quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A confirmação de Brett Kavanaugh


                 

         Antes considerada favas contadas, a confirmação do juiz Kavanaugh como membro do Supremo tornou-se questão bastante dúbia, com a entrada em cena da Dra Christine Blasey Ford que levantou a acusação de acosso sexual contra esse juiz.
           Tudo indica que a alegada transgressão de Brett Kavanaugh tornou-se um problema bastante mais grave para o Partido Republicano, dada a possibilidade  de efeitos colaterais na disputa das vindouras eleições intermediárias, que levem inclusive a um landslide favorável aos democratas, não só na Câmara de Representantes, mas também no próprio Senado Federal.
            Se a acusação da Dra.Blasey Ford continuar aumentando em força persuasiva, a reação do eleitorado poderá levar de cambulhada várias candidaturas do GOP, mesmo em estados ditos vermelhos[1], considerados por conseguinte estados que votam em geral em representantes (ou senadores) republicanos.
            Há muitos fatores que trabalham por votação pró-democrata tanto na Câmara de Represen-tantes, quanto no Senado. O principal deles está na profunda desmoralização de Trump e de sua Administração, e por isso as eventuais tentativas de avaliar com alguma precisão a intensidade dessa reação tendem a ser assaz difíceis, tantos e tão grandes são os problemas e tropeços registrados pelo 45º presidente. 
              Dentro dessas forças pró-Partido Democrata, e dos eventuais grandes valores  que esse movimento in fieri nos promete,  está o provável retorno de Nancy Pelosi  à cadeira de Speaker da Câmara de Representantes. Como todo grande valor, ela tenderá a trazer de volta a sua capacidade  de presidente da Câmara para a Nação americana, que dela está muito precisada. Se cotejarmos o seu retrospecto como Madam Speaker, diante dos vários Speakers do GOP que intentaram substituí-la, teremos pela frente um fenômeno de mediocridades contrapostas a uma personalidade que além de legar ao Povo Americano grandes conquistas legislativas, como as reformas da Saúde e aquela dos Bancos, tornou possível que a Câmara de Representantes ocupasse um lugar de relevância no universo político americano, e não o de uma simples instância burocrática.

             Assim como a princípio os grandes furacões são por vezes de difícil aferição, não pela circunstância de serem demasiado violentos, mas pelo singelo fato de que a amplitude do respectivo poder de destruição tende a fazer com que as avaliações - mesmo aquelas pós-mediatas - tornam o tétrico registro  do respectivo poder destrutivo ainda de mais árduo cômputo naquelas sombrias jornadas em que essas feras do Caribe ainda não se mostraram em toda a sua hedionda capacidade de deformar e mesmo inviabilizar as construções humanas.
              Por outro lado, ainda não se sabe o que nos reserva o trabalho do Conselheiro Especial Robert Mueller III. Quando uma Administração perde a noção dos elementares cuidados a serem tomados por um governo que não só faça leis, mas que cuide de respeitar aquelas em vigor, um Estado político adentra mares que são ainda mais perigosos - e o que tende a ser ainda pior - que o país pode confrontar-se com uma herança de desrespeito normativo que está suscetível de apresentar questões de ainda mais difícil solução, pela sua carga deletéria de Administrações fundadas em ficções ditas legais, que na realidade dessa dita verdade dela não poderiam estar mais afastadas.

( Fonte: The New York Times )


[1] Por estranha idiossincrasia americana, um estado vermelho não quer dizer um estado socialista ou com tendência radical de esquerda, mas sim um estado que em geral vota pelo GOP (os republicanos adotam a cor vermelha, e os democratas a azul)...

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