o mínimo respeito que devem à calamidade trazida
pelo sucessor de Chávez à terra de Bolívar. Ao voltarem para casa deveriam, portanto,
evitar sobremaneira olhar-se no espelho maldito da miséria que Maduro trouxe
para a Venezuela.
( Fonte:
O Estado de S. Paulo )
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