Há os que reformam para
melhor. Mas na pequena Nicarágua, o ditador Ortega inova ... à sua peculiar
sórdida maneira.
A repressão continua e a todo vapor.
Para intimidar a população, a ditadura sandinista
não se peja de ir muito mais além. O combate àquele que ousou ameaçá-la como
que adentra o campo santo. Assim, os repressores, além de não respeitarem a dor
das famílias enlutadas, levam mais fundo o próprio ódio. A circunstância de ter
perdido um ente querido vira agravante para o bando sandinista.
Nas fachadas das casas enlutadas,
pintam frases como "sabemos onde vocês moram". Ou então o risco
vermelho e preto de um X na calçada, em frente da residência visada. É para
assombrar não com fantasmas, mas para relembrar o 'crime' de ter um parente
próximo abatido pela repressão.
Essa estigmatização não é brincadeira
de mau-gosto, mas o sinistro aviso que, mesmo com a morte de ente querido, os
seus 'crimes' não foram purgados.
Esta é a chamada
"revitimização": depois da morte de manifestante - em geral,
universitário - os apoiadores de Ortega, policiais ou pára-militares, ameaçam os
parentes. Boçais como são, a sutileza não faz parte de suas ações: além de
ameaçarem, nos velórios, aos parentes, chegam a destruir móveis e ornamentos das
mobílias que plangem os mortos.
Yader
Parajón mostra a foto do irmão Jimmy
no celular, mecânico de 35 anos que morreu baleado no peito por policial
quando levava ajuda a estudantes acampados na universidade. Um mês depois,
aparece na calçada da família o X vermelho e preto da Frente Sandinista.
Os protestos - já referidos neste blog - pedem pela partida de Daniel
Ortega, o presidente, e sua mulher e vice, Rosario Murillo. A repressão
já deixou trezentos mortos, entre os quais a brasileira acadêmica de medicina Raynéia Gabrielle Lima, morta a tiros na capital, a 23 de julho, quando
retornava de carro para casa. Yáder e
mais duas ativistas Ariana McGuire e Carolina Hernández, formaram a Caravana
da Solidariedade, que passou por Porto Alegre e Rio de Janeiro, e
chegou a São Paulo no domingo nove de setembro.
Dado o realce que recebeu a Caravana da Nicarágua, Yader pensa solicitar
asilo territorial para um dos países sul-americanos visitados.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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