O palácio da Quinta da Boa Vista, que
abrigava o Museu Nacional, foi destruído por incêndio, causado por secular
negligência. O sinistro leva junto um grande acervo, que o abandono e a incúria
contribuíram para despojar-nos.
Especializado, e o mais antigo centro de
ciência do país, o Museu Nacional completara duzentos anos em junho último, em
situação marcada pelo menosprezo que deriva, sobretudo, da funda
ignorância dos que nos governam, com a sua incapacidade de valorizar tanto a
memória nacional, quanto o próprio acervo cultural.
Infeliz
é o país que negligencia o trabalho de seus maiores, e, por conseguinte, a História
nacional.
Recordo-me de aí estar, quando de minha visita a essa joia que acabamos
de perder. No passado, residência de nossa família real, e em madrugada a ser
esquecida, um tenente fora mandado acordar o imperador d. Pedro II, para
colocá-lo e a sua família na rota do exílio. O arbítrio em geral tem pressa.
Não
era decerto ao exército de Caxias que pertencia o tenente. Depois de mais de
cinquenta anos de reinado, tal seria a gratidão da mãe-pátria com o imperador
filósofo. Não foi tampouco por acaso que lamentara o triste ensejo estadista
argentino que lembrou, com o floreio da ironia, perder então a América Latina a
sua única república...
Não vamos pôr na lata do lixo a
História nacional, que aí vai com H maiúsculo, como se deve, em respeito aos
nossos maiores.
Dinheiro para a manutenção de museus e da memória pátria não são reais
postos fora.
Chega de menosprezo por um passado decerto muito superior à indigência do
presente.
Basta da negligência que é fruto da ignorância de o que fomos. Tratemos
de ser dignos do passado, e, por isso, de ser responsáveis pelo que nos legaram
os nossos maiores.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário