Trump pode ser um dos presidentes mais desmoralizados em seu primeiro
mandato, como o atesta o artigo anônimo do New
York Times, supostamente da autoria de um membro da equipe presidencial.
Esse editorial que seria da responsabilidade de um adversário secreto de
Donald Trump dentro da própria Casa Branca fez com que o "dono da
casa" prometesse uma busca
implacável para descobrir quem é, na verdade, esse misterioso pinpinela
escarlate que ousa afrontá-lo no centro mesmo do poder do 45º presidente...
A
jogada do Times teria um quê de
pueril, pois um presidente que se desse a si mesmo valor e respeitabilidade não
cairia nesta armadilha.
Procurar freneticamente por esse suposto "traidor" parece
quase brincadeira de criança.
As carantonhas rituais, as ameaças - inclusive para alguém que revisita
a Casa Branca depois de o que levantou de outro desmoralizado antecessor seu,
como Richard Nixon - não devem causar muito medo.
Há, no entanto, uma questão em que este presidente, com todos os seus
colossais defeitos, parece prestes a conseguir, que é a de lograr transformar
a Suprema Corte em baluarte de o que de retrógrado possa existir na sociedade
estadunidense.
Como já assinalei em outro blog,
a falha começou com a timidez de Barack Obama que não soube criar
condições para colocar Merrick Garland no Supremo, não
obstante as suas excelsas qualidades como jurista e a despeito de dispor da
vaga oriunda da morte de Antonin Scalia.
Obama rendeu-se à audácia do líder da maioria republicana no
Senado, Mitch McConnell, que obteve mais pelo
próprio chutzpah de que por argumentos
jurídicos sólidos - faltava-lhe qualquer suporte constitucional - que a vaga no
Supremo só viesse a ser preenchida pelo
próximo presidente. Obama temeu levar
avante um ataque para valer contra a dúbia constitucionalidade de impedir na
prática que o 44º presidente pudesse colocar no Supremo um jurista com plenos
títulos para lá ocupar o lugar a que não só ele, mas a própria Nação americana
reclamava. E o republicano McConnell faria valer na marra que a cadeira deixada
vaga pela morte súbita de Scalia ficasse esperando por um ano que Trump viesse
nomear mais um republicano.
A timidez de Barack Obama viria a permitir que esse presidente, por
infelicidade seu sucessor, e um dos mais
desmoralizados ainda em primeiro mandato, consiga colocar na Corte Suprema dois
conservadores - Neil Gorsuch e, agora,
Brett Kavanaugh - o que há de alterar-lhe
o perfil, tornando-a fundamente contrária ao sentir da sociedade americana, com
todas as suas desastrosas, mas previsíveis consequências para os progressos jurídicos entrementes
alcançados, eis que o inepto Trump, com todas as suas falhas, dispõe agora da
tenebrosa oportunidade de legar para futuro
bastante alentado uma Suprema Corte que promete considerável retrocesso no que
tange às conquistas alcançadas pela sociedade civil americana.
(
Fontes: The New York Times, O Estado de S. Paulo )
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