Dado
o tratamento dispensado à conservação do Museu Nacional, na Quinta da Boa
Vista, Rio de Janeiro, restarão acaso dúvidas sobre a qualidade política dos diversos
governos republicanos sobre a preservação de bens nacionais?
E não me refiro decerto às
promessas feitas sob o látego de mais um desastre anunciado.
E logo ao Museu Nacional, de que a
história guarda a torpe maneira com que foi despachado o segundo imperador, que
descera a serra pensando ainda valer-se da habilidade política do Conselheiro
Saraiva, para ao invés ser mandado às carreiras para o exílio, como se fora
alguma potestade de Latino America?
Aos povos que não sabem preservar
as instituições, sejam políticas, sejam culturais, está reservada a servida humilhação
de prato frio da própria ignara estupidez da prolongada desatenção aos bens e
aos monumentos nacionais.
Em meio às lágrimas de crocodilo
dos poderosos da hora, resta à gente brasileira deplorar a própria desventura,
ao ver-se fustigada a respectiva herança por mais um sinistro que costuma ser
cruel e impiedoso?
Queimadas
as cortinas, então se desvenda a fieira de avaras e torpes recusas, quando sob o empurrão da verdade se
desvenda a nossa cultura do Deus Dará,
que é a um tempo torpe o bastante para ignorar a ameaça dos acidentes da sorte,
que se costuma reservar àqueles que mal entendem os monumentos que se acham sob
a própria guarda?
Na dança das verbas se desnuda a
estúpida inação do Deus dará. As
entidades defensoras dos bens culturais nada fazem por preservá-los.
A crueldade dos incêndios é fenômeno que só a crassa estupidez de nada
fazer pela preservação dos bens que o passado nos lega torna possível, negando
por uma nomeação aqui, e por outra acolá, a indispensável proteção ao
insubstituível bem cultural que os
nossos maiores criaram e, por conseguinte, passaram ao futuro a
responsabilidade da preservação.
Para cada protegido, por um lado, e para todo dispêndio do presente, se
recomenda às autoridades da hora que cuidem de proteger os monumentos do
passado. Ao ignorá-los, o responsável da hora corre não pequeno risco, ao
mostrar-se o bastante estúpido para não cuidar de herança que, se parece nos
cair do céu, tem o peso das passadas gerações, que tiveram seja o valor, seja a
sorte de levantá-las.
Aos povos que têm a
desculpa para todos os sinistros na ponta da língua, resta o dúbio consolo do
alheio menosprezo, por não serem sequer capazes de preservar os monumentos da própria
nacionalidade.
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